São Paulo, Segunda-feira, 24 de Maio de 1999
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ARMAMENTO
Pela primeira vez, em abril, foi criada uma associação para defender o direito de comprar e portar armas
Lobby a favor de armas se organiza no país

Associated Press
O industrial Luiz Afonso dos Santos, um dos fundadores da associação dos proprietários de armas, treina tiro no clube Shooting, em São Paulo


CÉLIA DE GOUVÊA FRANCO
da Reportagem Local

O lobby a favor do porte de armas está se organizando no Brasil.
Pela primeira vez no país foi criada (no dia 21 de abril) uma associação especificamente para defender o direito de comprar e portar armas. O tom do discurso dos seus dirigentes lembra os argumentos de grupos de lobby a favor das armas dos Estados Unidos.
"Estamos defendendo nosso direito à vida. Nossa missão é contra-atacar a campanha contra as armas", explica Leonardo Arruda, diretor de relações públicas da Associação Nacional de Proprietários e Comerciantes de Armas (ANPCA), com sede no Rio.
"Nosso objetivo básico é garantir o direito de comprar armas para autodefesa. Desde a ditadura Vargas, o direito do cidadão comum de comprar armas está sendo cerceado", acrescenta Luiz Afonso dos Santos, também fundador da associação.
"Acho que vale a pena se pensar na pergunta feita em 1975 pelo ex-presidente Ronald Reagan: com o aumento da violência, não seria o caso de armar os donos de casas e lojas, ensiná-los como usar esses armamentos e espalhar a notícia que não é mais seguro assaltá-los porque eles agora sabem se defender?", questiona, por sua vez, Misael Antônio de Souza, diretor regional em São Paulo da entidade.
O que motivou a criação da associação foi a decisão do Ministério da Justiça de elaborar um projeto que proíbe a venda de armas para civis no país. No dia 26 de abril, o presidente Fernando Henrique Cardoso disse, no programa "Roda Viva", que "dá para pensar" em proibir a venda de armas.
Na última quinta-feira, o ministro Renan Calheiros (Justiça) levou a FHC uma minuta de projeto de lei que só permite que continuem sendo vendidos armamentos para as Forças Armadas, as empresas de seguranças e os órgãos de inteligência. O ministro afirma que a proibição de venda de armas para a população em geral ajudaria a combater a violência.
A associação diz que proibir a venda de armas deixaria sem defesa o "cidadão de bem que adquire legalmente a arma porque precisa de segurança". "As armas usadas pelos marginais e assaltantes são provenientes do contrabando", diz um manifesto da entidade.
"O governo vai confiscar as armas e vamos ficar sem defesa", afirma Arruda. "Quem tem um 38 não terá mais a quem recorrer em caso de violência. O crime organizado não usa armas legais, é tudo contrabando e isso vai continuar", acrescenta Souza.
Em um mês, a associação -que por enquanto é formada principalmente por donos de armas- já patrocinou uma série de ações de lobby contra o projeto.

Crime organizado
Anúncios com o slogan "A gente também é a favor do desarmamento. Desarmamento dos traficantes, dos assaltantes e do crime organizado" foram veiculadas em cinco publicações, ao custo de R$ 250 mil, segundo a Centro Comunicação, a agência de propaganda contratada para fazer a campanha.
Os anúncios foram assinados também pela Acolt (Associação de Armaria, Coleção e Tiro) e pela Aniam (Associação Nacional da Indústria de Armas e Munições).
Os fabricantes de armamentos são, obviamente, contrários à adoção de maiores restrições ao comércio de armas, mas seus argumentos são um pouco diferentes dos usados pelos donos de armas.
Para os fabricantes, não seria possível provar uma relação direta entre o número de armas em mãos da população e os índices de criminalidade.
Eles afirmam que, desde 1997, com a lei que impôs uma série de restrições à compra e ao porte de armas, as vendas legais caíram muito (de 41.424, em 1997, para 25.300 em 1998), mas a violência aumentou.
Os associados da ANPCA também estão fazendo campanha contra o desarmamento mandando cartas, telegramas e mensagens via e-mail para o Ministério da Justiça e os congressistas.
Criaram vários sites na Internet para defender suas idéias e estão mandando cartas para possíveis interessados em se associar.
Além disso, planejam entrar na Justiça contra o que consideram ser estatísticas falsas.
"Vamos interpelar judicialmente os que propagam mentiras como os dados que mostrariam que em cada 16 vezes que se usa uma arma 15 resultam em ferimentos ou mortes. Como isso é possível se a maioria das vezes que alguém evita um assalto usando uma arma, às vezes apenas mostrando que está armado, não reporta o caso à polícia?", argumenta Santos.


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