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Adolescente que escapou da chacina foi salva pelo marido
DA AGÊNCIA FOLHA, EM GUAÍRA
Mãe de um bebê de um ano e
sete meses, uma adolescente de
16 anos, considerada a principal testemunha da chacina de
Guaíra, disse à Folha que foi
seu marido, o traficante Robert
Ramom Guedes Rios, 35, que
salvou sua vida, a da filha e a de
uma outra criança de nove
anos. Os três conseguiram fugir do local ao pular uma janela.
"Ele sempre dizia que
morreria pela minha filha.
Quando viu que iam matá-la,
gritou e jogou a menina no
chão. Mesmo com um tiro no
pescoço, ele agarrou um deles.
Na confusão, peguei a nenê e
pulei pela janela do depósito",
disse. Com ela, um garoto de
nove anos também fugiu. Ele
conhecia alguns dos suspeitos.
A adolescente disse que tem
familiares na região de Guaíra,
mas há um ano morava com
Rios na favela da Rocinha (RJ).
Há duas semanas voltaram ao
Paraná. "Ele veio resolver uns
problemas nos carregamentos
para o Rio de Janeiro. Ele me
disse que iríamos ficar um mês
por aqui. Eu vim junto para visitar os parentes."
Segundo ela, os agressores
estavam "fora de si". Um filho
adolescente de Jocemar Marques Soares, o Polaco, teve uma
orelha cortada por um dos
agressores, que a colocou no
bolso. O adolescente, uma irmã
de 20 anos e o próprio Polaco
foram mortos na chacina.
O garoto de nove anos que
depôs sobre o crime é filho de
um pedreiro que estava a trabalho na chácara e também
acabou morto.
A garota disse não estar envolvida com tráfico. "Ele [Robert] sempre me deixou fora
disso." Sob proteção da polícia
e do Conselho Tutelar, ela teme ser morta. "Não posso voltar para a Rocinha. Se eu ficar
aqui, meus parentes, que nada
têm a ver com drogas, podem
sofrer as conseqüências", disse.
Fingimento
Jaime (nome fictício), 26,
não teve tempo de fugir pela janela quando começou o tiroteio. Sobreviveu ao se esconder
sob o corpo de uma mulher
morta, passar sangue no rosto e
fingir-se de morto. Ele foi um
dos quatro sobreviventes que,
depois de socorridos, fugiram
para evitar a polícia. Localizado
ontem pela manhã, foi encaminhado à delegacia para prestar
depoimento.
Antes de depor, Jaime disse à
Folha que foi à chácara para
buscar uma bomba d'água a pedido de Polaco. "Fui recebido a
coronhadas no rosto e na cabeça", relatou. Jaime disse que vive de "bicos" e que não tem envolvimento com drogas. Segundo a polícia, ele não tem
passagem.
A Folha apurou, ontem, que
foi a partir do depoimento de
Jaime que a Polícia Civil do Paraná chegou ao nome do terceiro agressor, Cleisson Correa, filho de Jair Pereira Correa, o
Neno, que é apontado como o
mandante dos crimes.
Segundo o delegado Pedro de
Lucena, quatro dos sobreviventes da chacina já ouvidos
pela Polícia Civil não deixam
dúvidas sobre os autores do crime.
(JM)
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