|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Diretora da Anac se contradiz sobre norma
Denise Abreu tentou apresentar na CPI do Apagão Aéreo nova explicação para a norma de segurança sem validade
Ela se disse injustiçada e magoada pela acusação de tentar enganar uma juíza e afirmou que não pretende renunciar ao cargo na Anac
Lula Marques/Folha Imagem
|
Denise Abreu, diretora da Anac, afirma que não irá renunciar |
LEILA SUWWAN
ANDREZA MATAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em depoimento ontem à CPI
do Apagão Aéreo da Câmara,
Denise Abreu, diretora da Anac
(Agência Nacional de Aviação
Civil), fez apelos emocionais e
apresentou novas explicações
para tentar convencer os deputados de que não tem responsabilidade pela norma de segurança inválida que foi apresentada à Justiça Federal e que poderia ter evitado o acidente do
avião da TAM de 17 de julho,
mas caiu em contradição.
Ela se declarou "magoada e
injustiçada" pelas acusações de
fraude processual e improbidade administrativa e afirmou
que não irá renunciar. Para ela,
o processo administrativo instaurado pelo Ministério da Defesa será "oportuno" para esclarecer o caso.
O documento, que proíbe o
pouso em pistas molhadas com
o reversor inoperante, foi usado pela Anac na Justiça Federal
para evitar restrições na pista
de Congonhas em fevereiro.
"Não tem sentido imaginar que
a Anac e seu corpo técnico e jurídico quisessem enganar a
Justiça", disse Denise Abreu.
Com cuidado para não entrar
em conflito direto com a juíza
do caso, que declarou sentir-se
enganada pela Anac, Denise
tentou convencer os deputados
de que a validade do documento, chamado IS-RBHA 121-189,
seria irrelevante.
"O que se discute é se a IS era
uma norma vigente ou um documento produzido pela Anac
para ludibriar a Justiça ou beneficiar as empresas. A questão
real não é essa porque o documento, fosse norma ou fosse
estudo interno, autoriza o pouso com reversor assimétrico
em Congonhas", afirmou.
Utilizando um trecho mais
técnico e obscuro do texto, ela
quis argumentar que essa autorização estava implícita.
"Acho que ela tentou constituir uma versão para descaracterizar a possibilidade de o documento ser usado como prova
da causa do acidente", disse o
relator, deputado Marco Maia
(PT-RS), que a interrogou por
mais de três horas.
Ela caiu em contradição ao
insistir que "desconhecia" a IS
ou que "tomou conhecimento
pela imprensa". Tentou dizer
que o documento foi parar por
engano no recurso apresentado
à Justiça Federal e responsabilizou o advogado da agência.
Ela já havia confirmado a
existência da norma e da restrição para reversor inoperante
em pistas molhadas em entrevista à Folha em 22 de julho,
mas ontem disse que "à imprensa tanto fazia dizer se era
norma ou estudo interno".
A diretora se considerou "alvo de uma artilharia incansável
e impiedosa", disse ser criticada por ser mulher e afirmou ter
um "legado de dignidade" porque enfrentou a "batalha de sobrevivência após uma cirurgia
de câncer" no início de 2003.
A contradição ficou mais clara depois que ela apresentou a
ata de uma reunião e e-mails
internos sobre a elaboração da
norma e sua publicação no site
da Anac em 31 de dezembro
-data em que a agência fez seu
primeiro recurso à Justiça.
A ata da reunião, realizada
no Rio de Janeiro em 13 de dezembro, mostra que técnicos
da Anac discutiram com representantes da TAM, da Gol e da
BRA o risco de "ultrapassagem
do final da pista" em Congonhas -na época, três aviões já
tinham derrapado e a reforma
da pista não tinha começado.
Foi deliberado que o gerente
de Padrões de Avaliação de Aeronaves, Gilberto Schittini, iria
elaborar a IS-RBHA 121-189.
Em troca de e-mails, esse técnico chegou a buscar sugestões
dos representantes das principais companhias aéreas.
No dia 31 de janeiro, o superintendente de Infra-Estrutura
Aeroportuária, Luiz Miyada,
escreve: "Por determinação da
dra. Denise, informo que esta
última versão deverá ser inserida no site da Anac".
Miyada diz que outro diretor, Jorge Velozo, seria consultado antes da publicação -que
ocorre às 19h30 daquele dia.
Anteontem, Velozo afirmou à
CPI que não conhecia a IS.
Texto Anterior: Polícia: Deic desarticula quadrilha de falsos juízes e promotores em SP Próximo Texto: Ministro: "Não quero saber o que ela pensa", diz Jobim sobre Denise Índice
|