São Paulo, terça-feira, 24 de abril de 2007

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Paralisação política afeta 780 mil pessoas

Metroviários e motoristas de ônibus de SP atrasaram a saída para pressionar o Congresso em votação de questão trabalhista

Tribunal do Trabalho deve multar os metroviários em R$ 100 mil; prefeito disse que empresas de ônibus também serão punidas

Caio Guatelli/Folha Imagem
Trânsito congestionado na marginal Pinheiros, na altura do Cebolão, durante a manhã de ontem


AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL

Cerca de 600 mil usuários de ônibus e outros 180 mil de metrô foram prejudicados com a paralisação realizada por motoristas de ônibus e metroviários no início da manhã de ontem em São Paulo. Os metroviários devem ser multados em R$ 100 mil por descumprir decisão do TRT (Tribunal Regional do Trabalho) de manter 80% da operação fora do horário de pico, entre as 4h30 e as 6h. O prefeito Gilberto Kassab (DEM, ex-PFL) disse que as empresas que não colocaram sua frota na rua no horário previsto também serão punidas. "É uma obrigação das concessionárias [empresas de ônibus] e das permissionárias [perueiros] colocar a frota na rua." Kassab não disse quais empresas serão multadas nem os valores das multas. Segundo ele, os valores serão calculados com base nos contratos.
Os demais moradores da cidade sofreram com o congestionamento -às 7h30 havia 80 km de lentidão, quando a média para o horário é 46 km. A paralisação não teve motivação salarial. Foi uma manifestação contra a eventual derrubada pelo Congresso do veto do presidente Lula à emenda 3. A medida estabelece que só cabe à Justiça, e não a auditores fiscais, decidir se um contrato de prestação de serviço encobre uma relação trabalhista. Os críticos da emenda consideram-na um favorecimento para que os empregadores contratem sem registro em carteira.
Para o governador José Serra (PSDB), trata-se de uma "greve política, que não tem nada a ver com as condições de trabalho do pessoal do metrô e dos ônibus." "É uma greve eminentemente política, para servir a sindicatos, não para servir nem à população nem aos trabalhadores. E que causa prejuízo aos trabalhadores que precisam do transporte para ganhar o seu pão de cada dia", disse.
"O prejuízo em matéria de infelicidade das pessoas é difícil de medir", disse Serra. "Esse é o [prejuízo] maior de todo." "Toda manifestação que os metroviários fazem eles dizem que é política. Se defender os direitos dos trabalhadores é ser político, nós sempre vamos fazer manifestação política", afirmou o presidente do Sindicato dos Metroviários, Flávio Godoi. Para ele, a categoria está lutando pelos direitos de todos os trabalhadores. "Estamos lutando contra a política de voltar o trabalho escravo no Brasil."

Atrasos
Os ônibus e trens do metrô atrasaram a saída em cerca de duas horas -no caso dos ônibus, apenas as viações Gato Preto e Santa Brígida, que atuam na região noroeste da cidade, operaram parcialmente. Em dias normais, as estações de metrô começam a operar às 4h30. Ontem, passaram a funcionar a partir das 6h. Já os ônibus atrasaram a saída, que deveria ser às 3h30, para as 6h.
O TRT notificou ontem mesmo os metroviários em razão do descumprimento de uma de suas determinações, de manter 80% da operação fora do horário de pico, entre as 4h30 e 6h. Havia também a ordem judicial para que o metrô funcionasse normalmente nos horários de pico, o que ocorreu.
"Não concordamos com a liminar nem com a multa. Nosso departamento jurídico vai nos defender", disse Manuel Xavier Lemos Filho, diretor do sindicato. Sobre a multa, ele afirmou que os metroviários avaliaram que um prejuízo maior "seria perder os direitos trabalhistas".
Colaborou EVANDRO SPINELLI, da Reportagem Local


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