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São Paulo, domingo, 24 de agosto de 2003

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NOVA CHANCE


Alcoólicos Anônimos reúnem-se em hospital da zona leste de SP

Grupo tenta recuperar dependentes

DA REPORTAGEM LOCAL

Um projeto inédito desenvolvido há cinco anos no hospital municipal de Ermelino Matarazzo, zona leste de São Paulo, tem ajudado na recuperação de pacientes alcoólatras.
Em vez de os doentes serem encaminhados a grupos de ajuda, como o AA (Alcoólicos Anônimos), são os integrantes desses grupos que vão até o hospital tentar convencer os pacientes a deixarem o álcool. A idéia é evitar que os pacientes, recuperados da crise, saiam do hospital e parem no primeiro boteco que encontrar pela frente.
Segundo o psiquiatra João Coimbra, coordenador do grupo de saúde mental do hospital, 30% das emergências psiquiátricas atendidas no local são provocadas por embriaguez. Por mês, são atendidos em média 600 casos de distúrbios psiquiátricos.
Ele afirma que após o início do trabalho dos voluntários do AA no hospital, pelo menos metade dos pacientes conseguiu se livrar, ainda que temporariamente, da bebida.
Os voluntários, porém, não são tão otimistas assim. "De cada dez que vêm nos ouvir, apenas um ou dois se interessam e vão nos procurar ao sair do hospital", diz Bruno, 59, que coordena um dos grupos do AA na zona leste e que está há 19 anos sem beber.
As reuniões acontecem diariamente, sempre às 20h, em uma sala do hospital. Na última quinta-feira, cinco pacientes que haviam sido internados naquele dia por algum distúrbio psiquiátrico provocado pelo álcool participaram do encontro.
Levados por uma enfermeira, os doentes se aproximaram cabisbaixos, sentaram-se nos lugares reservados escutaram as experiências dos voluntários do AA em silêncio, sem nenhuma demonstração de interesse ou entusiasmo.
Foi o caso de Luiz (o sobrenome não pode ser divulgado), 52, internado no hospital desde o último dia 10, depois de apresentar uma "tremedeira" após o almoço do Dia dos Pais.
Luiz nega que seja dependente do álcool. "Só preciso aprender a beber uma dose no almoço e outra na janta. Desse jeito não faz mal", diz ele.
Já o paciente Akendes, 29, reconhece ser dependente de álcool e drogas. Diz ter perdido as contas de quantas vezes foi levado ao hospital de Ermelino Matarazzo. "Sou freguês aqui. Todo mundo já me conhece. Sou um caso perdido", diz.
Akendes levou o primeiro copo de bebida à boca aos dez anos de idade. E nunca mais parou. Aos 12, experimentou pela primeira vez maconha. E também nunca mais parou.
Ele diz que os vícios são "apenas esses dois" e que para sustentá-los já furtou e roubou. "Fui parar cinco vezes na Febem", afirma Akendes.
Na madrugada de quinta-feira, ele deu entrada no hospital com crise convulsivas, após ter ingerido um litro de conhaque. "Fiz um bico e recebi a garrafa de pagamento", diz. (CLÁUDIA COLLUCCI)

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