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TRIBUTOS
Cidades vizinhas da capital favorecem surgimento de escritórios virtuais para empresas pagarem menos imposto
Disputa por ISS cria paraísos fiscais em SP
CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Interessadas em aumentar a arrecadação de ISS (Imposto sobre
Serviços), algumas cidades da
Grande São Paulo estimulam a
criação de empresas dentro dos limites de seus territórios sem que
elas desenvolvam qualquer atividade econômica no município.
Isso ocorre porque as empresas
recolhem o imposto no local onde, pelo menos oficialmente, estão instaladas. Como as alíquotas
desses vizinhos da capital paulista
são, muitas vezes, bem menores
-0,3% em Carapicuíba, por
exemplo, contra 5% em São Paulo-, a transação interessa a empresários e prestadores de serviço.
Para que a companhia não necessite transferir de fato a sua sede
para fora da capital, a tática é a seguinte: para usufruir da alíquota
menor, ela adota o endereço de
um escritório -geralmente de
contabilidade - como domicílio
fiscal. Com isso, torna-se uma
"empresa virtual" e funciona em
um "escritório virtual".
O resultado tem sido positivo
para esses municípios (espécie de
paraísos fiscais) e incomoda a
Prefeitura de São Paulo, que promete pedir a ação do Ministério
Público contra essa prática. Em
São Paulo, o ISS foi responsável
por 50,98% da receita tributária
da prefeitura em 2001.
Na tentativa de minimizar os
efeitos dessa guerra, os deputados
aprovaram ontem projeto que fixa em 2% a alíquota mínima do
ISS para os municípios. O projeto
agora vai para o Senado.
Peso na economia
Em 2000, de acordo com o
BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), o ISS representou 0,6% do
PIB (Produto Interno Bruto). Na
década de 80, era 0,3%. Há dois
anos, a carga tributária total no
Brasil atingiu 32,6% do PIB (soma
total das riquezas produzidas no
país, equivalente, na oportunidade, a R$ 1,086 trilhão).
Como a fiscalização do ISS é feita pelos municípios, dificilmente
há punição pelo fato de essas empresas não existirem de fato.
Além disso, o Estado também não
fiscaliza, uma vez que, como seu
principal tributo é o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), não importa
em qual cidade é recolhido.
Em Carapicuíba, por exemplo,
um decreto de 18 de janeiro de
2000 do ex-prefeito Jorge Ikeda
(PFL), que tornou legal a instalação de escritórios virtuais na cidade, possibilita que empresas que
prestam serviço em outros municípios possam se utilizar do endereço de um desses espaços para
ganhar vida e, com isso, passarem
a recolher o ISS na cidade.
Desde que a lei passou a valer, o
município já contabilizou a instalação de 12 escritórios virtuais,
que atraíram mais de mil empresas e prestadores de serviços interessados em pagar menos ISS,
conforme informou o diretor administrativo da prefeitura, Paulo
Gomes. Em um único endereço é
possível "localizar" dezenas de
contribuintes. Um escritório de
contabilidade na cidade tem pelo
menos 20 clientes.
O decreto define escritório virtual como "estabelecimento prestador de serviços que, através de
uma central de negócios, fornece
suporte empresarial mediante locação ou sublocação de bens móveis e imóveis, constituindo-se
em salas executivas e de reuniões,
mobiliadas para utilização como
escritório, devidamente regularizada nos termos deste decreto".
Para ter direito a se inscrever como escritório virtual, o interessado tem de oferecer um local com
recepção, linha telefônica, microcomputador, máquina de escrever, escrivaninhas e fax.
A assessoria de imprensa da
Prefeitura de Carapicuíba informou que a atual administração
pretende manter o decreto em vigor porque contribuiu para aumentar a arrecadação. A prefeitura não informou qual foi o ganho
de arrecadação com a nova lei.
Em Barueri, o prefeito Gilberto
Macedo Gil Arantes (PFL) está finalizando uma minuta de projeto
de lei para regulamentar a existência de escritórios virtuais. Mesmo sem uma legislação específica,
de 1997 a 2001 a cidade aumentou
em 61,5% o número de contribuintes. A maioria das alíquotas
de ISS na cidade é de 0,5%.
Para convencer empresas a mudar de São Paulo, os escritórios
enviam material via mala-direta
no qual deixam claro as vantagens
que terão e destacam a diferença
da alíquota do ISS. "Você não gasta nada com instalação, não gasta
com empregados e encargos sociais no local e economiza 99,7%
de ISS", diz um dos panfletos.
Colaborou SÍLVIA CORRÊA, da Reportagem Local
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