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Tremor liberou energia de 1 bomba atômica
Terremoto de 5,2 graus que atingiu 4 Estados foi equivalente a 20 mil toneladas de dinamite; epicentro em alto-mar evitou tragédia
Tipo de sensação variou de acordo com a distância do epicentro do abalo, o
tipo de solo e o andar do prédio em que se estava
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
Foi como se uma bomba atômica convencional, do mesmo
tipo que os Estados Unidos detonaram no Novo México em
1945, tivesse explodido no litoral de São Paulo. O terremoto
de 5,2 graus na escala Richter,
que assustou moradores em
quatro Estados, balançou edifícios e provocou rachaduras em
alguns imóveis, liberou energia
equivalente a 20 mil toneladas
de dinamite. Não virou tragédia
porque o epicentro estava em
alto-mar, a 10 km de profundidade e a 215 km da cidade mais
próxima (São Vicente).
Os efeitos foram sentidos
-não de forma homogênea-
em um círculo com raio de 300
a 400 km, abrangendo os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina.
Distância do epicentro, tipo
de solo e estar em um andar alto ou baixo de um edifício foram os fatores mais importantes para determinar o tipo de
"sensação do terremoto" que se
teve. Segundo o professor Marcelo Assumpção, do Instituto
Astronômico e Geofísico da
USP, moradores de bairros localizados sobre solos mais firmes, de granito, como o que
existe na região da Cantareira,
no norte da cidade, sentiram
menos os efeitos do tremor
-como se suas casas estivessem apoiadas em âncoras firmes. Já em áreas com solos arenosos e argilosos, mais moles,
os efeitos do tremor foram amplificados, como se pôde observar em bairros que margeiam
os rios Pinheiros e Tietê.
A variável "andar do prédio"
é explicada pelo geofísico Marlon Pirchiner Moreira, do grupo de Sismologia do IAG-USP.
Segundo ele, os prédios funcionam como "pêndulos invertidos", de modo que uma vibração que, na base do edifício, tenha um centímetro de amplitude, no alto do prédio poderá
amplificar-se para 20 centímetros. "Obviamente, os efeitos
sobre as pessoas e objetos também serão maiores nos andares
mais elevados", diz.
Segundo Assumpção, a causa
mais provável do terremoto é
uma "quebra" na camada de
granito que fica abaixo do assoalho oceânico. O fenômeno é
velho conhecido -a área na
costa de São Paulo caracteriza-se pela alta freqüência de pequenos tremores (de 3 a 4 graus
na escala Richter).
Para Assumpção, a origem
dessa instabilidade remonta a
130 milhões de anos atrás,
quando a África começou a se
"descolar" da América do Sul,
no fenômeno conhecido como
"deriva dos continentes". "Nesse descolamento, a crosta granítica espichou-se e afinou demais", diz. "Se em outras partes
do planeta a crosta granítica
tem espessuras de até 40 km,
nesse trecho da costa brasileira
limitou-se a 10 km." O quadro
de instabilidade é agravado pela deposição de milhões de toneladas de sedimentos jogados
pelos rios que cortam o Sudeste
(que originaram a camada sedimentar com cerca de 8 km de
espessura, incluindo a bacia
onde se acha o petróleo recém-anunciado pela Petrobras).
O excesso de peso sobre o
granito afinado gera uma tensão localizada, seguida de fratura. Essa foi a mecânica do terremoto de anteontem.
A expectativa de Assumpção
é que outro terremoto como esse só aconteça em cerca de 20
anos. "Tem sido esse o padrão
da região", tranqüiliza.
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