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OPERAÇÃO LINCE
Seis pessoas foram detidas em Ribeirão Preto acusadas de participar de esquema de adulteração de combustível
Roubo de carga leva delegados da PF à prisão
AFRA BALAZINA
KATIUCIA MAGALHÃES
FREE-LANCE PARA A FOLHA RIBEIRÃO
Uma operação da Polícia Federal, com cerca de 130 homens de
cinco Estados e do Distrito Federal, resultou na prisão de seis pessoas ontem em Ribeirão Preto, incluindo dois delegados -um deles chefe do escritório da PF na cidade- e um agente federal. Todas são acusadas de roubo de carga e adulteração de combustível.
Foram presos os dois principais
delegados federais de Ribeirão
Preto. José Bocamino, que comandava a delegacia na região, e
seu subordinado direto Wilson
Alfredo Perpétuo, que também já
dirigiu a delegacia na cidade, foram detidos em suas casas. A operação teve início às 5h. As primeiras prisões foram feitas às 6h.
Além dos delegados, foram presos o agente da PF Luiz Cláudio
Santana, dois suspeitos de roubos
de carga -Roberto Lopes Alvares e Jair Dias de Morais- e o advogado Fauzi José Saab Júnior.
Camila Martins, filha do empresário José Antonio Martins, também foi detida em sua casa por
portar ilegalmente um revólver.
Martins, dono de uma academia de ginástica no Novo Shopping, e Jorge Wolney Atalla, suposto dono de uma empresa de
segurança privada, foram ouvidos e liberados. As empresas foram alvo de busca e apreensão.
A ação, batizada de Operação
Lince, vem sendo desenvolvida
pela PF há cerca de dois anos em
todo o país e tem como principal
foco o roubo de cargas e a adulteração de combustíveis. Os pedidos de prisão temporária dos seis
suspeitos, por cinco dias, foram
deferidos pelo juiz Augusto Martinez Perez, da 4ª Vara Federal de
Ribeirão Preto (314 km de SP).
Segundo a investigação, o grupo
seria responsável pelo roubo,
adulteração e revenda do combustível. Ainda não há provas do
modo como o dinheiro era lavado, nem se os federais recebiam
vantagens. A idéia é esclarecer isso com o material apreendido.
A PF diz ter indícios de que os
delegados e o agente federal sabiam da ocorrência dos crimes e,
no mínimo, se omitiram ao não
investigar e, eventualmente, prender os culpados.
"Eles [delegados e agente da PF]
foram, no mínimo, omissos. Sabiam o que estava acontecendo e
não agiram", disse um dos coordenadores da operação, o delegado da PF Ricardo Amaro Oliveira,
de Belo Horizonte.
Os suspeitos foram presos por
indícios de formação de quadrilha, concussão (extorsão cometida por servidor público no exercício de suas funções), evasão de divisas, sonegação fiscal, lavagem
de dinheiro e peculato (delito praticado por funcionário público
que, em razão do cargo, se apropria ou desvia dinheiro).
Bocamino começou a ser investigado há dois anos quando seu
nome foi citado em diálogos entre
membros de uma quadrilha de
Rondônia que explorava diamantes ilegalmente na reserva dos índios cinta-larga. Segundo um investigador, o delegado manteve
relações com o empresário Marcos Glikas, preso no ano passado.
A intenção de Bocamino era lapidar as pedras em Ribeirão, elevando o valor dos diamantes.
Os dois delegados também teriam relações com o empresário
Law Kim Chong, apontado como
o maior contrabandista do país
pela PF. Os nomes de Bocamino e
Perpétuo aparecem na agenda de
Chong apreendida pela PF.
Os delegados e o agente da PF
foram levados ontem para a carceragem do órgão em Brasília.
Além dos sete presos, outras pessoas, ligadas a empresas e usinas
de açúcar e álcool, estão sendo investigadas, mas ainda não tiveram as prisões pedidas. No total,
seriam efetuados ontem 30 mandados de busca e apreensão em
Ribeirão e em cidades vizinhas.
No início da noite, agentes da PF
ainda faziam buscas.
As buscas foram feitas em residências -dos detidos, dos familiares e de outros suspeitos-, escritórios de contabilidade e de advocacia, uma empresa de segurança -a FortService, supostamente de Atalla-, empresas dos
envolvidos e na usina Nova
União, em Serrana.
Ontem mesmo, o superintendente da PF em São Paulo, Francisco Baltazar da Silva, que acompanhou a operação, nomeou o
delegado Rogério Santana Hisbek
para assumir provisoriamente a
delegacia em Ribeirão.
De acordo com Baltazar, a Operação Lince na região teve início
com a apuração da adulteração de
combustíveis, mas, posteriormente, as investigações apontaram que havia uma organização
criminosa ligada ao roubo de cargas, envolvendo policiais federais.
Segundo a PF, o chefe da quadrilha que roubava cargas, Mário
Fogassa, foi preso no Paraná anteontem. Entretanto, o delegado
da Delegacia de Investigações Gerais de Ribeirão Preto José Luís de
Meirelles Júnior, afirmou que Fogassa foi preso no dia 9 de junho
pela Polícia Civil paulista e transferido no dia seguinte para o Paraná. Ele é suspeito de homicídio.
"Fogassa era investigado havia
mais de um ano por desvio de cargas e de remédios. Tínhamos conhecimento de que era um dos
grandes cabeças do roubo de carga em São Paulo, ligado ao crime
organizado, e estava aqui escondido na cidade", disse Meirelles.
Colaborou IURI DANTAS, em São Paulo
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