|
Próximo Texto | Índice
Para PT, gravação é armação de Saulo
Partido responsabiliza o secretário por fita em que preso orienta que petistas sejam poupados dos ataques; ele não comenta
Dirigente do PT diz que escuta não passa de picaretagem e afirma que a reportagem saiu apenas em razão da disputa eleitoral
ANDRÉ CARAMANTE
ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL
O PT afirmou ontem que a
escuta telefônica na qual um
preso é flagrado ordenando
ataques a políticos, poupando
apenas os do partido, é uma armação arquitetada pelo secretário da Segurança Pública,
Saulo de Castro Abreu Filho.
Na edição de ontem, a Folha
revelou que a polícia, com base
na escuta e por determinação
de Saulo, abriu inquérito recentemente para investigar se
existe ligação entre presidiários do PCC e militantes do PT.
O número do inquérito e a data
em que foi aberto não foram informados à Folha.
A gravação foi feita em 12 de
maio -data do início dos ataques do PCC- por uma autoridade da região oeste do Estado
que pede para não ser identificado por temer represália. Ele
avisou o governo sobre a gravação e o risco de ataques à época
e, nas últimas semanas, a encaminhou para a Secretaria da
Administração Penitenciária.
A acusação de armação eleitoral foi feita pelos presidentes
nacional e estadual do partido,
respectivamente, Ricardo Berzoini e Paulo Frateschi.
"Tenho a mais absoluta convicção de que se trata de uma
armação. Desconfio que o secretário da Segurança Pública
está por trás dessa armação, até
porque quem participou da
"Operação Castelinho" já tem
antecedentes", disse Berzoini,
referindo-se a uma ação policial na qual o governo paulista
é acusado de ter preparado
uma emboscada para matar 12
supostos membros do PCC.
Em nota oficial, Frateschi diz
que o PT não tem nenhuma ligação com a facção criminosa e
afirma: "trata-se de uma manobra eleitoreira, com objetivo
claro de impor desgaste ao PT".
O dirigente do partido no Estado falou em "arapuca" e criticou a Folha, dizendo que o jornal "preferiu tomar parte do
plano arquitetado por Saulo".
Em telefonema ao jornal,
Frateschi disse que tudo não
passa de picaretagem, ameaçou
processar o jornal e afirmou
que a reportagem saiu apenas
em razão da subida de Lula nas
pesquisas para a Presidência.
Ontem, após o governador
Cláudio Lembo (PFL) confirmar o inquérito, a Secretaria da
Segurança Pública enviou carta
à Folha dizendo que é falsa a
informação de que investiga se
há ligação entre presidiários do
PCC e petistas. Na nota, a assessoria diz ainda que Saulo
não recebeu as gravações. O secretário também não quis comentar as acusações do PT.
A nota é assinada pelo assessor de imprensa Enio Lucciola,
o mesmo que anteontem, em
outra mensagem ao jornal, disse que o Deic [delegacia que investiga o crime organizado]
aguarda autorização judicial
para usar a gravação em inquérito policial já em andamento.
Anteontem, a assessoria da
Delegacia Geral da Polícia Civil
também confirmou o inquérito. O governo, porém, não explicou porque a investigação
não foi aberta em maio, assim
que soube da escuta.
O PT deve pedir cópia da fita
e perícia. "Fita como essa pode
ser produzida por qualquer
pessoa mal intencionada. Mesmo que não seja falsa, o simples
fato de o inquérito ser instaurado agora demonstra interesse eleitoral", disse Berzoini.
Lula não comentou o assunto
publicamente ontem.
O presidenciável Geraldo
Alckmin (PSDB), por sua vez,
disse que o caso " é assunto da
polícia". "Cabe à polícia investigar e ver o que está por trás
disso." Já o tucano José Serra,
candidato ao governo, disse
que a "reportagem é auto-explicativa". "É só ler. São os petistas que precisam se explicar.
Não tenho nada para dizer."
O senador Aloizio Mercadante (PT), que disputa o governo, chamou ontem de "factóide" o inquérito policial. "Eu
estranho. Se é um episódio de
maio, por que só agora? Pelo
que li, um episódio de maio,
por que não foi investigado
com rigor? Por que deixar para
um mês [antes] da eleição, o
que me parece um factóide?
(Colaboraram a Agência Folha e a Sucursal de
Brasília)
Próximo Texto: "Trata-se de manobra eleitoreira", diz PT em nota Índice
|