São Paulo, segunda-feira, 24 de julho de 2006

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Enterro das 7 crianças reúne 700 pessoas

Prefeitura de Diadema cedeu ônibus para levar amigos ao cemitério; mortes ocorreram após barco virar na represa Billings

Polícia afirma que irá investigar circunstâncias do acidente para apurar se houve omissão por parte dos familiares presentes

Apu Gomes/Folha Imagem
Guarda municipal observa caixão de uma das sete crianças mortas anteontem na represa Billings


DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um silêncio respeitoso, entrecortado pelo choro das mães, marcou ontem o velório e o enterro das sete crianças mortas em um acidente de barco na represa Billings, em São Bernardo do Campo (ABC), na tarde de sábado. Ônibus disponibilizados pela Prefeitura de Diadema levaram cerca de 700 pessoas ao cemitério municipal da cidade, onde os corpos foram enterrados. A maioria era formada por moradores da Vila Reid, vizinhos das três famílias que perderam suas crianças.
As famílias, amigas de longa data, costumavam passar os fins de semana na represa e os passeios a barco eram comuns. Anteontem, quando o programa se repetiu, o ambulante José da Silva Filho, 39, levou dez crianças para dar uma volta na represa. Pouco depois que entraram no barco, ele virou. Sete crianças entre 2 e 11 anos morreram afogadas. Ninguém usava colete salva-vidas.
"A gente sempre ia lá passar o fim de semana, somos amigos há muito tempo", diz Josivan Barbosa Jovino, que perdeu Karla da Silva Félix, 11, e Josivan Barbosa Filho, 5. "Os passeios eram corriqueiros e nunca tinha acontecido nenhum acidente. Foi uma tragédia."
Com mais cinco filhos e dois netos, Jovino diz que nunca mais voltará à represa. "Sempre andávamos de barco com as crianças e nunca aconteceu nada. Mas agora não vou perder mais nenhum filho afogado. Está todo mundo proibido de chegar perto da água."
Joelma, mãe de Ingrid Estevão dos Santos, 5, também afirma que não voltará mais ao local. "Tudo o que mais queria agora era minha filha de volta." Joelma também perdeu o sobrinho Wallace Estevão, 2.
Vizinhos das famílias, emocionados, diziam estar acostumados a ver os meninos brincando nas ruas. "Vou sentir falta das risadas, das brigas", falava Dora Souza, moradora do bairro. Ela foi ao enterro com o ônibus da prefeitura. "A gente não tinha dinheiro para vir, mas é importante dar uma força", afirmou.
Quando os corpos chegaram, às 14h15, a multidão se silenciou para acompanhar os sete caixõezinhos brancos. O velório durou pouco mais de uma hora e, às 15h30, Deverson William, 9, foi o primeiro a ser sepultado após uma oração rápida. Padres e pastores confortavam as famílias e a Guarda Civil Municipal tentava manter a ordem. Vários parentes tiveram de ser socorridos pela ambulância local. Os enterros acabaram por volta das 18h.

Investigação
Os pais das crianças poderão ser responsabilizados pelas mortes. O delegado da 3ª delegacia da cidade, Neliton Marques Cabral, que está investigando o caso, disse que colherá os depoimentos dos familiares presentes no acidente e, caso perceba que houve omissão dos pais, poderá puni-los.
Alguns pais disseram à polícia que Silva Filho levou as crianças para o passeio de barco sem consentimento.
"Como é possível que pais de crianças de três anos não saibam que elas saíram para brincar?", afirmou o delegado. "Uma série de erros causou o acidente: arrumaram um barco sem nenhuma condição e levaram as crianças para passear sem segurança porque já tinham feito isso antes."
Silva, que prestou depoimento na noite de anteontem, deverá ser indiciado por homicídio culposo. Ele confirmou que o passeio ocorria sempre: "Foi uma fatalidade. As crianças já tinham andado naquele barco".
Jovino, pai de Karla e Josivan Filho, acredita que foi o excesso de gente que fez o barco virar. "Acho que tinha muita criança. Quando vi os meninos se afogando, pulei na água, mas não consegui salvar meus filhos." Jennifer Ferreira Fabrício, 9, e Isabela Amanda Anacleto, 9, também morreram.
Até o fim da tarde de ontem, Isabelly Anacleto, 5 (irmã de Isabela), e Carolina Estevão dos Santos, 11, continuavam internadas. O estado de Isabelly era grave e o de Carolina, estável. Júlio Correia da Silva, 3, e Silva, que conduzia o barco, não tiveram ferimentos graves.

Colaboraram VINICIUS ABBATE e FERNANDA BASSETTE


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