São Paulo, sexta-feira, 24 de maio de 2002

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SEGURANÇA

Por celular e do interior de uma cela na Penitenciária do Estado, integrante do PCC combinou troca de fuzis AR-15 por cocaína

Detento de SP negociou armas com o CV

DA REPORTAGEM LOCAL

Do interior de uma cela na Penitenciária do Estado, em São Paulo, o detento Reginaldo de Almeida, conhecido como Neguinho, negociou, por telefone celular, a troca de fuzis AR-15 do PCC, trazidos do Paraguai, por cocaína negociada nos morros do Rio pelo CV (Comando Vermelho).
Nessa transação, 20 fuzis, entre outras armas, como pistolas semi-automáticas, seriam enviados para a capital fluminense. O CV pagaria o carregamento com droga, em quantidade ainda desconhecida, que acabaria distribuída em São Paulo.
A Folha apurou que os detalhes do acordo -o primeiro a comprovar a existência de um contato entre as duas facções- estão nas gravações telefônicas feitas por policiais paulistas desde janeiro e que ajudaram a montar a megaoperação de ontem. O conteúdo dos grampos está sob sigilo.
O carregamento de armas não teria sido entregue ao Comando Vermelho, nem a droga enviada a São Paulo, por causa da intervenção feita ontem, de acordo com a polícia e o Ministério Público.
""De fato, não há uma ligação entre as duas facções, mas transações comerciais entre elas", afirma o promotor Márcio Sérgio Christino, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), um dos que investigam o PCC.
Ontem, durante a megaoperação da polícia paulista, Neguinho foi levado da Penitenciária do Estado para prestar depoimento no Deic, onde teria se apresentado como integrante do PCC e confirmado que vendia armas trazidas do Paraguai. Ele deve ser ouvido oficialmente hoje pela polícia e Gaeco. Até ontem, os policiais que investigam o PCC desconheciam os detalhes da suposta transação combinada por celular de dentro da Penitenciária do Estado -que, com a desativação parcial da Casa de Detenção, passou a ser o maior presídio de São Paulo, com cerca de 2,2 mil detentos.
A descoberta de negócios envolvendo PCC e CV, feita pela polícia de São Paulo, reforça as suspeitas da polícia fluminense de que a facção paulista já teria firmado alianças com o TC (Terceiro Comando) e o CV, dois grupos rivais que estão em disputa pelo controle do tráfico de drogas no Rio.
As duas alianças estão sob investigação da polícia do Rio, que apura ainda a influência do PCC nas recentes rebeliões e atentados a órgãos do governo, como ocorreu na Secretaria de Direitos Humanos, há duas semanas.
Em 15 de março passado, o então delegado Álvaro Lins, chefe da Polícia Civil no Rio, disse que o acordo entre o PCC e o CV envolveria a troca de armas por drogas. A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, no entanto, nega a existência de uma aliança.
A polícia do Rio acredita que o próprio traficante Fernandinho Beira-Mar, um dos maiores do país, fornecia drogas para o PCC. Com sua prisão, no ano passado, os dois grupos teriam começado a tentar outro tipo de aproximação. E o contato entre presos do PCC que passaram pelo Rio, como José Márcio Felício, o Geleião, um dos fundadores da facção, e membros do CV teria facilitado o surgimento da parceria.
Ontem, em São Paulo, foi preso um integrante do PCC que esteve foragido no Rio. Segundo a polícia, Marco Aurélio de Castro Rocha, conhecido como Lobão, esteve escondido no Rio no mesmo período em que houve o atentado à Secretaria de Direitos Humanos. Por enquanto, não se sabe se ele participou. (ALESSANDRO SILVA E GILMAR PENTEADO)

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