São Paulo, quinta-feira, 24 de março de 2011

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ANÁLISE

Medida mexe em modelo anacrônico de dados criminais

LUIS FLÁVIO SAPORI
ESPECIAL PARA A FOLHA

A despeito da crise geradora de tal medida, deve-se reconhecer o mérito da decisão do governo paulista de institucionalizar a divulgação das estatísticas criminais ao nível intramunicipal.
Nenhum outro governo estadual teve a coragem e a ousadia de fazer o mesmo. E não se pode alegar que seja questão de atraso tecnológico. Minas Gerais e Rio de Janeiro, por exemplo, já dispõem de dados de incidência criminal georreferenciados para muitos de seus municípios.
São Paulo será o primeiro a dar transparência a uma série de informações criminais que raramente chegam ao conhecimento do cidadão.
Profissionais e autoridades da segurança pública no Brasil, em sua maioria, costumam argumentar que as estatísticas criminais devem ser administradas sob a perspectiva do "relativo sigilo".
Os bons resultados no controle da criminalidade dependeriam, sob tal ponto de vista, do pragmatismo da gestão, de modo que seria adequado manter o controle sobre informações atinentes só aos interesses do Estado.
Eis um exemplo de gestão da informação inspirada em Sun Tzu [general chinês do século 4º a.C. que escreveu "A Arte da Guerra"]!
Essa visão conservadora e ultrapassada conforma um modelo de gestão da segurança pública que se pauta apenas pelo gerenciamento de crises, raramente usando dados criminais para a feitura de diagnósticos da realidade e a subsequente formulação de planos de ação.
Para essa turma, criar ferramentas de gestão por resultados amparadas no acompanhamento sistemático de indicadores de criminalidade, no tempo e no espaço, é "coisa de outro mundo".
Para essa turma, compromisso com a transparência e "accountability" dos dados criminais é coisa de "teóricos" da segurança pública.
Pois bem, essa turma e seu modelo anacrônico de gestão da segurança é que têm mantido o Brasil entre os países mais violentos do mundo nas últimas décadas.

LUIS FLÁVIO SAPORI é professor da PUC-MG e coordenador do Instituto Minas Pela Paz


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