São Paulo, terça-feira, 24 de outubro de 2006

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No 1º dia de julgamento, mecânico admite morte de jovem

Réu é acusado do assassinato de 42 meninos -a maioria teve os órgãos sexuais retirados; caso ficou conhecido como os "emasculados do Maranhão"

SÍLVIA FREIRE
DA AGÊNCIA FOLHA

No primeiro dia de julgamento, o mecânico Francisco das Chagas Rodrigues de Brito, 41, acusado de ser o responsável pelo assassinato de 42 meninos, afirmou ontem ter matado o adolescente Jonatham Silva Vieira, 15, por asfixia. A maioria das vítimas foram emasculadas -tiveram os órgãos sexuais retirados.
Brito, que até então negava o assassinato, disse que enforcou o jovem, de acordo com informações do Tribunal de Justiça do Maranhão. O adolescente sumiu em dezembro de 2003. Em janeiro do ano seguinte, um morador da Cidade Operária, bairro da periferia de São Luís, onde Jonatham morava, encontrou a ossada dele.
O mecânico começou a ser julgado ontem, em São José de Ribamar, na região metropolitana de São Luís, pela morte de Jonatham, que aconteceu em dezembro de 2003. A expectativa é que o júri termine entre hoje e amanhã.
Em depoimento à Polícia Civil em 2004, Brito disse que havia matado 42 meninos -sendo 12 em Altamira, no Pará. Ontem, ele voltou atrás e disse não ter envolvimento com as mortes em Altamira.
Na Justiça do Maranhão, o mecânico responde a outros 22 processos, relativos à morte de 24 meninos, a maioria deles foi emasculada, entre 1991 e 2003.

Abuso na infância
Ontem, em seu depoimento ao juiz Márcio de Castro Brandão, que preside o julgamento, Brito disse que sofreu abuso sexual por parte de um empregado de sua avó chamado Carlito quando tinha seis anos de idade. Segundo o Ministério Público Estadual, foi a primeira vez que ele citou o episódio.
Ao falar sobre a morte de Jonatham, Brito disse ter sentido "uma coisa estranha na cabeça" e que viu a imagem de Carlito na sua frente.
O mecânico contou também que perdeu a mãe quando tinha quatro anos de idade e foi criado pela avó, que batia nele e nos irmãos com um cipó.
O julgamento é acompanhado por aproximadamente 500 pessoas, entre familiares das vítimas, estudantes de direito e jornalistas. O júri acontece em um auditório do Sesi.

Protesto
Familiares dos meninos que foram assassinados e representantes de organizações de defesa dos direitos humanos fizeram uma manifestação ontem cedo, em São Luís, com o objetivo de alertar para a situação de violência a que as crianças e adolescentes da região estão submetidos. Todas as vítimas eram filhos de famílias pobres, moradoras de bairros periféricos da região metropolitana de São Luís.
A negligência nas investigação sobre as mortes dos meninos ao longo dos anos rendeu ao Brasil e ao Estado do Maranhão um processo na OEA (Organização dos Estados Americanos). Desde abril deste ano, o Estado paga uma pensão mensal de R$ 500 às famílias das vítimas, como parte de um acordo intermediado pela OEA.


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