São Paulo, domingo, 24 de maio de 2009

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Mortos já são 5; hospital local vive cenário de guerra

ENVIADA ESPECIAL A TRIZIDELA DO VALE (MA)

A diretora-adjunta do Hospital e Maternidade Municipal João Alberto, de Trizidela do Vale, Laydianne Castro, 26, é ela mesma uma "alagada" -assim se chamam os desabrigados pela enchente. A mãe de Laydianne é uma das pessoas que necessitaram de socorro médico. Teve uma intoxicação grave quando voltou a sua casa para limpá-la da lama negra que invadiu todos os cômodos.
Mas Laydianne não tem tempo para ficar chateada com esses problemas. Na sexta-feira, ela ajudava a organizar o enterro de um colega de hospital, providenciava o atendimento de uma gestante que derrapou no lodo e bateu a cabeça no chão, dava assistência a um homem que quebrou o nariz ao tropeçar no asfalto esburacado, providenciava socorro aos oito casos de pneumonia e ao primeiro caso de tuberculose surgidos da enchente, e cuidava para que os muitos pacientes com diarréia estivessem bem hidratados. Uma correria.
Até a sexta-feira, as autoridades de saúde contabilizavam cinco mortos. Duas pessoas afogaram-se depois que a canoa que as transportava virou. Um homem foi eletrocutado quando as águas atingiram a fiação. Um apareceu morto boiando no rio e outro foi encontrado sem vida em casa. Não se sabe a causa da morte dos outros dois.
Abaixo, o relato de Laydianne sobre o atendimento ao colega que morreu:

 


"Evandro Costa e Silva, 52, chegou às 6h30, de bicicleta ao hospital. Queixava-se de dores. Estava com os rins travados. Os médicos de pronto perceberam que estavam diante de um quadro de infarto. Evandro necessitava de atendimento cardiológico urgente.
Pusemos nosso colega em uma maca com oxigênio, e lá fomos, de ambulância, na direção da saída da cidade. Aqui não temos condições de atender a um caso com esta gravidade.
O único caminho para sair da cidade estava obstruído pelas águas. A ambulância não podia prosseguir. A saída foi colocar Evandro, maca, oxigênio e tudo em cima de uma canoa.
Para que ela não virasse, vários homens seguiam com a água até o peito, escorando as laterais do barco.
Do outro lado do encharcado, outra ambulância já nos aguardava. Nosso colega foi com a mulher, um enfermeiro e um homem da Defesa Civil em direção a Caxias, município a mais de 170 km de Trizidela.
Mas não aguentou. Teve três paradas cardíacas no caminho. Às 10h, foi declarado morto. Nem chegou ao hospital de Caxias. Voltou morto. O enterro vai sair daqui a pouco."
(LC)


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