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Grupo é preso com cartaz racista anticotas
Três homens foram flagrados com o material na Vila Mariana (SP); polícia os indiciou sob a acusação de crime de racismo
Eles estavam com o material do grupo White Power SP, que prega o racismo e a intolerância contra negros, judeus, nordestinos e gays
KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL
Três homens foram presos
na madrugada de ontem colando panfletos racistas com críticas ao programa de cotas de vagas para afrodescendentes nas
universidades públicas. O grupo foi flagrado com o material
nas imediações da Vila Mariana, zona sul de São Paulo, próximo a uma universidade.
Os três foram indiciados sob
a acusação de crime de racismo
-incitar a discriminação ou
preconceito de raça, cor, religião, etnia ou procedência nacional. O crime é inafiançável e
a pena é de 1 a 3 anos de prisão.
Os cartazes, que foram impressos do site do grupo White
Power (Poder Branco) São Paulo, diziam: "Vestibulando branco. Hoje eles roubam sua vaga
nas universidades públicas. E
chamam isso de direitos iguais.
Se você não agir agora, quem
nos garante que eles não roubarão vagas nos concursos públicos? Devemos assegurar a existência de nossa raça e futuro de
nossas crianças brancas". Também simula uma prova de vestibular feita por um negro com
respostas com erros grosseiros
e o carimbo de "aprovado".
O White Power São Paulo,
que é investigado pelo Ministério Público desde 2004, se diz
"nacional-socialista", prega a
valorização da raça branca, a
intolerância contra negros, judeus, nordestinos, imigrantes
ilegais e homossexuais.
Os presos são: o autônomo
Rogerio Costa Andrade, 27, o
designer Eduardo Brandão Jarussi, 26, e o vendedor Emerson de Almeida Chieri, 34. À
polícia, eles disseram que não
são racistas. À Folha, disseram
que têm o direito de expressar
sua opinião (leia texto ao lado).
"O White Power é nazi-racista e está se organizando. Já foi
denunciado por panfletagem
pregando ódio contra negros e
judeus no ABC há três meses",
afirmou ontem Dojival Vieira
dos Santos, da Afropress
-Agência Afroétnica de Notícias. Segundo ele, o White Power se considera mais "ideológico do que os Skinheads [Cabeças Raspadas]", conhecidos
pelas ações violentas.
Lições de racismo
A página do White Power SP
na internet contém diversos artigos que enaltecem o nazismo.
Ensina até "como divulgar a
propaganda pró-branco", dá dicas de como colar os panfletos e
até recomenda que os mesmos
sejam afixados, entre 23h e 4h.
Segundo a polícia, os acusados, que são todos brancos, foram presos por volta da 0h35
de ontem. Dois têm a cabeça
raspada: Andrade, que segundo
a polícia possui tatuagens do
grupo White Power e Skinhead,
do qual teria sido membro
atuante, e o designer Jarussi.
Já o vendedor Almeida Chieri, também indicado, já teve
passagens na polícia por roubo,
furto e posse de droga. "Não sabia que os cartazes tinham esse
conteúdo. Pensei que se tratavam só de críticas as cotas para
negros", disse ele à polícia.
Chieri ainda alegou que tem
dois filhos afrodescendentes
com sua ex-mulher. Os três foram transferidos para o CDP
(Centro de Detenção Provisória) Independência, na capital.
Eles já teriam afixado 20 dos
261 cartazes de cunho racista
quando foram surpreendidos
pela PM na esquina das avenidas Lins de Vasconcelos com a
professor Noe Azevedo, nas
proximidades da faculdade
Unip e Metrô Vila Mariana.
Caso fique provado que os
três ainda são responsáveis pela autoria do conteúdo dos cartazes, a pena pode aumentar
para de 2 a 5 anos.
Segundo a versão da polícia,
Chieri estava com um soco inglês e um cartaz. Andrade segurava um tubo de cola e um rolo
para pintar. Jarussi ficou dentro de um carro com cartazes.
O delegado-assistente Rui
Diogo da Silva, do 36º DP, do
Paraíso, onde foi feita a ocorrência, investiga a possibilidade de mais pessoas estarem envolvidas com os três acusados.
"Eles são contra a cota para
negros e não se dizem racistas,
mas a conduta prova o contrário. Menospreza a capacidade
intelectual da raça negra", disse
o delegado, que é afrodescendente e contrário às cotas raciais. "Acho que as cotas devem
ser para alunos das escolas públicas, brancos ou negros."
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