São Paulo, terça-feira, 24 de junho de 2008

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entrevista

Governo não dialogou, afirma professor da USP

RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL

Na visão do professor Romualdo Portela de Oliveira, do departamento de administração escolar da Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo), o governo de São Paulo acertou ao buscar diminuir a rotatividade de professores nas escolas estaduais, mas errou ao tentar alcançar esse objetivo baixando um decreto sem consultar o sindicato dos docentes. A categoria decretou greve no dia 13.
Com o decreto, os professores agora só podem mudar de escola se estiverem na rede de ensino há pelo menos três anos e só podem substituir um colega em outra escola se ficarem ao menos 200 dias letivos no cargo de substituição. O governo admite que não ouviu o sindicato antes de fazer as mudanças. A seguir, trechos da entrevista de Oliveira à Folha:

 

FOLHA - O sindicato tem razão?
ROMUALDO PORTELA DE OLIVEIRA -
A secretaria [da Educação] acabou tomando as decisões [criando o decreto] unilateralmente, sem uma tentativa de diálogo com o sindicato. Aparentemente, não faz parte da agenda da secretaria a idéia de negociar, a visão de que o sindicato é um interlocutor possível. Acaba sendo uma política de confronto.

FOLHA - Por que não dialoga?
OLIVEIRA -
Porque acredita que o sindicato tem uma visão corporativista, que o sindicato resiste a pensar em questões de interesse geral, para além da categoria. Mas isso nem sempre é verdade.

FOLHA - Um dos objetivos do decreto é impedir que os professores mudem muito de escola...
OLIVEIRA -
É razoável que as escolas tenham equipes mais fixas. A mudança de professores impede a construção de projetos de longo e de médio prazo nas escolas.

FOLHA - Os professores não são contrários a esse objetivo, são?
OLIVEIRA -
Tanto o sindicato quanto a secretaria querem manter quadros estáveis na escola. Há pontos comuns, coisas que todos reconhecem como importantes. O problema foi como a secretaria implementou essa política. Às vezes a gente acaba tendo uma polarização em torno de certas questões e perde a oportunidade de construir uma convergência. Cria-se uma animosidade desnecessária.

FOLHA - O sindicato se queixa de que os docentes temporários agora terão de fazer uma prova que definirá quem terá prioridade para assumir turmas...
OLIVEIRA -
Se a lógica do acesso ao cargo efetivo é o concurso, não vejo por que você não teria um processo semelhante para preencher os cargos disponíveis para temporários. Na universidade, que é o meu caso, você tem contratos temporários e são mediante concurso.

FOLHA - Como o sr. vê a atuação do sindicato?
OLIVEIRA -
O sindicato, por natureza, tem de negociar. E a greve faz parte. Se a greve não tem eco no magistério, o sindicato enfraquece, lidera nada. Se tem repercussão, ele se legitima como interlocutor de fato.

FOLHA - Para o sindicato, mais de 60% das escolas aderiram à greve. Para a secretaria, 2% dos docentes aderiram...
OLIVEIRA -
Na guerra, a primeira coisa que desaparece é a verdade. A informação passa a ser uma arma. Cada lado faz seu exagero.


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