São Paulo, quarta-feira, 24 de julho de 2002

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TRANSPORTES

Marta viajou de ônibus, mas, ao contrário do que mostra pesquisa, não teve de esperar; viações vão boicotar nova licitação

Usuário fica 33 minutos por dia no ponto

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

A prefeita Marta Suplicy testou ontem os serviços do transporte coletivo de São Paulo, deu razão à insatisfação dos passageiros, reconheceu que não houve melhorias significativas em seu mandato e reclamou da falta de troco.
Ela fez duas viagens na zona leste, na área líder em multas e reclamações, mas não chegou a vivenciar dois dos principais problemas dos usuários: a demora deles para chegar aos pontos e a espera para os veículos passarem.
Marta utilizou os ônibus das linhas Cidade Tiradentes-Penha e Cidade Tiradentes-Metrô Paraíso. Começou a primeira viagem às 7h15 e terminou a segunda por volta das 8h15, mas não perdeu 42% de seu tempo de deslocamento com a caminhada ao ponto e a espera pelo ônibus, conforme a maioria dos paulistanos.
Uma pesquisa encomendada pela Secretaria dos Transportes, feita dois meses atrás, mostrou que os passageiros de ônibus da capital paulista gastam, em média, 118 minutos para se deslocar na ida e na volta, sendo 16 minutos (14%) só para chegar ao ponto e 33 minutos (28%) de espera no ponto pela passagem do veículo.
A mesma pesquisa apontou que os usuários do consórcio quatro, cujos serviços Marta testou ontem, são os principais insatisfeitos com os ônibus em São Paulo: 31% deles classificam os serviços como ruins/péssimos, contra a média de 25% no restante do sistema.

Troco
A prefeita chegou de carro às 7h05 ao ponto final da linha Cidade Tiradentes-Penha, onde os ônibus ficam estacionados em um terreno sem asfalto. Da doméstica Rosângela Maria Alves, 25, ouviu reclamações sobre a falta de veículos. "Quase todo dia eu chego atrasada. Fico no ponto esperando quase uma hora", afirmou Rosângela.
Marta também conversou com um motorista que, nos últimos quatro anos, sofreu nove assaltos dentro do ônibus. "Eu quero trabalhar com mais segurança", pediu Mário Francisco Alves, 53.
A prefeita subiu no primeiro ônibus e tirou da carteira duas notas de R$ 1 para pagar a passagem de R$ 1,40. Ficou indignada ao saber que teria de esperar para obter o troco no final da viagem. No meio do veículo, uma porta levava a inscrição "com defeito".
Após sair do primeiro ônibus, Marta conversou com alguns passageiros do terminal Cidade Tiradentes e logo subiu em outro veículo. Alguns usuários reclamaram que a entrada da prefeita atrasou a viagem. "Está atrasado, motorista", gritava Dorival Luis Mirando, 40, mecânico que logo emendou uma pergunta à prefeita: "Por que nos horários de pico os ônibus demoram tanto?"
Marta reconheceu que a qualidade das viagens que fez ontem não foi diferente da época da campanha eleitoral, no final da gestão Celso Pitta, quando também andou de ônibus na cidade.

Boicote
"Continua ruim igual. Tem os ônibus novos que são melhores. Mas os empresários não mudaram os outros. A transformação é com a licitação", disse a prefeita, depositando suas promessas de melhoria na concorrência que será feita neste semestre para selecionar novos operadores e que poderá ter a participação até mesmo de empresas estrangeiras.
Mas representantes de todos os oito consórcios de empresas de ônibus que atuam na cidade participaram ontem de uma reunião e decidiram boicotar as novas regras da contratação emergencial.
Os empresários não entregarão suas propostas hoje, fim do prazo dado pela prefeitura. Eles contestam a alteração na forma de cálculo de remuneração. Hoje, 35% da arrecadação é proporcional à quantidade de passageiros transportados e o restante, ao custo fixo operacional. Pela nova regra, 70% da remuneração estará vinculada ao número de usuários.



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