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Sete educadores ouvidos pela Folha afirmam que é comum encontrar vícios de linguagem típicos da internet em redações feitas por alunos em colégios
Pq jovens tc axim?
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Quando surgiu, a linguagem típica dos jovens na internet -onde aqui vira "aki", não é "naum" e
beleza é "blz"- parecia estar restrita aos chats, blogs e ICQs. O uso
do "internetês", no entanto, já começa a influenciar a escrita de
adolescentes em sala de aula e
preocupa educadores.
De 12 escolas particulares do
Rio e de São Paulo consultadas
pela Folha, sete afirmaram que vícios típicos da internet já são comuns em redações e trabalhos,
três disseram que eles aparecem
raramente e somente duas nunca
identificaram esse tipo de erro.
O uso dessa linguagem, com total desrespeito às normas cultas,
não é uma invenção brasileira. Ela
é fruto da primeira geração de jovens que foi alfabetizada ao mesmo tempo em que aprendia a se
comunicar pela internet. A necessidade de conversar usando o teclado do computador de forma
ágil fez com que, rapidamente, o
"internetê" se alastrasse em quase
todos os grupos de adolescentes
com acesso à internet.
Os educadores ouvidos pela Folha foram unânimes em afirmar
que não cabe à escola punir ou
tentar proibir que, entre eles, os
adolescentes se comuniquem assim. O risco, apontam todos, é de
eles usarem essa linguagem em
ambientes onde ela não é adequada, como é o caso das escola.
Reação
Para "reagir" à entrada do internetês na sala de aula, alguns estabelecimentos de ensino têm adotado soluções criativas. No colégio Humboldt, de São Paulo, o
problema foi identificado quando
a escola pediu que seus alunos escrevessem cartas para estimular o
diálogo com os estudantes de
uma escola pública vizinha.
"A coordenadora da escola municipal nos ligou dizendo que estava havendo um problema de comunicação, já que muitos alunos
de lá não entendiam a linguagem
cifrada dos estudantes que têm
acesso à internet. Isso aconteceu
em mais da metade dos bilhetes e
muitos tiveram que ser reescritos", conta Lucy Wenzel, coordenadora do ensino fundamental do
Humboldt.
A partir deste problema, o colégio sugeriu que os professores trabalhassem essa questão em sala
de aula. "Quisemos mostrar que,
na internet, essa linguagem entre
eles é adequada, mas, na escola,
deve-se usar a língua padrão",
afirma Wenzel.
Atividade parecida foi feita pela
professora de redação e literatura
Muna Omran, da escola Dínamis,
do Rio. Ela afirma que já percebe
com freqüência erros de ortografia típicos do "internetês" em trabalhos escolares. Para evitá-los,
pediu que os alunos construam
um texto nessa linguagem e que,
depois, o "traduzam".
Na escola Parque, do Rio, o professor de literatura João Guilherme Quental resolveu atacar o problema no campo do "inimigo" e
criou uma comunidade na internet para que os alunos troquem
mensagens e poemas.
"A contaminação [do internetês] já é visível e aparece até em
provas de vestibular, mas não
adianta proibir os alunos de se expressarem assim. O que fizemos
foi criar uma comunidade na internet onde eles têm total liberdade para escrever. Aos poucos, os
alunos vão percebendo que aquela linguagem tem uma limitação e
que só funciona num certo meio e
para um certo tipo de interlocutor", diz Quental.
As escolas já percebem também
que o "internetês" está sendo usado em troca de bilhetes e mensagens por escrito. "Em qualquer
bilhete, os alunos já utilizam esse
tipo de linguagem. Isso acaba influenciando a escrita", diz Carla
Tullio, professora de português e
informática do colégio Santo
Américo, de São Paulo.
Os professores contam que ainda é muito raro encontrar um aluno que escreva toda a redação
nessa nova linguagem vinda da
internet. O mais comum é o uso
inconsciente de acho com xis,
aqui com "k", você como "vc" e
até mesmo não como "naum".
A intensidade desses erros depende muitas vezes do grau de facilidade que o estudante tem com
a norma culta. "Em alunos que já
apresentam mais dificuldade, essa situação é mais grave", conta a
professora de português Luci Prudente de Mello, do colégio Assunção, de São Paulo.
Apesar de todo o esforço para
impedir que o "internetês" chegue às escolas, todos os colégios
ouvidas pela Folha deixam claro
que de nada adianta satanizar a
nova linguagem. Quando procuradas pelos pais, a recomendação
dada, em geral, é entender que isso não é um problema, desde que
fique restrito a um ambiente onde
essa linguagem é adequada.
"Outro dia, um pai falou que iria
proibir o filho de usar o computador. Disse que era bobagem, que o
filho dele sabia mais do que ele. É
uma nova linguagem que é legítima", afirma o coordenador de ensino fundamental do colégio Ítaca, de São Paulo.
Mesma opinião tem Francisco
Aguirra, coordenador pedagógico do colégio I.L.Peretz, também
de São Paulo. "Tentamos mostrar
aos pais que seus filhos estão utilizando outra linguagem. Eles falam "olha como meu filho está escrevendo, que horror", mas os alunos já sabem que aqui na escola
não é permitida a utilização desse
código".
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