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Igreja vai à Justiça para proibir exposição
Arcebispo de Campo Grande entrou com ação criminal contra Evandro Prado
A mostra "Habemus Cocam" mistura representação da Coca-Cola a de santos; artista afirma que obras criticam capitalismo e consumismo
CÍNTIA ACAYABA
DA AGÊNCIA FOLHA
O arcebispo de Campo Grande (MS), dom Vitório Pavanello, entrou com uma ação criminal, por meio do Ministério
Público Estadual, contra o artista plástico Evandro Prado,
20, por "vilipendiar publicamente imagens sagradas".
De acordo com o requerimento, a exposição "Habemus
Cocam", de Prado, desrespeita
os símbolos da Igreja Católica
ao "misturar latinhas e logotipos do refrigerante da marca
Coca-Cola com imagens de
santos".
A exposição está no Marco
(Museu de Arte Contemporânea), de Campo Grande, desde
o dia 11 de maio.
No dia 7 do mês passado, os
advogados de Pavanello entraram com uma ação civil que pedia a apreensão e a destruição
das obras. Ela não foi julgada,
porque a Justiça a considerou
uma ação criminal.
"É um direito da arquidiocese defender seus símbolos sagrados. O artista plástico cometeu um crime", disse a advogado do arcebispo, Maria Elípia
Ferreira dos Santos.
A pena por vilipêndio (aviltamento, desprezo) varia de um
mês a um ano, ou pagamento de
multa.
Exposição
O artista explica que o nome
da exposição, "Habemus Cocam", faz referência à frase "habemus papam" (temos papa)
pronunciada na eleição de um
novo pontífice. Segundo ele, as
obras fazem uma crítica ao capitalismo e ao consumismo.
"Na tela "Habemus Cocam",
onde o papa João Paulo 2º aparece morto segurando uma garrafa de Coca-Cola, quero dizer
que, apesar da morte de um líder religioso, o sistema capitalista perdura", disse Prado.
Para ele, mostrar que o capitalismo "se apropriou de tudo",
inclusive da fé das pessoas, chega a ser uma "defesa" à igreja.
O vereador Paulo Siufi
(PRTB) colocou na pauta da
Câmara Municipal uma moção
de repúdio à exposição, que não
chegou a ser votada. Siufi também organizou um abaixo-assinado que, de acordo com ele,
obteve cerca de 10 mil assinaturas dos católicos de Campo
Grande.
"O artista disse que não quis
macular a iconografia católica,
mas colocar o manto de Nossa
Senhora com uma Coca-Cola
no meio é muito agressivo",
disse Siufi.
De acordo com o curador do
museu, Rafael Maldonado, a
polêmica aumentou o número
de visitantes do Marco. "Nenhuma exposição teve tanta repercussão como essa em Mato
Grosso do Sul", disse.
A Coca-Cola Brasil não quis
se pronunciar sobre o assunto.
A exposição, dividida em três
segmentos, "capitalismo e consumismo", "arte e publicidade"
e "religião", conta com 21 pinturas e 13 objetos que utilizam
de maneiras diferentes as logomarcas da Coca-Cola.
"Habemus Cocam" fica exposta em Campo Grande até o
dia 30 deste mês. A partir do dia
10 de agosto, ela estará na Casa
de Cultura da América Latina,
em Brasília.
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