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NARCOTRÁFICO
Propostas de líderes comunitários para evitar mais mortes em favelas devem ser levadas ao governo
Igreja organiza reunião sobre violência
ANTONIO CARLOS DE FARIA
DA SUCURSAL DO RIO
A Pastoral das Favelas da Arquidiocese do Rio de Janeiro está organizando um encontro de lideranças comunitárias para discutir
a violência policial e formular as
propostas que serão levadas ao
governo do Estado.
A reação da Igreja Católica
acontece depois que manifestações de moradores de favelas agitaram a cidade em protesto contra a morte de nove pessoas pela
Polícia Militar. As mortes ocorreram nas favelas do Cantagalo (zona sul), Jacarezinho (norte), Cidade de Deus (oeste) e Praia da Rosa
(norte).
A pastoral apóia o movimento
iniciado pelo presidente da associação de moradores do Jacarezinho, Rumba Gabriel, 45, que pretende unificar as favelas para ter
maior poder de pressão na área
do governo.
O encontro de líderes comunitários conta com a aprovação do
cardeal arcebispo dom Eugenio
Sales, segundo o coordenador da
pastoral, padre Luiz Antonio Pereira Lopes, 45.
"O diálogo é a melhor forma de
resolvermos o problema da violência", disse Lopes. Ontem, o padre e mais cinco coordenadores
setoriais da pastoral se reuniram
na sede da arquidiocese, na Glória
(zona sul), para traçar o calendário de mobilização até o encontro
com as autoridades.
O primeiro passo será uma reunião no próximo dia 1º de junho,
quando estarão presentes os 25
padres e freiras que organizam o
trabalho da pastoral pelos bairros
da cidade.
Nessa reunião será definido o
dia do próximo mês em que serão
convidados líderes das favelas do
Rio para o encontro que deverá
definir as propostas que serão levadas ao governo.
A pastoral, segundo o padre Lopes, tem trabalhos em todas as favelas da cidade. O último levantamento da prefeitura aponta que o
Rio tem cerca de 600 favelas, com
aproximadamente 1 milhão de
habitantes.
Durante as manifestações, moradores chegaram a incendiar
dois ônibus, danificar carros e fazer barricadas contra a repressão
policial. Para a PM, as pessoas que
morreram eram ligadas ao tráfico
e os protestos foram incitados por
traficantes.
Segundo o padre Lopes, a presença do tráfico nas favelas só terá
uma "solução definitiva com a
criação de perspectivas de vida
para os jovens".
Ele diz que pastoral trabalha em
comunidades onde garotos ganham "R$ 500,00 para serem vigias do tráfico e não se sentem
atraídos a ganhar salário mínimo
em atividades formais, que nem
mesmo existem".
Criar "perspectivas de vida para
os jovens" é uma ação que depende de investimentos a longo prazo
em educação e em geração de empregos, segundo análise dos integrantes da pastoral.
Enquanto isso não acontece,
"temos que reconhecer que cabe
ao Estado dar segurança a qualquer cidadão. Para isso, é preciso
qualificar mais a polícia e melhorar a política de segurança", afirmou o padre Lopes.
O coordenador mantém dom
Eugenio Sales informado sobre os
incidentes ocorridos nas favelas.
Toda terça-feira pela manhã, o
arcebispo realiza uma reunião
com os integrantes do governo
diocesano, da qual participa o
coordenador da Pastoral das Favelas. "Dom Eugenio quer que a
Igreja sirva de interlocutora para
que haja diálogo entre as favelas e
o Estado", disse padre Lopes.
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