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REFERENDO/REPERCUSSÃO
Líderes do grupo parlamentar defendem consultas populares para discutir outros temas, como idade penal e proibição total do aborto
Frente do "não" agora quer prisão perpétua
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Antes mesmo do fechamento
das urnas, mas já certos da vitória
no referendo, líderes da frente
parlamentar do "não" passaram a
defender a realização de novas
consultas populares para discutir
temas como a idade penal mínima e a prisão perpétua.
O presidente da frente parlamentar Pelo Direito da Legítima
Defesa, deputado Alberto Fraga
(PFL), propôs a realização de plebiscitos para acabar com a idade
penal, proibir totalmente o aborto
e instaurar a prisão perpétua.
Para ele, não deve existir idade
penal mínima. Fraga defende que
cada caso seja analisado por um
conjunto de especialistas, que definiriam se o acusado pode ser
responsabilizado penalmente
-independentemente da idade.
"Uma pessoa de 12, 13 anos, se sabe o que está fazendo, tem de ser
julgada", disse. Hoje a maioridade
penal no país é de 18 anos.
O deputado Luiz Antônio
Fleury Filho (PTB-SP), vice-presidente da frente, também se disse
favorável ao uso de plebiscitos para discutir idade penal e a questão
do aborto. Fleury, no entanto, defendeu que a idade mínima para a
responsabilidade penal seja apenas reduzida, passando dos atuais
18 anos para 16 anos.
Os líderes do "não" também
aproveitaram o dia de votação para criticar o Congresso Nacional,
as políticas de segurança pública
no país e o governo federal.
Depois de o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) começar a divulgar os resultados da apuração,
Fraga afirmou que a crise no governo causada pelo "mensalão"
foi 50% responsável pela vitória
do "não" no referendo.
"O Estatuto [do Desarmamento, regulamentado em julho de
2004] dificulta, restringe, mas não
proíbe. Mas eles queriam mais.
Exatamente parlamentares envolvidos no mensalão queriam mais,
queriam tirar um direito do cidadão", afirmou Fraga.
Para o deputado, parte dos votos favoráveis à manutenção do
comércio de armas teve como
componente a insatisfação popular com o governo, que enfrenta
sua pior crise desde o início do
mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva -o petista e seus
principais assessores defenderam
o "sim". "São votos de protesto."
O deputado, que disse andar
sempre armado com pistola calibre 40 e não ter medo de ser chamado de membro da "bancada da
bala" na Câmara, afirmou ter sido
contra o referendo. Fraga afirmou
que a frente gastou de R$ 1,3 milhão a R$ 1,5 milhão na campanha, mas arrecadou apenas R$
400 mil. "Não vamos dar o calote,
vamos pagar tudo".
Na avaliação de Fraga, a campanha do "sim" era enganosa. "Foram 1.044 armas vendidas dentro
do comércio doméstico do Brasil,
mas diziam que eram 50 mil
quando contavam as armas fornecidas à polícia e a empresas de
segurança. Isso é tentar enganar a
sociedade", afirmou.
Segundo o deputado, a expectativa da frente era obter uma vantagem de 16 pontos percentuais
sobre o "sim". Ele disse nunca ter
acreditado que seus adversários
estivessem com 80% das intenções de votos, como chegou a ser
constatado em pesquisas no início da campanha do referendo.
Para o deputado Fleury, o fato
de o ministro da Justiça, Márcio
Thomaz Bastos, ter se posicionado favoravelmente à proibição do
comércio de armas "pode ter contribuído" para o crescimento do
"não". O deputado afirmou que
irá pedir uma audiência com o
ministro para discutir políticas
nacionais de segurança pública.
"Esse foi também um voto de
protesto contra a falta de políticas
de segurança pública tanto em nível federal quanto nos Estados."
Fleury, que se disse surpreendido com a larga vantagem que os
eleitores deram para o "não", afirmou que é importante que se
aproveite o momento, em que o
"país inteiro" debateu sobre a
questão da segurança pública,
"para que os governos passem a
colocar a questão como prioritária. O tema sempre foi considerada um "patinho feio'".
Ontem, logo após votar em São
Paulo, Fleury aproveitou para criticar também o fato de o referendo ter sido marcado para este ano.
"Tínhamos uma proposta de fazer o referendo na época das eleições." Para o deputado, seriam
economizados recursos -gastos
com a Justiça Eleitoral, por exemplo- que poderiam ser utilizados em segmentos "como educação ou a própria segurança".
Alberto Fraga ainda chamou de
"covardes" parte dos congressistas, por deixarem o tema sobre a
venda de armas, um assunto "técnico", para ser decidido pela população. "Não é justo o povo ter
de responder a uma questão tão
técnica por omissão, por covardia
de muitos no Congresso."
Filho e revólver
Ao chegar para votar em Brasília com a mulher e os três filhos,
todos vestidos com camisetas
pretas do "não", Fraga foi cumprimentado por eleitores. Alguns
pediram para tirar fotos. Com cara de sono, ele disse que não tinha
nem conseguido dormir direito à
noite. Fraga contou que já mostrou várias armas para seu filho
menor, de cinco anos, justamente
para que a criança saiba que não
pode mexer, porque é perigoso.
Além do caçula, acompanharam
o deputado a mulher, Mirta, e os
filhos Diego, 23, e Bruna, 18.
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