São Paulo, domingo, 24 de setembro de 2000

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SP EM MOVIMENTO
Estudo da PUC mostra que qualidade de vida piorou em 53 dos 96 distritos da capital paulista; bairros centrais sofrem redução populacional
Exclusão social aumenta na década de 90

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
ESPECIAL PARA A FOLHA

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A exclusão social aumentou na cidade de São Paulo ao longo da década de 90. Dos 96 distritos que compõem a cidade, 53 tiveram uma piora significativa nas condições de vida de seus habitantes, 6 ficaram praticamente estáveis e apenas 37 registraram melhoras.
Essa é uma das principais descobertas da atualização do Mapa da Exclusão/Inclusão Social 2000, que a Folha publica com exclusividade. Feito originalmente em 1995 pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), ele foi revisado com dados atualizados pela mesma equipe de pesquisadores, acrescida de membros do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e do Polis (Instituto de Estudos, Formação e Assessoria em Políticas Sociais).
Da comparação dos mapas, surge um filme dos movimentos feitos pela metrópole ao longo dos últimos dez anos, indicando a tendência de aumento das distâncias sociais paulistanas.
A medição do grau de inclusão ou de exclusão social é realizada com base em uma série de indicadores socioeconômicos que vão da população à mortalidade por homicídio, passando por grau de escolaridade, densidade habitacional e acesso a serviços básicos.
O mapa mostra claramente que a maior parte dos distritos que melhoraram ao longo dos últimos anos está concentrada na região sudoeste, a mais rica de São Paulo. As três áreas que apresentaram evolução mais favorável foram, por exemplo, Santo Amaro, Jardim Paulista e Pinheiros.
Ao mesmo tempo, os distritos cujas condições de vida mais se deterioraram estão situados na ponta da periferia.
Entre os casos mais gritantes, há distritos de quase todos os extremos da cidade, desde o Grajaú (zona sul), passando pelo Itaim Paulista (leste), até chegar a Brasilândia (norte).
Tais distritos já estavam entre os mais mal colocados no ranking original do Mapa da Exclusão/Inclusão (1995). O fato de terem piorado ainda mais em relação à média da cidade mostra que as distâncias sociais só fizeram aumentar nesse período. Ainda mais levando em conta que as áreas que mais apresentaram melhoras relativas já constavam da lista de distritos mais privilegiados.

Bairros centrais
Para piorar o quadro, a capital paulista continua passando por um processo de centrifugação de seus moradores, com os bairros centrais perdendo população, enquanto todo o crescimento habitacional acontece em distritos das regiões de fronteira.
Em outras palavras, há cada vez menos paulistanos morando nas regiões "incluídas" da cidade, enquanto aumentam os habitantes da zona de exclusão.
Entre 1991 e 1996, a população dos 53 distritos onde pioraram as condições de vida aumentou 10% (470 mil pessoas), enquanto a taxa de crescimento médio da cidade no período foi de 2%. Em 91, 5,98 milhões de pessoas viviam nos 53 distritos que apresentaram piora. No ano de 96, essa população era de 6,45 milhões.
Nos mesmos cinco anos, o conjunto dos 37 distritos que viram a situação social melhorar perdeu 260 mil moradores. Nessas áreas, a população caiu de 3,09 milhões em 91 para 2,83 milhões em 96.
Nos seis distritos onde o índice de exclusão/inclusão se manteve estável, os números de população são 576 mil (91) e 558 mil (96). Nesse período, a capital passou de 9,65 milhões para 9,84 milhões.
Não é mera coincidência que o distrito com pior evolução do índice de exclusão social seja também o que mais recebeu novos moradores na década. Com 273 mil habitantes, o Grajaú superou Sapopemba e se tornou o mais populoso distrito paulistano.
Em apenas cinco anos, essa área vizinha ao ABCD viu sua população aumentar em 79 mil pessoas. O ritmo é alucinante: considerando-se que a média na região é de quatro moradores por domicílio, significa que foram erguidas mil casas por ano no Grajaú na primeira metade dos 90, ou quase três por dia. Como agravante, grande parte do distrito está em áreas de proteção de mananciais, onde a construção é proibida.


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