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Quem antes fugia da seca agora se converte em retirante da chuva
FÁBIO GUIBU
ENVIADO ESPECIAL A UNIÃO DOS PALMARES (AL)
Há 44 anos, José Siqueira
Campos, 56, fugiu com a família da seca que assolava a
zona rural de Pesqueira, no
interior de Pernambuco. Foi
buscar refúgio em Recife.
Hoje vivendo em União
dos Palmares, em Alagoas,
Campos quer fazer o caminho inverso. Ele faz parte da
legião dos retirantes da chuva, nordestinos que tentam
fugir das cheias que já provocaram a morte de 45 pessoas
e obrigaram 154 mil a deixar
suas casas na região.
"Aqui eu não fico mais",
diz, sentado em frente ao que
restou da sua casa após a
cheia do rio Mundaú, no fim
de semana. "Já corri da seca,
agora quero fugir da água."
Campos, que trabalhava
como vendedor ambulante,
mudou-se seis anos atrás para União dos Palmares, cidade onde nove pessoas morreram com as chuvas. Ao lado
da mulher, Luiza, e a filha,
Jaqueline, buscava "viver
uma vida de paz".
A família morava em uma
pequena casa de alvenaria,
com dois quartos, a cerca de
50 metros da margem da rio.
Segundo ele, o Mundaú já
havia transbordado outras
vezes, mas nunca havia provocado tanta destruição.
"De repente, a água subiu
e saiu derrubando tudo. Só
deu tempo de a gente fugir
pelos fundos e salvar a televisão e o aparelho de som."
"Fiquei sem nada", afirma
ele. "Nem água para beber
tem, está igual ao sertão",
compara. "Já vivi na seca e na
chuva, e digo que prefiro a
seca. Pelo menos a gente não
perde a casa e sempre dá um
jeito para comer e beber."
O ambulante passa dia e
noite sentado em frente aos
escombros para proteger o
que restou dos saqueadores.
Na BR-104, que dá acesso a
vários municípios destruídos
pelos temporais, retirantes
da chuva em debandada se
misturam aos desabrigados
que caminham no acostamento em busca de água para lavar roupas e panelas.
Em uma carroça, o cortador de cana-de-açúcar Robson Lourenço da Silva, 38,
deixava ontem a cidade de
Murici (a 60 km de Maceió),
carregando a geladeira que
conseguiu resgatar.
"Vou embora, aqui não
tem mais como ficar. Vou para a casa de parentes, na fazenda, e ficar por lá, enquanto Deus dá um jeito de conseguir tudo de novo. O importante é que a família tá bem."
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