São Paulo, sábado, 24 de junho de 2006

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Igreja vai à Justiça para proibir exposição

Arcebispo de Campo Grande entrou com ação criminal contra Evandro Prado

A mostra "Habemus Cocam" mistura representação da Coca-Cola a de santos; artista afirma que obras criticam capitalismo e consumismo


CÍNTIA ACAYABA
DA AGÊNCIA FOLHA

O arcebispo de Campo Grande (MS), dom Vitório Pavanello, entrou com uma ação criminal, por meio do Ministério Público Estadual, contra o artista plástico Evandro Prado, 20, por "vilipendiar publicamente imagens sagradas".
De acordo com o requerimento, a exposição "Habemus Cocam", de Prado, desrespeita os símbolos da Igreja Católica ao "misturar latinhas e logotipos do refrigerante da marca Coca-Cola com imagens de santos".
A exposição está no Marco (Museu de Arte Contemporânea), de Campo Grande, desde o dia 11 de maio.
No dia 7 do mês passado, os advogados de Pavanello entraram com uma ação civil que pedia a apreensão e a destruição das obras. Ela não foi julgada, porque a Justiça a considerou uma ação criminal.
"É um direito da arquidiocese defender seus símbolos sagrados. O artista plástico cometeu um crime", disse a advogado do arcebispo, Maria Elípia Ferreira dos Santos.
A pena por vilipêndio (aviltamento, desprezo) varia de um mês a um ano, ou pagamento de multa.

Exposição
O artista explica que o nome da exposição, "Habemus Cocam", faz referência à frase "habemus papam" (temos papa) pronunciada na eleição de um novo pontífice. Segundo ele, as obras fazem uma crítica ao capitalismo e ao consumismo.
"Na tela "Habemus Cocam", onde o papa João Paulo 2º aparece morto segurando uma garrafa de Coca-Cola, quero dizer que, apesar da morte de um líder religioso, o sistema capitalista perdura", disse Prado.
Para ele, mostrar que o capitalismo "se apropriou de tudo", inclusive da fé das pessoas, chega a ser uma "defesa" à igreja.
O vereador Paulo Siufi (PRTB) colocou na pauta da Câmara Municipal uma moção de repúdio à exposição, que não chegou a ser votada. Siufi também organizou um abaixo-assinado que, de acordo com ele, obteve cerca de 10 mil assinaturas dos católicos de Campo Grande.
"O artista disse que não quis macular a iconografia católica, mas colocar o manto de Nossa Senhora com uma Coca-Cola no meio é muito agressivo", disse Siufi.
De acordo com o curador do museu, Rafael Maldonado, a polêmica aumentou o número de visitantes do Marco. "Nenhuma exposição teve tanta repercussão como essa em Mato Grosso do Sul", disse.
A Coca-Cola Brasil não quis se pronunciar sobre o assunto.
A exposição, dividida em três segmentos, "capitalismo e consumismo", "arte e publicidade" e "religião", conta com 21 pinturas e 13 objetos que utilizam de maneiras diferentes as logomarcas da Coca-Cola.
"Habemus Cocam" fica exposta em Campo Grande até o dia 30 deste mês. A partir do dia 10 de agosto, ela estará na Casa de Cultura da América Latina, em Brasília.


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