São Paulo, quarta-feira, 24 de maio de 2000


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NARCOTRÁFICO
Propostas de líderes comunitários para evitar mais mortes em favelas devem ser levadas ao governo
Igreja organiza reunião sobre violência

ANTONIO CARLOS DE FARIA
DA SUCURSAL DO RIO

A Pastoral das Favelas da Arquidiocese do Rio de Janeiro está organizando um encontro de lideranças comunitárias para discutir a violência policial e formular as propostas que serão levadas ao governo do Estado.
A reação da Igreja Católica acontece depois que manifestações de moradores de favelas agitaram a cidade em protesto contra a morte de nove pessoas pela Polícia Militar. As mortes ocorreram nas favelas do Cantagalo (zona sul), Jacarezinho (norte), Cidade de Deus (oeste) e Praia da Rosa (norte).
A pastoral apóia o movimento iniciado pelo presidente da associação de moradores do Jacarezinho, Rumba Gabriel, 45, que pretende unificar as favelas para ter maior poder de pressão na área do governo.
O encontro de líderes comunitários conta com a aprovação do cardeal arcebispo dom Eugenio Sales, segundo o coordenador da pastoral, padre Luiz Antonio Pereira Lopes, 45.
"O diálogo é a melhor forma de resolvermos o problema da violência", disse Lopes. Ontem, o padre e mais cinco coordenadores setoriais da pastoral se reuniram na sede da arquidiocese, na Glória (zona sul), para traçar o calendário de mobilização até o encontro com as autoridades.
O primeiro passo será uma reunião no próximo dia 1º de junho, quando estarão presentes os 25 padres e freiras que organizam o trabalho da pastoral pelos bairros da cidade.
Nessa reunião será definido o dia do próximo mês em que serão convidados líderes das favelas do Rio para o encontro que deverá definir as propostas que serão levadas ao governo.
A pastoral, segundo o padre Lopes, tem trabalhos em todas as favelas da cidade. O último levantamento da prefeitura aponta que o Rio tem cerca de 600 favelas, com aproximadamente 1 milhão de habitantes.
Durante as manifestações, moradores chegaram a incendiar dois ônibus, danificar carros e fazer barricadas contra a repressão policial. Para a PM, as pessoas que morreram eram ligadas ao tráfico e os protestos foram incitados por traficantes.
Segundo o padre Lopes, a presença do tráfico nas favelas só terá uma "solução definitiva com a criação de perspectivas de vida para os jovens".
Ele diz que pastoral trabalha em comunidades onde garotos ganham "R$ 500,00 para serem vigias do tráfico e não se sentem atraídos a ganhar salário mínimo em atividades formais, que nem mesmo existem".
Criar "perspectivas de vida para os jovens" é uma ação que depende de investimentos a longo prazo em educação e em geração de empregos, segundo análise dos integrantes da pastoral.
Enquanto isso não acontece, "temos que reconhecer que cabe ao Estado dar segurança a qualquer cidadão. Para isso, é preciso qualificar mais a polícia e melhorar a política de segurança", afirmou o padre Lopes.
O coordenador mantém dom Eugenio Sales informado sobre os incidentes ocorridos nas favelas.
Toda terça-feira pela manhã, o arcebispo realiza uma reunião com os integrantes do governo diocesano, da qual participa o coordenador da Pastoral das Favelas. "Dom Eugenio quer que a Igreja sirva de interlocutora para que haja diálogo entre as favelas e o Estado", disse padre Lopes.



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