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No 1º dia de julgamento, mecânico admite morte de jovem
Réu é acusado do assassinato de 42 meninos -a maioria teve os órgãos sexuais retirados; caso ficou conhecido como os "emasculados do Maranhão"
SÍLVIA FREIRE
DA AGÊNCIA FOLHA
No primeiro dia de julgamento, o mecânico Francisco
das Chagas Rodrigues de Brito,
41, acusado de ser o responsável pelo assassinato de 42 meninos, afirmou ontem ter matado o adolescente Jonatham Silva Vieira, 15, por asfixia. A
maioria das vítimas foram
emasculadas -tiveram os órgãos sexuais retirados.
Brito, que até então negava o
assassinato, disse que enforcou
o jovem, de acordo com informações do Tribunal de Justiça
do Maranhão. O adolescente
sumiu em dezembro de 2003.
Em janeiro do ano seguinte, um
morador da Cidade Operária,
bairro da periferia de São Luís,
onde Jonatham morava, encontrou a ossada dele.
O mecânico começou a ser
julgado ontem, em São José de
Ribamar, na região metropolitana de São Luís, pela morte de
Jonatham, que aconteceu em
dezembro de 2003. A expectativa é que o júri termine entre
hoje e amanhã.
Em depoimento à Polícia Civil em 2004, Brito disse que havia matado 42 meninos -sendo
12 em Altamira, no Pará. Ontem, ele voltou atrás e disse não
ter envolvimento com as mortes em Altamira.
Na Justiça do Maranhão, o
mecânico responde a outros 22
processos, relativos à morte de
24 meninos, a maioria deles foi
emasculada, entre 1991 e 2003.
Abuso na infância
Ontem, em seu depoimento
ao juiz Márcio de Castro Brandão, que preside o julgamento,
Brito disse que sofreu abuso sexual por parte de um empregado de sua avó chamado Carlito
quando tinha seis anos de idade. Segundo o Ministério Público Estadual, foi a primeira vez
que ele citou o episódio.
Ao falar sobre a morte de Jonatham, Brito disse ter sentido
"uma coisa estranha na cabeça"
e que viu a imagem de Carlito
na sua frente.
O mecânico contou também
que perdeu a mãe quando tinha
quatro anos de idade e foi criado pela avó, que batia nele e nos
irmãos com um cipó.
O julgamento é acompanhado por aproximadamente 500
pessoas, entre familiares das vítimas, estudantes de direito e
jornalistas. O júri acontece em
um auditório do Sesi.
Protesto
Familiares dos meninos que
foram assassinados e representantes de organizações de defesa dos direitos humanos fizeram uma manifestação ontem
cedo, em São Luís, com o objetivo de alertar para a situação
de violência a que as crianças e
adolescentes da região estão
submetidos. Todas as vítimas
eram filhos de famílias pobres,
moradoras de bairros periféricos da região metropolitana de
São Luís.
A negligência nas investigação sobre as mortes dos meninos ao longo dos anos rendeu
ao Brasil e ao Estado do Maranhão um processo na OEA (Organização dos Estados Americanos). Desde abril deste ano, o
Estado paga uma pensão mensal de R$ 500 às famílias das vítimas, como parte de um acordo intermediado pela OEA.
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