São Paulo, quinta-feira, 24 de abril de 2008

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Tremor liberou energia de 1 bomba atômica

Terremoto de 5,2 graus que atingiu 4 Estados foi equivalente a 20 mil toneladas de dinamite; epicentro em alto-mar evitou tragédia

Tipo de sensação variou de acordo com a distância do epicentro do abalo, o tipo de solo e o andar do prédio em que se estava

LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

Foi como se uma bomba atômica convencional, do mesmo tipo que os Estados Unidos detonaram no Novo México em 1945, tivesse explodido no litoral de São Paulo. O terremoto de 5,2 graus na escala Richter, que assustou moradores em quatro Estados, balançou edifícios e provocou rachaduras em alguns imóveis, liberou energia equivalente a 20 mil toneladas de dinamite. Não virou tragédia porque o epicentro estava em alto-mar, a 10 km de profundidade e a 215 km da cidade mais próxima (São Vicente).
Os efeitos foram sentidos -não de forma homogênea- em um círculo com raio de 300 a 400 km, abrangendo os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina.
Distância do epicentro, tipo de solo e estar em um andar alto ou baixo de um edifício foram os fatores mais importantes para determinar o tipo de "sensação do terremoto" que se teve. Segundo o professor Marcelo Assumpção, do Instituto Astronômico e Geofísico da USP, moradores de bairros localizados sobre solos mais firmes, de granito, como o que existe na região da Cantareira, no norte da cidade, sentiram menos os efeitos do tremor -como se suas casas estivessem apoiadas em âncoras firmes. Já em áreas com solos arenosos e argilosos, mais moles, os efeitos do tremor foram amplificados, como se pôde observar em bairros que margeiam os rios Pinheiros e Tietê.
A variável "andar do prédio" é explicada pelo geofísico Marlon Pirchiner Moreira, do grupo de Sismologia do IAG-USP. Segundo ele, os prédios funcionam como "pêndulos invertidos", de modo que uma vibração que, na base do edifício, tenha um centímetro de amplitude, no alto do prédio poderá amplificar-se para 20 centímetros. "Obviamente, os efeitos sobre as pessoas e objetos também serão maiores nos andares mais elevados", diz.
Segundo Assumpção, a causa mais provável do terremoto é uma "quebra" na camada de granito que fica abaixo do assoalho oceânico. O fenômeno é velho conhecido -a área na costa de São Paulo caracteriza-se pela alta freqüência de pequenos tremores (de 3 a 4 graus na escala Richter).
Para Assumpção, a origem dessa instabilidade remonta a 130 milhões de anos atrás, quando a África começou a se "descolar" da América do Sul, no fenômeno conhecido como "deriva dos continentes". "Nesse descolamento, a crosta granítica espichou-se e afinou demais", diz. "Se em outras partes do planeta a crosta granítica tem espessuras de até 40 km, nesse trecho da costa brasileira limitou-se a 10 km." O quadro de instabilidade é agravado pela deposição de milhões de toneladas de sedimentos jogados pelos rios que cortam o Sudeste (que originaram a camada sedimentar com cerca de 8 km de espessura, incluindo a bacia onde se acha o petróleo recém-anunciado pela Petrobras).
O excesso de peso sobre o granito afinado gera uma tensão localizada, seguida de fratura. Essa foi a mecânica do terremoto de anteontem.
A expectativa de Assumpção é que outro terremoto como esse só aconteça em cerca de 20 anos. "Tem sido esse o padrão da região", tranqüiliza.


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