São Paulo, domingo, 24 de junho de 2007 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GILBERTO DIMENSTEIN Teste para saber se você está morrendo
AO INVESTIGAR A ATITUDE de
idosos diante da internet, o
Datafolha captou uma relação entre o gosto de aprender de idosos e a saúde. Manter a curiosidade,
portanto, é percebido como um remédio para o corpo e a mente.
Educam-se as crianças e os jovens para o futuro. Esse é o sentido da pergunta, tão repetida, "o-que-você-vai-ser-quando-crescer?". Os alunos são preparados para fazer provas, passar de ano, passar no vestibular, ter uma profissão e, depois, se reciclarem para manter o emprego. Encerrada a utilidade do conhecimento, estudar já não faria mais sentido. Por isso, segundo a pesquisa do Datafolha, apenas 12% dos idosos participam de alguma atividade educativa. Condena-se, assim, um indivíduo à morte antecipadamente; afinal, não seria mais produtivo. Tais sinais são emitidos por todos os lados -na semana passada, tivemos um bom exemplo deles. Um dos mais notáveis avanços brasileiros -um dos pontos altos de toda a gestão Lula- é o ranking, divulgado na quinta-feira, de todas as escolas públicas, baseado em critérios objetivos e com metas de curto, médio e longo prazos. Parte desse índice é composta por notas de português e matemática, base para os demais aprendizados. Pela primeira vez, temos índices de qualidade tão detalhados, expondo (o que é ótimo) os casos de sucesso e de fracasso, demandando mais dos professores, das famílias, das comunidades, inclusive dos meios de comunicação. Não podemos, porém, nos iludir: saber matemática e português é o básico dos básicos, mesmo na visão utilitária da educação. É um primeiro passo imprescindível, mas é muito pouco. Se tudo der certo e atingirmos as metas, em 2022, teremos o padrão educacional do Reino Unido. Tente acompanhar os amargos debates dos ingleses sobre as escolas públicas (que são tão amargos quanto os dos brasileiros) para ver o tamanho do desafio. Usufruir os benefícios sociais, culturais, econômicos e tecnológicos de uma sociedade implica muito mais do que ir bem nas provas. Implica o desenvolvimento de atitudes. Entre as principais habilidades exigidas para os profissionais estão autonomia de aprendizado, criatividade e empreendedorismo. Não por outro motivo, as empresas investem cada vez mais na formação contínua de seus funcionários. Melhores escolas são sinônimo de distribuição de renda, crescimento econômico, inovação tecnológica, cidadãos mais atentos e por aí vai. Para a imensa maioria, isso seria o ideal -e, pragmaticamente, é mesmo o ideal, sobretudo vendo a realidade brasileira, com tanta gente que não entende o que lê. Mas esse ainda é apenas um pedaço do valor da educação, para quem considera que a graça da aventura humana é sentir sempre o gosto da descoberta, independentemente da idade em que esteja. Daí que envelhecer não deveria ser o fim da vida útil, mas a chance de aprender novas coisas -isso se sabe desde criança. PS - Um dos fatos mais revoltantes do Ideb -além da mediocridade geral- é a terrível homenagem a um dos maiores educadores de nossa história. A pior escola, localizada no interior do Paraná, chama-se Monteiro Lobato, autor da frase "um país se faz com homem e livros" -um caso de quem viveu para aprender. Sugiro que, até ela melhorar, fique, provisoriamente, com o nome do prefeito ou do governador. Aliás, poderíamos fazer esse tipo de batismo em todo o país, dando o nome dos atuais governantes aos colégios com pior colocação no ranking -talvez a homenagem às avessas servisse de estímulo para que tratassem o ensino público com mais empenho, construindo menos prédios e valorizando mais os professores.
gdimen@uol.com.br |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |