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SP EM MOVIMENTO
Estudo da PUC mostra que qualidade de vida piorou em 53 dos 96 distritos da capital paulista; bairros centrais sofrem redução populacional
Exclusão social aumenta na década de 90
JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
ESPECIAL PARA A FOLHA
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A exclusão social aumentou na
cidade de São Paulo ao longo da
década de 90. Dos 96 distritos que
compõem a cidade, 53 tiveram
uma piora significativa nas condições de vida de seus habitantes, 6
ficaram praticamente estáveis e
apenas 37 registraram melhoras.
Essa é uma das principais descobertas da atualização do Mapa
da Exclusão/Inclusão Social 2000,
que a Folha publica com exclusividade. Feito originalmente em
1995 pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo),
ele foi revisado com dados atualizados pela mesma equipe de pesquisadores, acrescida de membros do Inpe (Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais) e do Polis
(Instituto de Estudos, Formação e
Assessoria em Políticas Sociais).
Da comparação dos mapas, surge um filme dos movimentos feitos pela metrópole ao longo dos
últimos dez anos, indicando a
tendência de aumento das distâncias sociais paulistanas.
A medição do grau de inclusão
ou de exclusão social é realizada
com base em uma série de indicadores socioeconômicos que vão
da população à mortalidade por
homicídio, passando por grau de
escolaridade, densidade habitacional e acesso a serviços básicos.
O mapa mostra claramente que
a maior parte dos distritos que
melhoraram ao longo dos últimos
anos está concentrada na região
sudoeste, a mais rica de São Paulo.
As três áreas que apresentaram
evolução mais favorável foram,
por exemplo, Santo Amaro, Jardim Paulista e Pinheiros.
Ao mesmo tempo, os distritos
cujas condições de vida mais se
deterioraram estão situados na
ponta da periferia.
Entre os casos mais gritantes, há
distritos de quase todos os extremos da cidade, desde o Grajaú
(zona sul), passando pelo Itaim
Paulista (leste), até chegar a Brasilândia (norte).
Tais distritos já estavam entre os
mais mal colocados no ranking
original do Mapa da Exclusão/Inclusão (1995). O fato de terem piorado ainda mais em relação à média da cidade mostra que as distâncias sociais só fizeram aumentar nesse período. Ainda mais levando em conta que as áreas que
mais apresentaram melhoras relativas já constavam da lista de
distritos mais privilegiados.
Bairros centrais
Para piorar o quadro, a capital
paulista continua passando por
um processo de centrifugação de
seus moradores, com os bairros
centrais perdendo população, enquanto todo o crescimento habitacional acontece em distritos das
regiões de fronteira.
Em outras palavras, há cada vez
menos paulistanos morando nas
regiões "incluídas" da cidade, enquanto aumentam os habitantes
da zona de exclusão.
Entre 1991 e 1996, a população
dos 53 distritos onde pioraram as
condições de vida aumentou 10%
(470 mil pessoas), enquanto a taxa de crescimento médio da cidade no período foi de 2%. Em 91,
5,98 milhões de pessoas viviam
nos 53 distritos que apresentaram
piora. No ano de 96, essa população era de 6,45 milhões.
Nos mesmos cinco anos, o conjunto dos 37 distritos que viram a
situação social melhorar perdeu
260 mil moradores. Nessas áreas,
a população caiu de 3,09 milhões
em 91 para 2,83 milhões em 96.
Nos seis distritos onde o índice
de exclusão/inclusão se manteve
estável, os números de população
são 576 mil (91) e 558 mil (96).
Nesse período, a capital passou de
9,65 milhões para 9,84 milhões.
Não é mera coincidência que o
distrito com pior evolução do índice de exclusão social seja também o que mais recebeu novos
moradores na década. Com 273
mil habitantes, o Grajaú superou
Sapopemba e se tornou o mais
populoso distrito paulistano.
Em apenas cinco anos, essa área
vizinha ao ABCD viu sua população aumentar em 79 mil pessoas.
O ritmo é alucinante: considerando-se que a média na região é de
quatro moradores por domicílio,
significa que foram erguidas mil
casas por ano no Grajaú na primeira metade dos 90, ou quase
três por dia. Como agravante,
grande parte do distrito está em
áreas de proteção de mananciais,
onde a construção é proibida.
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