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São Paulo, domingo, 24 de agosto de 2003

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RETRATOS DA METRÓPOLE

Só um terço da capital paulista ganha nota 5 em ranking que mede condições de vida da juventude

Estudo mapeia opções de jovem paulistano

LULIE MACEDO
ALESSANDRA KORMANN
DA REVISTA

Se fosse um exame, praticamente apenas um terço da "classe" seria aprovada -e, mesmo assim, a maioria passaria raspando. Em um índice inédito sobre as condições de vida que a cidade de São Paulo oferece à sua juventude, calculado pela prefeitura, apenas 36 dos 96 distritos da capital paulista obtiveram média acima de 0,5, entre 0 e 1 possíveis.
O retrato -uma espécie de versão distrital do IDH, o Índice de Desenvolvimento Humano criado pelo ONU para avaliar a qualidade de vida nos países- faz parte do Mapa da Juventude, pesquisa maior que investigou raça, escolaridade, trabalho, inclusão digital, hábitos de lazer e situação familiar em 5.250 domicílios.
O estudo, encomendado pela Coordenadoria da Juventude e desenvolvido pelo Cedec (Centro de Estudos de Cultura Contemporânea), entrevistou durante seis meses 2.260 jovens entre 15 e 24 anos, distribuídos em cinco zonas que os pesquisadores chamaram de homogêneas. Essa classificação ignora a divisão geográfica tradicional e constrói novos blocos a partir dos indicadores sociais de cada distrito -o que aproximou regiões distantes no mapa, mas próximas em condições de vida.
Foram levados em conta os percentuais de população jovem, mães adolescentes e viagens por lazer, além de crescimento populacional entre 1991 e 2000, mortalidade por homicídios, escolaridade, índice de mobilidade e rendimento familiar.
A tabulação de dados compôs um perfil para cada zona. Aylene Bousquat, especialista em saúde pública e professora da Universidade Católica de Santos, coordenou a pesquisa e acredita que a estatística pode indicar uma tendência, que pode funcionar como bússola para projetos futuros.
"É impossível desenvolver ações públicas sem identificar o comportamento e a diversidade da população. Um dos principais objetivos da elaboração do mapa é descobrir o que o jovem de São Paulo faz, do que ele gosta, pelo que se interessa", diz Alexandre Youssef, titular da Coordenadoria da Juventude.
O mapeamento pode servir para orientar o lançamento de programas em outras áreas da administração, como saúde (o conhecimento dos jovens sobre a Aids foi uma das questões investigadas) e lazer.
Um dos maiores investimentos do estudo foi o rastreamento das turmas da cidade, na tentativa de desvendar interesses comuns que unem os jovens em grupos específicos. Entre os 1.609 identificados, há desde anarquistas vegetarianos radicais a dançarinas evangélicas, e os grupos musicais são a formação mais frequente.
O estudo também revelou facetas paulistanas pouco lembradas, como a cordialidade típica das cidades pequenas em extremos do mapa. Os pesquisadores, cerca de 60 estudantes de ciências sociais da USP e PUC-SP, contam que os moradores chegavam a emprestar seus próprios guarda-chuvas.
Mas, para não desmentir o cotidiano de violência das periferias, em pelo menos um lugar o medo impediu que o levantamento fosse realizado, um local da Vila Prudente controlado pelo tráfico.

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