São Paulo, domingo, 24 de julho de 2011

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Obras do Rodoanel deixam "órfãos" na região do ABC

Dezenas engravidaram e foram abandonadas com filhos por trabalhadores da via

São Bernardo do Campo teve aumento de 31% de gestantes, em 2008; prefeitura diz que não há relação nos casos

CRISTINA MORENO DE CASTRO
ADRIANO BRITO
DE SÃO PAULO

Edicleide, 39, conheceu "Ceará", 48, em 2009, num forró. Ele, operário do trecho sul do Rodoanel. Ela, moradora do Jardim Represa, bairro de São Bernardo do Campo, vizinho à obra inaugurada em março de 2010.
Namoraram, juntaram, ela engravidou, ele ficou com outra (que também engravidou), brigaram, ele sumiu.
O filho foi registrado, mas nunca recebeu um centavo de pensão. O paradeiro de "Ceará" é desconhecido.
Hoje, ela vive em uma casa de dois cômodos com o auxílio do Bolsa Família -pago pelo governo federal- e a pensão de outras duas filhas.
A história de Edicleide Maria dos Santos é apenas um dos relatos de gravidez e abandono ouvidos pela Folha em seis bairros carentes da cidade, vizinhos às obras iniciadas em 2007.
Líderes comunitários, moradores, funcionários da prefeitura e conselheiros tutelares afirmam que "dezenas de mulheres" -muitas delas, adolescentes- engravidaram durante os três anos em que cerca de 4.000 operários permaneceram no local (em todo o trecho sul, foram 11 mil empregados diretos).
"Foram muitas crianças órfãs, porque o pai sumiu e retornou para seus familiares", diz Evaldo Carvalho, 43, líder comunitário do Parque Los Angeles.

"PAI DE ONZE"
O município não tem o levantamento dos casos. Porém, em 2008, com os alojamentos já apinhados de operários, houve aumento de 31% no total de grávidas na cidade -e de 61% de gestantes com menos de 20 anos.
Em quatro das cinco unidades de saúde que atendem bairros do entorno da obra, houve aumentos de 40% a 82% -e de 73% a 91% no caso de gestantes adolescentes.
A prefeitura ressalta que, como houve aumento também em regiões distantes da obra, "não é possível concluir categoricamente que houve aumento significativo dessas ocorrências por causa dos relacionamentos fortuitos de operários do Rodoanel com as mulheres da região".
Nos cinco dias em que percorreu a região, a Folha conversou com seis mães, além de parentes e vizinhos de outras nove -total de 15 casos.
Um conselheiro tutelar que pede para não ser identificado confirma que foram "dezenas" -fora os casos que não chegaram ao conselho e os das maiores de idade.
No setor da conselheira Érica Santana, foram cinco adolescentes, entre 15 e 17 anos -além de denúncias de que um operário engravidou 11 meninas no bairro Areião.


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