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DANUZA LEÃO
As datas
Mas um dia você se
vê às vésperas do tal aniversário e sem nenhuma vontade especial de nada
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ANIVERSÁRIO: sempre o mesmo problema.
Quando você é criança, é
ótimo. Em primeiro lugar não se vai
à escola, e em segundo tem os presentes. Pai, mãe, tios, avós, padrinhos, todos perguntam o que você
gostaria de ganhar, e no dia da festa a
cama ficava cheia de embrulhos -ô
coisa boa. Depois, tinha a festa, com
direito a convidar todos os amigos,
sem limite. O bolo era normal -nada de campo de futebol com os jogadores-, e como decoração, no máximo, umas bolas de soprar; e precisava mais?
Com o tempo passando, as coisas
foram se complicando: quem tem
mais de dez anos acha uma babaquice bolo com velas e quer que a festa
seja numa discoteca, com som techno e tudo. E as meninas vão feito
umas anãzinhas, de botinha de salto
alto, unhas pintadas e maquiagem
feita por um profissional do ramo
-o efeito Xuxa. Depois dos 11, 12,
existe a azaração e a ficação, para desespero das mães e dos pais, que,
aliás, são proibidos de pisar no recinto da festa. Como deve ser difícil
ser mãe e pai a essa altura do campeonato, cruzes.
Aí se chega aos 30, 35, e a opção
costuma ser jantar com casais num
restaurante da moda, ou uma amiga
oferece um jantar.
Não chega a ser muito divertido;
afinal, festa só existe com um objetivo: arranjar namorado. Como isso é
difícil de acontecer, a noite só serve
para lembrar que o tempo está passando, e rápido.
Mas um dia você se vê às vésperas
do tal aniversário sem ter a mais vaga idéia do que vai fazer e sem nenhuma vontade especial de nada.
Quer estar com seus maiores amigos? Mas você já vê sempre esses
amigos, qual a graça especial desse
dia? Quer ganhar presentes? Mas já
tem tudo que precisa, e se quando
entra numa loja para comprar uma
simples bolsa já leva tanto tempo na
dúvida, é o caso de pensar: se não
consegue escolher o que quer, imagina outra pessoa. Que tal ficar sozinha em casa como se fosse um dia
qualquer?
Difícil: e se cair numa deprê? Se
pudesse combinar de jantar com um
amigo sem que ele soubesse que é
seu aniversário, talvez fosse uma solução, mas não vai escapar dos telefonemas de parabéns, e sobretudo
da pergunta repetida 30 vezes "E vai
fazer o quê?" Muito difícil a vida.
Ninguém se conforma com a resposta "Não sei, não combinei nada".
Como, não sabe? Fica difícil explicar
que tanto faz, que vai passar um dia
como todos os outros e que, se for
para casa sozinha, pode também
não cair em depressão alguma, e
pensar com um certo orgulho que
superou certas convenções, certas
datas.
Mas já que ficou convencionado
que no dia do aniversário se tem certos direitos, comece pelo mais elementar: tire o telefone do gancho.
Peça uma comida bem boa por telefone, faça um uísque e ponha um belo de um CD -um Chet Baker, por
exemplo- e comece a se preparar
para ser feliz; pense em como é bom
não ter que brindar com ninguém,
não ter que agradecer as felicidades
e os felizes aniversários que te desejam. Ficar quietinha com você mesma -nem eufórica, nem deprimida.
Apenas tomando um uísque sozinha, que é uma das coisas mais agradáveis que existem.
Vá para a cama cedo, lá pelas 11h,
tendo a felicidade de se achar uma
pessoa sensata, equilibrada e em paz
com a vida. E se for preciso, tome um
tranqüilizante: geralmente é.
No dia seguinte se prepare, pois a
galera do trabalho não esquece nunca; mas proíba que cantem o "Parabéns pra Você", pois existem limites
para tudo.
E lembre de que, agora, só daqui a
um ano -que felicidade.
danuza.leao@uol.com.br
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