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Garoto de 5 anos é intimado pela Justiça
Ele teve de comparecer a audiência no fórum de Serrana (SP) por ser acusado de, aos três anos, ter atirado pedra em carro
Policiais foram à casa do
garoto com um mandado
de busca e de apreensão; legalidade de procedimento é questionada pela OAB
JORGE SOUFEN JR.
DA FOLHA RIBEIRÃO
"Pai, será que nós vamos ser
presos?", perguntou um menino de cinco anos ao pedreiro
E.C., pouco antes de comparecer à audiência de advertência
no fórum de Serrana (315 km
de SP), na segunda-feira. O "crime": quando tinha três anos,
teria quebrado o vidro de um
carro com uma pedra.
A audiência foi requisitada
pelo juiz Guilherme Infante
Marconi, agora juiz-substituto
em Sertãozinho, e realizada pelo juiz José Roberto Liberal,
que está há um mês em Serrana. Do processo enviado a Marconi, que expediu um mandado
de busca e apreensão, constava
a data de nascimento do garoto.
O procedimento foi questionado pela OAB. A presidente da
Comissão de Direitos Humanos da entidade em Ribeirão
Preto, Ana Paula Mello, disse
que a audiência de advertência
é uma medida socioeducativa e
só pode ser aplicada a adolescentes (12 anos ou mais).
"Quando uma criança comete um ato infracional, tem de
receber aplicação de medidas
de proteção, se for o caso. O
procedimento correto seria encaminhar ao Conselho Tutelar,
fazer uma avaliação, verificar
qual medida de proteção que
caberia ao caso, se coubesse."
O menino só não foi levado
ao fórum por PMs, que foram à
casa dele na sexta com o mandado, porque estava na escola.
"Apontei uma foto dele para os
policiais e falei que aquela
criança era o bandido que procuravam", disse E.C., tia dele.
Na segunda, o pai o levou ao
fórum. O garoto não foi questionado por Liberal. "O juiz falou que foi um mal-entendido e
que só nós dois iríamos ficar sabendo o que aconteceu." Ele
quer procurar um advogado para ver se cabe indenização.
Em 2004, o menino brincava
na rua de casa com amigos
quando teria jogado uma pedra
em um carro em movimento,
quebrando uma janela. A mãe
dele, a diarista N.C.C., afirmou
que nem a autoria do ato foi
confirmada. "Tinha muita
criança brincando na rua."
O motorista registrou boletim de ocorrência. "Eu e meu filho fomos para a delegacia em
um carro de polícia." Segundo a
OAB, a presença do menino na
delegacia vai contra os princípios do ECA (Estatuto da
Criança e do Adolescente).
A reportagem não conseguiu
localizar o juiz Marconi. Ele
não compareceu ao fórum de
Sertãozinho ontem, segundo
um funcionário. O juiz Liberal
disse que não daria entrevista.
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