São Paulo, quarta-feira, 24 de setembro de 2008

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GILBERTO DIMENSTEIN

Alunos-luz


Drago, que teve problemas com a escola, inaugura hoje sua exposição com fotos de alunos de um colégio público

ESTUDAR SEMPRE foi para Victor Dragonetti (Drago) uma fonte interminável de aborrecimentos e humilhações. Expulso na 5ª série, sofreu um baque em sua auto-estima e, desde então, ganhou o rótulo de "aluno-problema". Chegaram a aconselhar sua mãe a matriculá-lo em colégios que recebessem portadores de deficiência mental, entre outros problemas -ele sofreria de falta de orientação espacial. "Sabia que alguns professores diziam que eu era retardado." Por isso, hoje é um dos melhores dias na vida de Drago.
Nesta quarta-feira, Drago, 17, vai inaugurar sua primeira exposição fotográfica.
Por várias semanas, ele fotografou diariamente estudantes de uma escola pública e fugiu do óbvio em seu enquadramento. Procurou cenas em que os alunos mostrassem os olhos brilhando -e não as previsíveis imagens sombrias da educação pública.
Sua proposta era garimpar cenas do prazer em aprender.

 
O jovem que supostamente sofria de "falta de orientação espacial" descobriu, aos 14 anos, um talento: fotografar. A evidente habilidade com a fotografia não era suficiente para que ele superasse a baixa auto-estima desenvolvida em seu histórico escolar.
Mas a descoberta ajudou-o a construir um projeto: entrar numa faculdade para estudar fotografia.
Neste ano, encontrou um colégio (Indac) que lidasse com suas dificuldades e começou a mostrar seu trabalho. ""Agora tenho certeza de onde está o meu futuro e só penso em investir nele."
Foi convidado a fazer profissionalmente um ensaio sobre alunos da escola estadual Carlos Maximiliano (Max), que, no ano passado, depois de passar por uma série de crises, iria fechar, mas se salvou por causa da mobilização de um grupo de alunos e professores, inconformados com o fechamento. Uma das táticas foi oferecer, em parceria com a comunidade, oficinas de dança, teatro, música, cinema, comunicação, literatura e artes plásticas. "Nessas oficinas, estava o meu foco."
 
À medida que as fotos eram reveladas e aparecia o brilho nos olhos dos alunos, decidiu-se que todo aquele material deveria virar uma exposição, que transformasse as paredes do Max numa galeria.
Drago tirou o nome para sua exposição da raiz latina da palavra "aluno", que significa "sem luz". "Foram os dias de mais luz da minha vida." Por sorte, captados em sua máquina.
 
PS- Sugiro que os professores que não conseguem ver luz em seus alunos entrem no meu site (www.dimenstein.com.br) e vejam as fotos de Drago -é uma magnífica aula de orientação espacial.

gdimen@uol.com.br



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