|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Falta estrutura para detectar tremores no país, diz especialista
Chefe do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília diz que o país vive um surto de sismos, com mais terremotos
Professor propõe 40 novas estações para acompanhar tremores pelo país; as cerca de 50 que existem hoje são próximas a hidrelétricas
JOHANNA NUBLAT
LETÍCIA SANDER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Brasil vive um surto de sismos, com aumento da freqüência de terremotos, segundo Lucas Vieira Barros, chefe do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília. Mas o observatório, centro de referência
no país no assunto, tem capacidade limitada de acompanhamento do fenômeno e carece de
equipamentos modernos.
De acordo com Barros, tremores de baixa intensidade
-entre dois e três graus na escala Richter- em locais remotos, como a Amazônia, por
exemplo, não são detectados
pelo observatório. Esses pequenos terremotos podem prenunciar um grande sismo.
Por volta das 21h de anteontem, um tremor de terra de 5,2
graus na escala Richter assustou moradores de São Paulo,
Rio, Paraná e Santa Catarina.
Com epicentro na costa brasileira, a cerca de 270 km da capital paulista, o terremoto foi
considerado moderado por
cientistas e geólogos do país.
Tremores de magnitude
mais alta ou moderada se tornaram mais freqüentes, principalmente no litoral sul do país,
diz. Ele, porém, não sabe estimar o percentual de aumento
das ocorrências nem o período
em que teria acontecido.
"Estamos vivendo talvez um
surto sísmico no país, com a liberação de energia acumulada
há muito tempo. Os sismos
acontecem em função dessas
forças [das placas tectônicas] e
em regiões de fraqueza, onde as
rochas podem se romper."
Barros afirma que é possível
que um novo terremoto -de
igual, menor ou maior magnitude do que ocorreu anteontem- volte a acontecer no país
num intervalo curto de tempo.
Outra possibilidade apontada por Barros é de um tremor
de grandes proporções ocorrer.
Não é possível descartar essa
hipótese, segundo ele, porque
os registros de terremotos existem há cerca de cem anos e alguns ciclos de sismos são superiores a esse período.
"Infelizmente não temos informações para dizer que um
sismo de sete graus não possa
ocorrer. Um sismo desse pode
ter ciclo de 400 anos de repetição." O maior terremoto registrado no Brasil foi de 6,2 graus,
em Mato Grosso, em 1955.
Estrutura
A proposta do professor para
ampliar a capacidade de acompanhamento dos tremores é
distribuir 40 novas estações, de
maneira uniforme pelo país. De
acordo com ele, hoje o Brasil já
tem cerca de 50 estações, mas
elas estão concentradas em regiões próximas a usinas hidrelétricas e não transmitem as informações em tempo real. Apenas em quatro locais, há equipamentos modernos e com
transmissão imediata.
"Aumentaria a eficiência do
monitoramento. A rede permitiria uma cobertura uniforme
do país, o que seria importante
para determinar as fontes sísmicas no Brasil."
Ele participou de reunião ontem no GSI (Gabinete de Segurança Institucional), da Presidência da República, para tratar de uma parceria para a
construção dessa rede sismográfica nacional. O projeto é estimado em US$ 1 milhão. Segundo o professor, a Presidência foi receptiva. A reunião já
havia sido marcada antes mesmo do terremoto de terça-feira.
Texto Anterior: Há 50 Anos Próximo Texto: Aparelho em banheiro detectou abalo, diz aluno Índice
|