São Paulo, quarta-feira, 24 de julho de 2002

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Decisão de deputados inviabiliza a "segunda porta" em São Paulo

DA REPORTAGEM LOCAL

A Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo derrubou veto do governador Geraldo Alckmin (PSDB) e promulgou em 11 de setembro de 2001 artigos da lei nš 10.241/99 que proíbem o acesso diferenciado em serviços públicos de saúde.
Na prática, com a "derrubada" do veto, ficam inviabilizadas as "segundas portas" de hospitais públicos do Estado -o atendimento e o agendamento diferenciados que algumas unidades oferecem especialmente para pacientes do setor privado (planos e seguros de saúde).
Em São Paulo, esse atendimento diferenciado ocorre desde o fim da década de 70, quando o Incor (Instituto do Coração) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP passou a atender convênios.
A assessoria de imprensa da Secretaria de Estado da Saúde informou ontem desconhecer a nova redação da lei. A reportagem não conseguiu falar com o secretário José da Silva Guedes.
As partes da lei mantidas pela Assembléia, no entanto, foram publicadas em 11 de setembro de 2001 no "Diário Oficial".
A nova redação da lei abre precedente para novas ações contra unidades que praticam a "segunda porta", avalia o procurador do Ministério Público federal Marlon Weichert. O Ministério Público do Estado de São Paulo já acionou o HC (exceto Incor) por causa da "segunda porta". A Justiça de São Paulo foi favorável à manutenção do atendimento diferenciado ao setor privado e os promotores recorreram ao STJ (Superior Tribunal de Justiça).
Os hospitais que têm a "segunda porta" defendem esse atendimento como forma de injetar recursos na unidade, o que beneficiaria também usuários do SUS (Sistema Único de Saúde).
"A partir disso a manutenção da dupla porta é claramente ilegal", diz o autor da lei, deputado Roberto Gouveia (PT).
A questão da "segunda porta" gerou uma polêmica entre o médico José Aristodemo Pinotti, chefe do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da USP, e a direção do hospital. Pinotti disse que tinha mais de cem casos de câncer aguardando cirurgia -e que a "segunda porta" seria prejudicial ao atendimento desses doentes.
O hospital abriu uma sindicância e concluiu que nem todos tinham diagnóstico de câncer. Segundo Pinotti, o levantamento foi feito com prontuários desatualizados. A direção do HC não comenta o caso.



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