São Paulo, segunda-feira, 24 de julho de 2000 |
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Norte-americano apóia a criação de sistema no Brasil
Caio Guatelli/Folha Imagem
O presidente da Associação Nacional dos Profissionais dos Tribunais de Drogas dos EUA, Jeffrey Tauber, durante entrevista em SP
DA REPORTAGEM LOCAL
O COMEÇO - Quando eu comecei
na minha corte de drogas, na Califórnia, existiam outras duas ou
três similares, em todo o país, experimentando a idéia. Hoje, são
cerca de 600 cortes de drogas espalhadas pelos EUA. Quando
fundamos a associação, em 1994,
éramos 25 pessoas de 12 cortes de
drogas sentadas em torno de uma
mesa em Alexandria, Virgínia.
Duas semanas atrás tivemos nossa sexta conferência anual, que
reuniu 3.000 pessoas. ENVOLVIMENTO - O modo como
as cortes de drogas se iniciam é tipicamente o mesmo. Começa
com o envolvimento de um juiz,
que busca o promotor, que busca
o provedor de tratamento... E eles
dão início ao processo, que pode
demorar de alguns meses até um
ano, tempo em que eles desenham a corte e seu programa. RECURSOS - Alguns recursos são
disponibilizados pelo governo federal, apesar de serem limitados.
Temos US$ 40 milhões disponíveis para cerca de 600 cortes. Não
é muito dinheiro. Há uma pequena parte que vem de cada governo
estadual. Mas, ultimamente, é o
envolvimento da comunidade
que faz as cortes trabalharem. ESTATÍSTICAS - O professor Steven Belenko, da Universidade de
Colúmbia, visitou 24 cortes de
drogas em 1998 em todo o país.
Ele concluiu que as cortes de drogas eram o meio mais efetivo de
controlar a dependência de tóxicos e os índices de criminalidade
do que qualquer outra alternativa
existente. Em 1999, ele esteve em
48 cortes e o resultado foi o mesmo. Ele estudou o tempo que as
pessoas ficam em tratamento.
Concluiu que quando elas procuram a desintoxicação, metade
abandona o tratamento em três
meses. Quando está numa corte
de drogas, 60% deles continuam
em tratamento após um ano. NÃO É PUNIÇÃO - É importante
saber que o programa não é uma
punição. A maioria pensa que prisão é uma punição e ela é usada
aqui de vez em quando, como
sanção gradativa, para motivar as
pessoas a mudar seu comportamento. Eu penso que é mais humano e melhor para toda a sociedade limitar a prisão e usá-la só
quando for necessário. ERRO E CRIATIVIDADE- Existe
uma lição muito importante a ser
aprendida dos Estados Unidos.
Nós cometemos alguns erros terríveis e tivemos falhas no modo
como achávamos que deveríamos
lidar com o problema das drogas:
nós tentamos construir um caminho que nos tirasse do problema,
construindo cadeias. E o que fizemos foi construir prisões, como
algumas na Califórnia, que gastaram mais dinheiro do que investimos em educação. Nós aprendemos do jeito mais difícil. Você
tem que ser criativo, tem que tratar o viciado como um ser humano. Se há alguma coisa para alertar, é a prisão e a cadeia não são a
resposta para usuários de drogas,
mas para traficantes, assassinos
em série ou coisa do tipo. O JUIZ CERTO - O juiz certo é
aquele que se preocupa com a
pessoa com a qual está lidando. O
que não significa que o juiz tem de
ser fácil ou mole, mas que aquela
que tenta ter um impacto positivo
nas pessoas que vêm diante dele.
Significa que o juiz vai mandar
para a prisão uma pessoa que precisa ir para lá.
(FL) |
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