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TRANSPORTES
Marta viajou de ônibus, mas, ao contrário do que mostra pesquisa, não teve de esperar; viações vão boicotar nova licitação
Usuário fica 33 minutos por dia no ponto
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
A prefeita Marta Suplicy testou
ontem os serviços do transporte
coletivo de São Paulo, deu razão à
insatisfação dos passageiros, reconheceu que não houve melhorias significativas em seu mandato e reclamou da falta de troco.
Ela fez duas viagens na zona leste, na área líder em multas e reclamações, mas não chegou a vivenciar dois dos principais problemas dos usuários: a demora deles
para chegar aos pontos e a espera
para os veículos passarem.
Marta utilizou os ônibus das linhas Cidade Tiradentes-Penha e
Cidade Tiradentes-Metrô Paraíso. Começou a primeira viagem
às 7h15 e terminou a segunda por
volta das 8h15, mas não perdeu
42% de seu tempo de deslocamento com a caminhada ao ponto e a espera pelo ônibus, conforme a maioria dos paulistanos.
Uma pesquisa encomendada
pela Secretaria dos Transportes,
feita dois meses atrás, mostrou
que os passageiros de ônibus da
capital paulista gastam, em média, 118 minutos para se deslocar
na ida e na volta, sendo 16 minutos (14%) só para chegar ao ponto
e 33 minutos (28%) de espera no
ponto pela passagem do veículo.
A mesma pesquisa apontou que
os usuários do consórcio quatro,
cujos serviços Marta testou ontem, são os principais insatisfeitos
com os ônibus em São Paulo: 31%
deles classificam os serviços como
ruins/péssimos, contra a média
de 25% no restante do sistema.
Troco
A prefeita chegou de carro às
7h05 ao ponto final da linha Cidade Tiradentes-Penha, onde os
ônibus ficam estacionados em
um terreno sem asfalto. Da doméstica Rosângela Maria Alves,
25, ouviu reclamações sobre a falta de veículos. "Quase todo dia eu
chego atrasada. Fico no ponto esperando quase uma hora", afirmou Rosângela.
Marta também conversou com
um motorista que, nos últimos
quatro anos, sofreu nove assaltos
dentro do ônibus. "Eu quero trabalhar com mais segurança", pediu Mário Francisco Alves, 53.
A prefeita subiu no primeiro
ônibus e tirou da carteira duas notas de R$ 1 para pagar a passagem
de R$ 1,40. Ficou indignada ao saber que teria de esperar para obter
o troco no final da viagem. No
meio do veículo, uma porta levava a inscrição "com defeito".
Após sair do primeiro ônibus,
Marta conversou com alguns passageiros do terminal Cidade Tiradentes e logo subiu em outro veículo. Alguns usuários reclamaram que a entrada da prefeita
atrasou a viagem. "Está atrasado,
motorista", gritava Dorival Luis
Mirando, 40, mecânico que logo
emendou uma pergunta à prefeita: "Por que nos horários de pico
os ônibus demoram tanto?"
Marta reconheceu que a qualidade das viagens que fez ontem
não foi diferente da época da
campanha eleitoral, no final da
gestão Celso Pitta, quando também andou de ônibus na cidade.
Boicote
"Continua ruim igual. Tem os
ônibus novos que são melhores.
Mas os empresários não mudaram os outros. A transformação é
com a licitação", disse a prefeita,
depositando suas promessas de
melhoria na concorrência que será feita neste semestre para selecionar novos operadores e que
poderá ter a participação até mesmo de empresas estrangeiras.
Mas representantes de todos os
oito consórcios de empresas de
ônibus que atuam na cidade participaram ontem de uma reunião
e decidiram boicotar as novas regras da contratação emergencial.
Os empresários não entregarão
suas propostas hoje, fim do prazo
dado pela prefeitura. Eles contestam a alteração na forma de cálculo de remuneração. Hoje, 35% da
arrecadação é proporcional à
quantidade de passageiros transportados e o restante, ao custo fixo operacional. Pela nova regra,
70% da remuneração estará vinculada ao número de usuários.
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