São Paulo, quinta-feira, 24 de junho de 2004

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OPERAÇÃO LINCE

Seis pessoas foram detidas em Ribeirão Preto acusadas de participar de esquema de adulteração de combustível

Roubo de carga leva delegados da PF à prisão

AFRA BALAZINA
KATIUCIA MAGALHÃES
FREE-LANCE PARA A FOLHA RIBEIRÃO

Uma operação da Polícia Federal, com cerca de 130 homens de cinco Estados e do Distrito Federal, resultou na prisão de seis pessoas ontem em Ribeirão Preto, incluindo dois delegados -um deles chefe do escritório da PF na cidade- e um agente federal. Todas são acusadas de roubo de carga e adulteração de combustível.
Foram presos os dois principais delegados federais de Ribeirão Preto. José Bocamino, que comandava a delegacia na região, e seu subordinado direto Wilson Alfredo Perpétuo, que também já dirigiu a delegacia na cidade, foram detidos em suas casas. A operação teve início às 5h. As primeiras prisões foram feitas às 6h.
Além dos delegados, foram presos o agente da PF Luiz Cláudio Santana, dois suspeitos de roubos de carga -Roberto Lopes Alvares e Jair Dias de Morais- e o advogado Fauzi José Saab Júnior.
Camila Martins, filha do empresário José Antonio Martins, também foi detida em sua casa por portar ilegalmente um revólver.
Martins, dono de uma academia de ginástica no Novo Shopping, e Jorge Wolney Atalla, suposto dono de uma empresa de segurança privada, foram ouvidos e liberados. As empresas foram alvo de busca e apreensão.
A ação, batizada de Operação Lince, vem sendo desenvolvida pela PF há cerca de dois anos em todo o país e tem como principal foco o roubo de cargas e a adulteração de combustíveis. Os pedidos de prisão temporária dos seis suspeitos, por cinco dias, foram deferidos pelo juiz Augusto Martinez Perez, da 4ª Vara Federal de Ribeirão Preto (314 km de SP).
Segundo a investigação, o grupo seria responsável pelo roubo, adulteração e revenda do combustível. Ainda não há provas do modo como o dinheiro era lavado, nem se os federais recebiam vantagens. A idéia é esclarecer isso com o material apreendido.
A PF diz ter indícios de que os delegados e o agente federal sabiam da ocorrência dos crimes e, no mínimo, se omitiram ao não investigar e, eventualmente, prender os culpados.
"Eles [delegados e agente da PF] foram, no mínimo, omissos. Sabiam o que estava acontecendo e não agiram", disse um dos coordenadores da operação, o delegado da PF Ricardo Amaro Oliveira, de Belo Horizonte.
Os suspeitos foram presos por indícios de formação de quadrilha, concussão (extorsão cometida por servidor público no exercício de suas funções), evasão de divisas, sonegação fiscal, lavagem de dinheiro e peculato (delito praticado por funcionário público que, em razão do cargo, se apropria ou desvia dinheiro).
Bocamino começou a ser investigado há dois anos quando seu nome foi citado em diálogos entre membros de uma quadrilha de Rondônia que explorava diamantes ilegalmente na reserva dos índios cinta-larga. Segundo um investigador, o delegado manteve relações com o empresário Marcos Glikas, preso no ano passado. A intenção de Bocamino era lapidar as pedras em Ribeirão, elevando o valor dos diamantes.
Os dois delegados também teriam relações com o empresário Law Kim Chong, apontado como o maior contrabandista do país pela PF. Os nomes de Bocamino e Perpétuo aparecem na agenda de Chong apreendida pela PF.
Os delegados e o agente da PF foram levados ontem para a carceragem do órgão em Brasília. Além dos sete presos, outras pessoas, ligadas a empresas e usinas de açúcar e álcool, estão sendo investigadas, mas ainda não tiveram as prisões pedidas. No total, seriam efetuados ontem 30 mandados de busca e apreensão em Ribeirão e em cidades vizinhas. No início da noite, agentes da PF ainda faziam buscas.
As buscas foram feitas em residências -dos detidos, dos familiares e de outros suspeitos-, escritórios de contabilidade e de advocacia, uma empresa de segurança -a FortService, supostamente de Atalla-, empresas dos envolvidos e na usina Nova União, em Serrana.
Ontem mesmo, o superintendente da PF em São Paulo, Francisco Baltazar da Silva, que acompanhou a operação, nomeou o delegado Rogério Santana Hisbek para assumir provisoriamente a delegacia em Ribeirão.
De acordo com Baltazar, a Operação Lince na região teve início com a apuração da adulteração de combustíveis, mas, posteriormente, as investigações apontaram que havia uma organização criminosa ligada ao roubo de cargas, envolvendo policiais federais.
Segundo a PF, o chefe da quadrilha que roubava cargas, Mário Fogassa, foi preso no Paraná anteontem. Entretanto, o delegado da Delegacia de Investigações Gerais de Ribeirão Preto José Luís de Meirelles Júnior, afirmou que Fogassa foi preso no dia 9 de junho pela Polícia Civil paulista e transferido no dia seguinte para o Paraná. Ele é suspeito de homicídio.
"Fogassa era investigado havia mais de um ano por desvio de cargas e de remédios. Tínhamos conhecimento de que era um dos grandes cabeças do roubo de carga em São Paulo, ligado ao crime organizado, e estava aqui escondido na cidade", disse Meirelles.


Colaborou IURI DANTAS, em São Paulo


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