São Paulo, domingo, 24 de junho de 2007

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Após intervenção, FAB diz que situação está controlada

Para Aeronáutica, ação para isolar os líderes dos controladores está sendo um sucesso

Para o brigadeiro José Carlos Pereira, o "que criava o problema foi eliminado"; na noite de ontem, atrasos eram de 21,6% dos vôos

Apu Gomes/Folha Imagem
Passageiros lotaram o espaço reservado ao check-in no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, no início da manhã de ontem, que registrava então 22,3% de vôos atrasados e quatro cancelados

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende fazer um pronunciamento em rádio e televisão amanhã ou terça-feira, caso se concretize a expectativa da Aeronáutica de normalização do tráfego aéreo até hoje ao meio-dia.
Na avaliação feita ontem na Aeronáutica, a operação de emergência para isolar os líderes do movimento dos controladores e debelar a crise está sendo um sucesso e terá desdobramentos políticos: a capitalização popular por parte de Lula e o fortalecimento do controle militar sobre o tráfego aéreo.
Em nota ontem, a Força Aérea Brasileira diz que o "volume de tráfego aéreo está se encaixando em um ritmo normal em todo o país". "O Comando da Aeronáutica ressalta que essa recuperação da normalidade no fluxo do tráfego vem sendo conseguida devido ao profissionalismo dos controladores do Departamento de Controle do Espaço Aéreo que, desde ontem, vêm cumprindo suas funções com eficiência", diz a nota.
A única resistência à ordem de prisão de um controlador e ao afastamento de 13 outros do Cindacta-1 (o centro de controle de Brasília), na sexta-feira, foi registrada no Cindacta-4, de Manaus. Um controlador se recusou a operar os consoles dos radares e foi substituído.
A expectativa de tranqüilidade a partir de hoje foi creditada pelo presidente da Infraero (estatal que administra os aeroportos), brigadeiro José Carlos Pereira, à retirada dos 14 líderes do movimento dos controladores de vôo do serviço. "O que criava o problema foi eliminado", afirmou.
Segundo o brigadeiro, "até o meio-dia de amanhã [hoje], a situação nos aeroportos estará normalizada". Ele acrescentou que poderiam ocorrer apenas atrasos considerados normais ou provocados por mau tempo, como nevoeiros.
O retorno gradual da normalidade no tráfego aéreo -os atrasos às 19h30 de ontem eram de 21,6% dos vôos- foi transmitido ontem ao presidente Lula, que passa o fim de semana em Brasília.
Hoje à tarde, o Comando da Força Aérea fará reunião para uma avaliação sobre a situação, e o comandante Juniti Saito deve voltar a falar à imprensa.
Apesar da expectativa positiva, o governo ainda teme um recrudescimento do movimento dos controladores de vôo em reação à punição dos líderes. O principal teste do plano de emergência da FAB será amanhã, quando o movimento dos aeroportos retorna ao normal.
No fim de semana, a redução no número de vôos estava ajudando a normalizar o fluxo aéreo.
Comemoração discreta
Ontem, o clima no Comando da Aeronáutica era de comemoração discreta, contida. Na avaliação de oficiais, o governo tentou isolar a Aeronáutica e resolver o problema durante nove meses politicamente, "passando a mão na cabeça" dos líderes, e o resultado foi o fortalecimento do movimento e a crise dos aeroportos.
A crise, na versão deles, só começou a ser resolvida quando o presidente Lula devolveu o controle da situação para a Força Aérea e autorizou a preparação de um plano de contingência caso os controladores ameaçassem parar novamente o país, como em 30 de março.
Nessa avaliação, o problema só foi resolvido com a intervenção e a autonomia da FAB.
Em vez de "desmilitarizar" o tráfego aéreo, como defendeu publicamente o ministro da Defesa, Waldir Pires, no início da crise, Lula acabou autorizando justamente o contrário: a solução, a operação, a forma e os desdobramentos foram todos essencialmente militares.
A próxima etapa será na Justiça, para onde será enviado, provavelmente em dez dias, o resultado do IPM (Inquérito Policial Militar) que apura responsabilidades pela greve de 30 de março. A Aeronáutica prevê enquadramento dos líderes no crime de "motim". Os controladores reagem dizendo que não há motim sem uso de armas.
Eles correm o risco de ser expulsos da Força, sem direito a prestar novos concursos para qualquer cargo público.


Colaboraram VINICIUS ABBATE e ANGELA PINHO , da Sucursal de Brasília


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