|
Próximo Texto | Índice
Cooperativa confirma uso de soda cáustica em leite, diz PF
Presidente da Copervale, segundo a polícia, admitiu fraude; mais Estados serão investigados
De acordo com delegado, funcionários disseram que "não tomavam o leite porque poderia fazer mal'; 13 pessoas continuam presas
Edson Silva/Folha Imagem
|
Limpeza do pátio da Copervale, investigada por adulterar leite |
JUCIMARA DE PAUDA
DA FOLHA RIBEIRÃO, EM UBERABA
O delegado da Polícia Federal de Uberaba (MG), Ricardo
Ruiz da Silva, disse ontem que o
presidente da Copervale (Cooperativa dos Produtores de Leite do Vale do Rio Grande) confirmou, em depoimento, que a
empresa usava soda cáustica no
leite longa vida integral.
O delegado se recusou a fornecer o nome do presidente da
cooperativa, mas a Folha apurou que ele se chama Luis Galberto Ribeiro Ferreira.
O presidente é um dos 27
suspeitos presos durante a
operação Ouro Branco, realizada anteontem pela PF nas cidades de Uberaba e Passos. Dos
27, 14 foram liberados ontem.
A ação tinha o objetivo de
desbaratar uma quadrilha que,
segundo a PF, adulterava leite
longa vida (de caixinha) no
Triângulo Mineiro para aumentar o prazo de validade e o
volume do produto.
Além da Copervale, uma segunda cooperativa, a Casmil
(Cooperativa Agropecuária do
Sudoeste Mineiro), de Passos,
estaria envolvida. Juntas, as
duas produziriam 400 mil litros de leite por dia.
Segundo a investigação, além
da soda, outros produtos impróprios para o consumo, como água oxigenada e citrato de
sódio, eram adicionados ao leite. A soda cáustica pode, por
exemplo, danificar a mucosa
intestinal, causando até perfurações. A água oxigenada pode
gerar esofagite e gastrite.
Depoimento
"O presidente da empresa
confirmou o uso da soda cáustica. Ouvimos funcionários desde os que faziam análise química do leite até o coordenador de
todo o processo e a maioria
também confirmou o uso da soda. Também disseram que não
tomavam o leite porque poderia fazer mal", disse Silva.
Além do presidente da Copervale, continuam presos em
Uberaba três diretores, um químico e um fiscal do Ministério
da Agricultura, suspeito de facilitação. Seus nomes não foram
revelados pelo delegado.
O químico seria o responsável pela fórmula adicionada no
leite. Ele negou em depoimento, segundo o delegado, ter sido
responsável pela fraude.
Silva disse ainda que a PF vai
investigar a possibilidade de o
químico ter passado a fórmula
para outras cooperativas. "Por
isso é necessário analisar
amostras de todas as marcas."
"Começamos a receber ligações de funcionários de outras
empresas do país dizendo que
há vários locais colocando soda
cáustica no leite", disse.
As superintendências da PF
no Paraná, no Rio Grande do
Sul, no Espírito Santo e em Pernambuco já iniciaram a coleta
de amostras de leite. Em São
Paulo, a PF coletou amostras
em Ribeirão Preto, São José do
Rio Preto e Cruzeiro.
Ontem, o Ministério da Agricultura divulgou nota dizendo
que "encontrar indícios de
fraudes em duas cooperativas
não significa que a qualidade de
todo o leite produzido no Brasil
esteja comprometida".
Próximo Texto: Outro lado: Advogado diz que empresa não irá se pronunciar Índice
|