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SEGURANÇA
Por celular e do interior de uma cela na Penitenciária do Estado, integrante do PCC combinou troca de fuzis AR-15 por cocaína
Detento de SP negociou armas com o CV
DA REPORTAGEM LOCAL
Do interior de uma cela na Penitenciária do Estado, em São
Paulo, o detento Reginaldo de Almeida, conhecido como Neguinho, negociou, por telefone celular, a troca de fuzis AR-15 do PCC,
trazidos do Paraguai, por cocaína
negociada nos morros do Rio pelo CV (Comando Vermelho).
Nessa transação, 20 fuzis, entre
outras armas, como pistolas semi-automáticas, seriam enviados
para a capital fluminense. O CV
pagaria o carregamento com droga, em quantidade ainda desconhecida, que acabaria distribuída
em São Paulo.
A Folha apurou que os detalhes
do acordo -o primeiro a comprovar a existência de um contato
entre as duas facções- estão nas
gravações telefônicas feitas por
policiais paulistas desde janeiro e
que ajudaram a montar a megaoperação de ontem. O conteúdo
dos grampos está sob sigilo.
O carregamento de armas não
teria sido entregue ao Comando
Vermelho, nem a droga enviada a
São Paulo, por causa da intervenção feita ontem, de acordo com a
polícia e o Ministério Público.
""De fato, não há uma ligação entre as duas facções, mas transações comerciais entre elas", afirma o promotor Márcio Sérgio
Christino, do Gaeco (Grupo de
Atuação Especial de Repressão ao
Crime Organizado), um dos que
investigam o PCC.
Ontem, durante a megaoperação da polícia paulista, Neguinho
foi levado da Penitenciária do Estado para prestar depoimento no
Deic, onde teria se apresentado
como integrante do PCC e confirmado que vendia armas trazidas
do Paraguai. Ele deve ser ouvido
oficialmente hoje pela polícia e
Gaeco. Até ontem, os policiais que
investigam o PCC desconheciam
os detalhes da suposta transação
combinada por celular de dentro
da Penitenciária do Estado -que,
com a desativação parcial da Casa
de Detenção, passou a ser o maior
presídio de São Paulo, com cerca
de 2,2 mil detentos.
A descoberta de negócios envolvendo PCC e CV, feita pela polícia
de São Paulo, reforça as suspeitas
da polícia fluminense de que a
facção paulista já teria firmado
alianças com o TC (Terceiro Comando) e o CV, dois grupos rivais
que estão em disputa pelo controle do tráfico de drogas no Rio.
As duas alianças estão sob investigação da polícia do Rio, que
apura ainda a influência do PCC
nas recentes rebeliões e atentados
a órgãos do governo, como ocorreu na Secretaria de Direitos Humanos, há duas semanas.
Em 15 de março passado, o então delegado Álvaro Lins, chefe da
Polícia Civil no Rio, disse que o
acordo entre o PCC e o CV envolveria a troca de armas por drogas.
A Secretaria da Segurança Pública
de São Paulo, no entanto, nega a
existência de uma aliança.
A polícia do Rio acredita que o
próprio traficante Fernandinho
Beira-Mar, um dos maiores do
país, fornecia drogas para o PCC.
Com sua prisão, no ano passado,
os dois grupos teriam começado a
tentar outro tipo de aproximação.
E o contato entre presos do PCC
que passaram pelo Rio, como José
Márcio Felício, o Geleião, um dos
fundadores da facção, e membros
do CV teria facilitado o surgimento da parceria.
Ontem, em São Paulo, foi preso
um integrante do PCC que esteve
foragido no Rio. Segundo a polícia, Marco Aurélio de Castro Rocha, conhecido como Lobão, esteve escondido no Rio no mesmo
período em que houve o atentado
à Secretaria de Direitos Humanos.
Por enquanto, não se sabe se ele
participou.
(ALESSANDRO SILVA E GILMAR PENTEADO)
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