São Paulo, segunda-feira, 24 de julho de 2000


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Norte-americano apóia a criação de sistema no Brasil

Caio Guatelli/Folha Imagem O presidente da Associação Nacional dos Profissionais dos Tribunais de Drogas dos EUA, Jeffrey Tauber, durante entrevista em SP DA REPORTAGEM LOCAL

O ex-juiz norte-americano Jeffrey Tauber, presidente da Associação Nacional dos Profissionais dos Tribunais de Drogas dos Estados Unidos (em inglês, a sigla é NADCP), afirma que tratar o usuário é a melhor forma de barrar o tráfico.
"Se você consegue parar o uso de drogas, você acaba com a fonte do traficante", afirma.
Tauber esteve no Brasil no mês passado divulgando as cortes de drogas para juízes no Rio de Janeiro e em São Paulo. Para ele, é perfeitamente possível implantar o sistema no Brasil, respeitadas as diferenças culturais.
"Os conceitos gerais são universais. O cérebro de um norte-americano ou o de um brasileiro é igualmente afetado pelas drogas."
Leia a seguir os principais trechos da entrevista à Folha.

O COMEÇO - Quando eu comecei na minha corte de drogas, na Califórnia, existiam outras duas ou três similares, em todo o país, experimentando a idéia. Hoje, são cerca de 600 cortes de drogas espalhadas pelos EUA. Quando fundamos a associação, em 1994, éramos 25 pessoas de 12 cortes de drogas sentadas em torno de uma mesa em Alexandria, Virgínia. Duas semanas atrás tivemos nossa sexta conferência anual, que reuniu 3.000 pessoas.

ENVOLVIMENTO - O modo como as cortes de drogas se iniciam é tipicamente o mesmo. Começa com o envolvimento de um juiz, que busca o promotor, que busca o provedor de tratamento... E eles dão início ao processo, que pode demorar de alguns meses até um ano, tempo em que eles desenham a corte e seu programa.

RECURSOS - Alguns recursos são disponibilizados pelo governo federal, apesar de serem limitados. Temos US$ 40 milhões disponíveis para cerca de 600 cortes. Não é muito dinheiro. Há uma pequena parte que vem de cada governo estadual. Mas, ultimamente, é o envolvimento da comunidade que faz as cortes trabalharem.

ESTATÍSTICAS - O professor Steven Belenko, da Universidade de Colúmbia, visitou 24 cortes de drogas em 1998 em todo o país. Ele concluiu que as cortes de drogas eram o meio mais efetivo de controlar a dependência de tóxicos e os índices de criminalidade do que qualquer outra alternativa existente. Em 1999, ele esteve em 48 cortes e o resultado foi o mesmo. Ele estudou o tempo que as pessoas ficam em tratamento. Concluiu que quando elas procuram a desintoxicação, metade abandona o tratamento em três meses. Quando está numa corte de drogas, 60% deles continuam em tratamento após um ano.

NÃO É PUNIÇÃO - É importante saber que o programa não é uma punição. A maioria pensa que prisão é uma punição e ela é usada aqui de vez em quando, como sanção gradativa, para motivar as pessoas a mudar seu comportamento. Eu penso que é mais humano e melhor para toda a sociedade limitar a prisão e usá-la só quando for necessário.

ERRO E CRIATIVIDADE- Existe uma lição muito importante a ser aprendida dos Estados Unidos. Nós cometemos alguns erros terríveis e tivemos falhas no modo como achávamos que deveríamos lidar com o problema das drogas: nós tentamos construir um caminho que nos tirasse do problema, construindo cadeias. E o que fizemos foi construir prisões, como algumas na Califórnia, que gastaram mais dinheiro do que investimos em educação. Nós aprendemos do jeito mais difícil. Você tem que ser criativo, tem que tratar o viciado como um ser humano. Se há alguma coisa para alertar, é a prisão e a cadeia não são a resposta para usuários de drogas, mas para traficantes, assassinos em série ou coisa do tipo.

O JUIZ CERTO - O juiz certo é aquele que se preocupa com a pessoa com a qual está lidando. O que não significa que o juiz tem de ser fácil ou mole, mas que aquela que tenta ter um impacto positivo nas pessoas que vêm diante dele. Significa que o juiz vai mandar para a prisão uma pessoa que precisa ir para lá. (FL)


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