São Paulo, sábado, 24 de abril de 2010

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Motoboy foi torturado por PMs, diz secretário

"Não temos dúvida alguma de que ele sofreu tortura, e que foi a tortura que levou o rapaz à morte", afirma Ferreira Pinto

Para o titular da Segurança Pública, violência ocorreu numa edícula de prédio da PM; caso irrita governador e faz PSDB temer uso eleitoral

MARIO CESAR CARVALHO
AFONSO BENITES
DA REPORTAGEM LOCAL

O secretário de Estado da Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto, disse ontem não ter dúvidas de que a morte do motoboy Eduardo Luís Pinheiro dos Santos, 30, no último dia 9, na zona norte de São Paulo, foi resultado das torturas que ele sofreu de policiais militares.
"Não temos dúvida alguma de que ele sofreu tortura, e que foi a tortura que levou o rapaz a óbito", disse. Nove policiais militares foram presos anteontem suspeitos de terem participado da tortura do motoboy dentro de uma sede de companhia da Polícia Militar na Casa Verde.
O caso mobilizou o comando da PM, virou alvo de ao menos duas frentes de investigação -na Corregedoria da PM e na Polícia Civil- e, segundo Ferreira Pinto, irritou o governador Alberto Goldman (PSDB) e seu partido, que temem a exploração eleitoral do episódio.
Segundo a Corregedoria, Santos foi preso por volta das 20h50 do dia 9 quando discutia com três pessoas na avenida Casa Verde -o motivo teria sido o furto da bicicleta do filho.
Em vez de serem levados a uma delegacia, foram parar na 1ª Companhia do 9º Batalhão da PM, que fica ao lado do 13º Distrito Policial, na Casa Verde. Após pouco mais de duas horas, três foram liberados sem que ao menos um boletim de ocorrência fosse feito no DP ao lado.
O motoboy, que, conforme a PM, estava mais exaltado que os outros, acabou ficando detido por mais tempo. Ele chegou a discutir com um policial e aplicou uma rasteira nele -o que teria iniciado as agressões.
Por volta da 0h10 do dia seguinte, PMs da mesma companhia informaram à central que haviam localizado um homem caído na avenida Voluntários da Pátria, na esquina com a Brás Leme -um dos pontos mais movimentados de Santana, também na zona norte-, atrás de uma banca de jornais.
Levado ao pronto-socorro do bairro pela PM, chegou morto, com vários hematomas e traumatismo craniano. Perto das 2h15, os policiais comunicaram a morte ao 13º DP. Três dias depois do crime, a família do motoboy foi a uma delegacia e registrou que ele havia desaparecido. No dia 14, acharam o corpo no Instituto Médico Legal.
Ferreira Pinto afirma que as investigações do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) apontam que a cena da morte na rua foi "montada" pelos policiais. Segundo ele, o local em que o motoboy sofreu maus-tratos foi uma edícula no prédio da PM.
Ferreira Pinto diz que Goldman ficou "indignado" com a morte e pediu uma apuração rigorosa do caso. A Folha apurou que, no PSDB, há o temor de que o episódio seja usado na campanha eleitoral contra o candidato tucano, José Serra.

Outro lado
À Corregedoria os detidos negaram participação no crime. Disseram que dispensaram os quatro envolvidos na briga e, só mais tarde, encontraram Santos no chão. Os PMs disseram que, ao acharem o motoboy caído, não conseguiram identificá-lo como a pessoa que havia sido presa mais cedo.


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