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Motoboy foi torturado por PMs, diz secretário
"Não temos dúvida alguma de que ele sofreu tortura, e que foi a tortura que levou o rapaz à morte", afirma Ferreira Pinto
Para o titular da Segurança Pública, violência ocorreu numa edícula de prédio da PM; caso irrita governador e faz PSDB temer uso eleitoral
MARIO CESAR CARVALHO
AFONSO BENITES
DA REPORTAGEM LOCAL
O secretário de Estado da Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto, disse ontem não ter
dúvidas de que a morte do motoboy Eduardo Luís Pinheiro
dos Santos, 30, no último dia 9,
na zona norte de São Paulo, foi
resultado das torturas que ele
sofreu de policiais militares.
"Não temos dúvida alguma
de que ele sofreu tortura, e que
foi a tortura que levou o rapaz a
óbito", disse. Nove policiais militares foram presos anteontem
suspeitos de terem participado
da tortura do motoboy dentro
de uma sede de companhia da
Polícia Militar na Casa Verde.
O caso mobilizou o comando
da PM, virou alvo de ao menos
duas frentes de investigação
-na Corregedoria da PM e na
Polícia Civil- e, segundo Ferreira Pinto, irritou o governador Alberto Goldman (PSDB) e
seu partido, que temem a exploração eleitoral do episódio.
Segundo a Corregedoria,
Santos foi preso por volta das
20h50 do dia 9 quando discutia
com três pessoas na avenida
Casa Verde -o motivo teria sido o furto da bicicleta do filho.
Em vez de serem levados a
uma delegacia, foram parar na
1ª Companhia do 9º Batalhão
da PM, que fica ao lado do 13º
Distrito Policial, na Casa Verde.
Após pouco mais de duas horas,
três foram liberados sem que
ao menos um boletim de ocorrência fosse feito no DP ao lado.
O motoboy, que, conforme a
PM, estava mais exaltado que
os outros, acabou ficando detido por mais tempo. Ele chegou
a discutir com um policial e
aplicou uma rasteira nele -o
que teria iniciado as agressões.
Por volta da 0h10 do dia seguinte, PMs da mesma companhia informaram à central que
haviam localizado um homem
caído na avenida Voluntários
da Pátria, na esquina com a
Brás Leme -um dos pontos
mais movimentados de Santana, também na zona norte-,
atrás de uma banca de jornais.
Levado ao pronto-socorro do
bairro pela PM, chegou morto,
com vários hematomas e traumatismo craniano. Perto das
2h15, os policiais comunicaram
a morte ao 13º DP. Três dias depois do crime, a família do motoboy foi a uma delegacia e registrou que ele havia desaparecido. No dia 14, acharam o corpo no Instituto Médico Legal.
Ferreira Pinto afirma que as
investigações do DHPP (Departamento de Homicídios e
Proteção à Pessoa) apontam
que a cena da morte na rua foi
"montada" pelos policiais. Segundo ele, o local em que o motoboy sofreu maus-tratos foi
uma edícula no prédio da PM.
Ferreira Pinto diz que Goldman ficou "indignado" com a
morte e pediu uma apuração rigorosa do caso. A Folha apurou
que, no PSDB, há o temor de
que o episódio seja usado na
campanha eleitoral contra o
candidato tucano, José Serra.
Outro lado
À Corregedoria os detidos
negaram participação no crime. Disseram que dispensaram
os quatro envolvidos na briga e,
só mais tarde, encontraram
Santos no chão. Os PMs disseram que, ao acharem o motoboy caído, não conseguiram
identificá-lo como a pessoa que
havia sido presa mais cedo.
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