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São Paulo, sexta-feira, 24 de outubro de 2003

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INFRA-ESTRUTURA

Segundo pesquisa, 82,8% destas vias são péssimas; para empresário, é difícil parceria com governo para recuperação

Rodovias estatais quase viraram ruínas

HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Quase a totalidade das rodovias sob administração do Estado (federais ou estaduais) está deteriorada. De acordo com pesquisa da CNT (Confederação Nacional do Transporte), 82,8% dessas estradas estão péssimas, ruins ou deficientes. "A situação piorou muito em relação ao ano passado", disse Clésio Andrade, presidente da CNT e vice-governador de Minas.
A situação é inversa nas rodovias privatizadas. De acordo com a pesquisa, 71,7% dos trechos concedidos à iniciativa privada foram classificados como bons ou ótimos. Os dez melhores trechos são privatizados, e os dez piores, federais ou estaduais.
O estudo analisou a condição das vias em 109 trechos, correspondendo a 56.798 quilômetros. Desses, 47.645 são federais ou estaduais e 9.153 foram privatizados (concedidos para a iniciativa privada, que cobra pedágio e faz obras de manutenção).
Neste ano, a CNT separou a análise das rodovias privatizadas das geridas por Estados e União. Em 2002, as rodovias estatais e privatizadas foram analisadas juntas. Ontem, a CNT divulgou novamente dados da pesquisa de 2002, adaptados à metodologia de 2003. Por esse método, no ano passado havia 59,2% de estradas ruins, péssimas ou deficientes.
Para o presidente da CNT, a parceria público-privada, divulgada dias atrás pelo governo como forma de estimular investimentos privados na área de infra-estrutura, não irá solucionar o problema das rodovias.
Segundo ele, o setor privado poderia se interessar por trechos que, somados, teriam entre 4.000 e 5.000 quilômetros. O resto teria de ser feito pelo Estado.
Andrade estimou em R$ 7,5 bilhões os recursos necessários para recuperar as estradas. Desse total, R$ 223 milhões seriam usados para os trechos "totalmente destruídos" -que, segundo a pesquisa, somam 24.630 quilômetros (43% da malha rodoviária). Recuperar cada quilômetro destruído custa aproximadamente R$ 150 mil.
O presidente da CNT voltou a enfatizar que o governo precisa direcionar os recursos da Cide (Contribuição sobre Consumo de Combustíveis) para as obras de infra-estrutura nas estradas. Segundo ele, se nada for feito para aumentar os investimentos, em aproximadamente cinco anos a situação das rodovias vai começar a afetar outros setores da economia e poderá haver risco de desabastecimento de produtos.
Em julho, o Ministério dos Transportes divulgou que tinha R$ 1,1 bilhão para investir -dinheiro que também teria de ser usado em portos, ferrovias e hidrovias- neste ano. No Orçamento para 2004, terá R$ 2,29 bilhões, incluídos os gastos de custeio do ministério.
O Ministério dos Transportes informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que já foram recuperados 30 mil quilômetros de rodovias neste ano - 2.000 foram restaurados e 28 mil passaram por obras emergenciais.
Ainda de acordo com a assessoria, a pesquisa da CNT também analisa rodovias estaduais, o que contribuiria para baixar a média.
O ministério alega também que as obras nas rodovias começaram a partir de junho, julho e agosto. Portanto, muitas delas não teriam sido percebidas pelos pesquisadores. Esse seria o caso do trecho Poços de Caldas (MG)-Lorena (SP), classificado como o pior da pesquisa. Segundo o ministério, esse trecho já foi recuperado.


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