São Paulo, segunda-feira, 24 de maio de 2004

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Ampliação vai ter de desalojar 5.300 famílias

DA REPORTAGEM LOCAL

Quem vai ao aeroporto internacional de Cumbica pela rodovia Hélio Smidt, já bem pertinho de chegar, pode observar do lado esquerdo da pista uma plantação em linha de eucaliptos. Não dá para ver, mas atrás da cortina verde, esconde-se o Jardim Marilena.
O Marilena, mais o Planalto, o Santa Lídia, o Malvinas, o Seródio, o Novo Portugal e a Cohab Haroldo Veloso, bairros de Guarulhos, cederão parte de suas áreas para a ampliação do novo terminal do aeroporto.
É, ao todo, 1,43 quilômetro quadrado. O espaço se incorporará ao que os técnicos chamam de "sítio aeroportuário de Guarulhos". Hoje, o sítio tem 14 quilômetros quadrados.
Dentro do novo perímetro do sítio, contudo, há um problemão: 5.300 famílias, com suas casas de alvenaria barata, infra-estrutura péssima e esgoto a céu aberto, que invade tudo quando chove.
O EIA-Rima menciona o reassentamento das famílias em novas áreas urbanizadas "com toda a infra-estrutura". O superintendente de Guarulhos, Miguel Choueri, fala dos projetos sociais que o aeroporto realiza, visando à "requalificação profissional e reinserção" dos habitantes do entorno.
Mas os invisíveis habitantes além da cortina de eucaliptos só conversam agora sobre o medo de perder suas casas.
"Eu quero ficar aqui", diz a síndica da rua Monsenhor Paulo, Ester Albuquerque, 33, casada, quatro filhos e "totalmente contra" a ampliação.
Ela sabe que as duas casas ocupadas por sua família (a sogra mora ao lado) foram erguidas em áreas invadidas. "Mas a gente não tinha alternativa. Depois, prometeram legalizar."
A ocupação desordenada do entorno do aeroporto é um problema sério para a aviação. Originalmente, a várzea do rio Baquirivu-Guaçu, onde se localiza Cumbica, era habitada por aves aquáticas.
Com a crescente presença humana, essas aves foram substituídas pelos urubus, que se alimentam do lixo urbano.
O problema dos urubus é o risco de eles causarem acidentes ao ser engolidos pelas turbinas das aeronaves. A preocupação é tamanha que até uma divisão de biologia foi aberta no aeroporto, com o objetivo de afastar as aves.
Também existe o problema da segurança das famílias nas proximidades das cabeceiras das pistas. Apenas quatro anos depois da inauguração de Cumbica, um avião de carga da Transbrasil caiu sobre várias casas e barracos nas proximidades, matando 21 pessoas. Hoje, elas estão mais próximas. (LC)


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