São Paulo, quinta-feira, 24 de agosto de 2006

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Para PT, gravação é armação de Saulo

Partido responsabiliza o secretário por fita em que preso orienta que petistas sejam poupados dos ataques; ele não comenta

Dirigente do PT diz que escuta não passa de picaretagem e afirma que a reportagem saiu apenas em razão da disputa eleitoral


ANDRÉ CARAMANTE
ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O PT afirmou ontem que a escuta telefônica na qual um preso é flagrado ordenando ataques a políticos, poupando apenas os do partido, é uma armação arquitetada pelo secretário da Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho.
Na edição de ontem, a Folha revelou que a polícia, com base na escuta e por determinação de Saulo, abriu inquérito recentemente para investigar se existe ligação entre presidiários do PCC e militantes do PT. O número do inquérito e a data em que foi aberto não foram informados à Folha.
A gravação foi feita em 12 de maio -data do início dos ataques do PCC- por uma autoridade da região oeste do Estado que pede para não ser identificado por temer represália. Ele avisou o governo sobre a gravação e o risco de ataques à época e, nas últimas semanas, a encaminhou para a Secretaria da Administração Penitenciária.
A acusação de armação eleitoral foi feita pelos presidentes nacional e estadual do partido, respectivamente, Ricardo Berzoini e Paulo Frateschi.
"Tenho a mais absoluta convicção de que se trata de uma armação. Desconfio que o secretário da Segurança Pública está por trás dessa armação, até porque quem participou da "Operação Castelinho" já tem antecedentes", disse Berzoini, referindo-se a uma ação policial na qual o governo paulista é acusado de ter preparado uma emboscada para matar 12 supostos membros do PCC.
Em nota oficial, Frateschi diz que o PT não tem nenhuma ligação com a facção criminosa e afirma: "trata-se de uma manobra eleitoreira, com objetivo claro de impor desgaste ao PT".
O dirigente do partido no Estado falou em "arapuca" e criticou a Folha, dizendo que o jornal "preferiu tomar parte do plano arquitetado por Saulo".
Em telefonema ao jornal, Frateschi disse que tudo não passa de picaretagem, ameaçou processar o jornal e afirmou que a reportagem saiu apenas em razão da subida de Lula nas pesquisas para a Presidência.
Ontem, após o governador Cláudio Lembo (PFL) confirmar o inquérito, a Secretaria da Segurança Pública enviou carta à Folha dizendo que é falsa a informação de que investiga se há ligação entre presidiários do PCC e petistas. Na nota, a assessoria diz ainda que Saulo não recebeu as gravações. O secretário também não quis comentar as acusações do PT.
A nota é assinada pelo assessor de imprensa Enio Lucciola, o mesmo que anteontem, em outra mensagem ao jornal, disse que o Deic [delegacia que investiga o crime organizado] aguarda autorização judicial para usar a gravação em inquérito policial já em andamento.
Anteontem, a assessoria da Delegacia Geral da Polícia Civil também confirmou o inquérito. O governo, porém, não explicou porque a investigação não foi aberta em maio, assim que soube da escuta.
O PT deve pedir cópia da fita e perícia. "Fita como essa pode ser produzida por qualquer pessoa mal intencionada. Mesmo que não seja falsa, o simples fato de o inquérito ser instaurado agora demonstra interesse eleitoral", disse Berzoini. Lula não comentou o assunto publicamente ontem.
O presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB), por sua vez, disse que o caso " é assunto da polícia". "Cabe à polícia investigar e ver o que está por trás disso." Já o tucano José Serra, candidato ao governo, disse que a "reportagem é auto-explicativa". "É só ler. São os petistas que precisam se explicar. Não tenho nada para dizer."
O senador Aloizio Mercadante (PT), que disputa o governo, chamou ontem de "factóide" o inquérito policial. "Eu estranho. Se é um episódio de maio, por que só agora? Pelo que li, um episódio de maio, por que não foi investigado com rigor? Por que deixar para um mês [antes] da eleição, o que me parece um factóide?


(Colaboraram a Agência Folha e a Sucursal de Brasília)


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