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Após intervenção, FAB diz que situação está controlada
Para Aeronáutica, ação para isolar os líderes dos controladores está sendo um sucesso
Para o brigadeiro José Carlos Pereira, o "que criava o problema foi eliminado"; na noite de ontem, atrasos eram de 21,6% dos vôos
Apu Gomes/Folha Imagem
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Passageiros lotaram o espaço reservado ao check-in no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, no início da manhã de ontem, que registrava então 22,3% de vôos atrasados e quatro cancelados
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende fazer um
pronunciamento em rádio e televisão amanhã ou terça-feira,
caso se concretize a expectativa
da Aeronáutica de normalização do tráfego aéreo até hoje ao
meio-dia.
Na avaliação feita ontem na
Aeronáutica, a operação de
emergência para isolar os líderes do movimento dos controladores e debelar a crise está
sendo um sucesso e terá desdobramentos políticos: a capitalização popular por parte de Lula
e o fortalecimento do controle
militar sobre o tráfego aéreo.
Em nota ontem, a Força Aérea Brasileira diz que o "volume
de tráfego aéreo está se encaixando em um ritmo normal em
todo o país". "O Comando da
Aeronáutica ressalta que essa
recuperação da normalidade
no fluxo do tráfego vem sendo
conseguida devido ao profissionalismo dos controladores do
Departamento de Controle do
Espaço Aéreo que, desde ontem, vêm cumprindo suas funções com eficiência", diz a nota.
A única resistência à ordem
de prisão de um controlador e
ao afastamento de 13 outros do
Cindacta-1 (o centro de controle de Brasília), na sexta-feira,
foi registrada no Cindacta-4, de
Manaus. Um controlador se recusou a operar os consoles dos
radares e foi substituído.
A expectativa de tranqüilidade a partir de hoje foi creditada
pelo presidente da Infraero (estatal que administra os aeroportos), brigadeiro José Carlos
Pereira, à retirada dos 14 líderes do movimento dos controladores de vôo do serviço. "O
que criava o problema foi eliminado", afirmou.
Segundo o brigadeiro, "até o
meio-dia de amanhã [hoje], a
situação nos aeroportos estará
normalizada". Ele acrescentou
que poderiam ocorrer apenas
atrasos considerados normais
ou provocados por mau tempo,
como nevoeiros.
O retorno gradual da normalidade no tráfego aéreo -os
atrasos às 19h30 de ontem
eram de 21,6% dos vôos- foi
transmitido ontem ao presidente Lula, que passa o fim de
semana em Brasília.
Hoje à tarde, o Comando da
Força Aérea fará reunião para
uma avaliação sobre a situação,
e o comandante Juniti Saito deve voltar a falar à imprensa.
Apesar da expectativa positiva, o governo ainda teme um
recrudescimento do movimento dos controladores de vôo em
reação à punição dos líderes. O
principal teste do plano de
emergência da FAB será amanhã, quando o movimento dos
aeroportos retorna ao normal.
No fim de semana, a redução no
número de vôos estava ajudando a normalizar o fluxo aéreo.
Comemoração discreta
Ontem, o clima no Comando
da Aeronáutica era de comemoração discreta, contida. Na
avaliação de oficiais, o governo
tentou isolar a Aeronáutica e
resolver o problema durante
nove meses politicamente,
"passando a mão na cabeça"
dos líderes, e o resultado foi o
fortalecimento do movimento
e a crise dos aeroportos.
A crise, na versão deles, só começou a ser resolvida quando o
presidente Lula devolveu o
controle da situação para a Força Aérea e autorizou a preparação de um plano de contingência caso os controladores
ameaçassem parar novamente
o país, como em 30 de março.
Nessa avaliação, o problema só
foi resolvido com a intervenção
e a autonomia da FAB.
Em vez de "desmilitarizar" o
tráfego aéreo, como defendeu
publicamente o ministro da
Defesa, Waldir Pires, no início
da crise, Lula acabou autorizando justamente o contrário:
a solução, a operação, a forma e
os desdobramentos foram todos essencialmente militares.
A próxima etapa será na Justiça, para onde será enviado,
provavelmente em dez dias, o
resultado do IPM (Inquérito
Policial Militar) que apura responsabilidades pela greve de 30
de março. A Aeronáutica prevê
enquadramento dos líderes no
crime de "motim". Os controladores reagem dizendo que não
há motim sem uso de armas.
Eles correm o risco de ser expulsos da Força, sem direito a
prestar novos concursos para
qualquer cargo público.
Colaboraram VINICIUS ABBATE e ANGELA PINHO , da Sucursal de Brasília
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