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VIOLÊNCIA
Uma creche e quatro colégios protegem as crianças quando há fugas no 48º Distrito Policial, em Capela do Socorro
Escolas da periferia têm "plano de guerra"
GABRIELA ATHIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
A violência em São Paulo, aliada à superlotação carcerária, está
fazendo com que escolas vizinhas
ao 48º Distrito Policial (DP), em
Capela do Socorro (zona sul), elaborem um "plano de guerra" para
proteger os alunos quando os presos se rebelam, fogem ou são resgatados de dentro da carceragem.
"Até hoje só não ocorreu uma
desgraça por milagre", disse o delegado-assistente do 48º DP, William Moitinho Navarro, que presenciou as três últimas tentativas
de fuga e de resgate de presos em
menos de seis meses.
Essa situação, que poderia ser
rotina para crianças de países que
vivem em estado de guerra declarado, atinge 6.954 alunos matriculados nas quatro escolas localizadas no entorno do DP, entre
elas a Creche Municipal Coronel
Geraldo de Arruda Penteado,
com 98 alunos de até 6 anos.
A creche e a Escola Estadual
Laerte Ramos de Carvalho são
"vizinhas de muro" com o DP e os
fundos da Escola Adventista de
Interlagos está a poucos metros
da delegacia (veja arte).
O "plano de guerra" da creche
envolve crianças e funcionários.
Os alunos são recolhidos do pátio
com as mãos na cabeça e levados
para as salas de aula. Dependendo
do caso, abaixam-se para reduzir
os riscos de serem vítimas de bala
perdida. O que não dá para reduzir, dizem psicólogos, é o dano
emocional que isso causa às
crianças: "elas ficam apavoradas",
disse a diretora, Iracema Simões.
Depois de se certificar de que todas as crianças estão trancadas
nas classes, os funcionários, explica Iracema, abrem os dois portões
da casa para facilitar a fuga dos
presos, diminuindo o tempo que
eles passam dentro da creche.
Márcia Alux, diretora do Laerte
Ramos de Carvalho, com 2.400
alunos, também orienta as professoras a fechar os alunos nas classes e trancar os cadeados dos portões que permitem o acesso da
quadra para a escola.
No caso do Laerte, quando os
presos pulam o muro do DP (o
que ocorre com certa frequência)
eles caem dentro da quadra, frequentada diariamente por 120
alunos.
Alguns espaços da escola lembram um presídio. Os corredores
que levam às quadras são protegidos por portões de ferro que vão
do chão ao teto. Tanto pânico não
é sem motivo. A carceragem do
48º DP, com capacidade para 25
presos, abriga uma média de 150
e, nos últimos tempos, os detentos vêm protagonizando fugas cada vez mais ousadas. "Isso começou desde que passamos a abrigar
ladrões de banco e traficantes",
diz o delegado-assistente.
No sábado, 13, um grupo entrou
na delegacia para resgatar dois assaltantes de banco, renderam funcionários, houve troca de tiros e
144 detentos fugiram.
Antes disso, no dia 11 de julho
de 99, um grupo entrou na delegacia também para resgatar presos e houve troca de tiros. A situação repetiu-se no dia 30 de dezembro, por volta das 8h30, quando um investigador foi metralhado nas pernas.
A série de fugas consideradas
ousadas começou em 93, quando
os presos cavaram um túnel até a
creche e conseguiram fugir. No
resgate do dia 30 de dezembro, as
grades das celas foram destruídas
e até hoje não foram repostas. Os
presos estão contidos apenas por
uma porta de ferro, uma corrente
e um cadeado.
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