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Descriminalizar droga une gestão Lula e FHC
Em evento em SP, ministro Juca Ferreira (Cultura) e ex-presidente defendem abandono da abordagem proibicionista
Para ministro, o consumo de drogas não pode ser visto só na dimensão farmacológica; tucano defende corrente de opinião acima dos partidos
HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
Numa rara convergência entre representantes do governo
Lula e tucanos, o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso e
o atual ministro da Cultura, Juca Ferreira (PV), defenderam
juntos a descriminalização das
drogas. O pretexto foi o lançamento do livro "Drogas e Cultura: Novas Perspectivas", organizado por Beatriz Labate e
outros e financiado pelo MinC.
Tanto FHC quanto Juca Ferreira enfatizaram que a abordagem proibicionista, a "guerra às
drogas", fracassou e que é necessário mudar o paradigma,
retirando o problema da alçada
penal e adotando uma abordagem que Ferreira chamou ontem de "biopsicossocial".
A ideia do ministro é que o
consumo de drogas, que existe
em praticamente todas as sociedades humanas, não pode
ser visto de modo estanque ou
apenas em sua dimensão farmacológica. Para ele, as drogas
devem ser analisadas no contexto cultural em que ocorrem,
o qual pode até mesmo modular os efeitos do fármaco nos indivíduos. Para ele, é preciso valorizar o papel das ciências humanas no estudo das drogas.
Já o ex-presidente ressaltou
o perigo que a vinculação entre
drogas ilícitas, tráfico de armas
e política representa para a democracia. Também explicou
por que se converteu à causa da
descriminalização apenas depois de ter deixado o poder: admitiu que não tinha tanta noção da complexidade do problema e queixou-se da "terrível
pressão" dos EUA e da ONU para que os países se embrenhassem na "guerra às drogas".
Engrossaram o coro da descriminalização o antropólogo
Edward McRae, co-organizador do livro, e o coronel Jorge
da Silva, que descreveu sua trajetória de alguém que defendia
-e aplicava- as teses proibicionistas até converter-se num
advogado da despenalização.
Os participantes do evento
-no Centro Cultural São Paulo, com a presença de representantes da prefeitura do DEM-
também concordaram que o
caminho para a mudança requer um novo consenso.
Para FHC, é preciso que surja
uma corrente de opinião acima
dos partidos. Segundo Ferreira,
a própria cultura é o campo de
negociação social. O fato de não
haver na mesa nenhum adversário da descriminalização não
parecia incomodar nem os participantes nem o público.
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