São Paulo, quarta-feira, 24 de outubro de 2007

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Para secretário, tiro em Copacabana "é uma coisa" e, no Alemão, "é outra"

Beltrame diz que traficantes estão transferindo armas para a zona sul do Rio

ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO

O secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, afirmou ontem que os traficantes estão transferindo seus armamentos para favelas da zona sul da cidade. Segundo ele, a mudança faz parte de uma estratégia dos criminosos para evitar as forças de segurança do Estado, uma vez que, para Beltrame, "é difícil a polícia ali entrar, porque um tiro em Copacabana é uma coisa. Um tiro na [favela da] Coréia, no complexo do Alemão [nas zonas oeste e norte, respectivamente], é outra".
Provas dessa mudança seriam as três metralhadoras antiaéreas apreendidas no morro Dona Marta, em Botafogo (zona sul) no início do mês. "Nós temos hoje a informação que muitos traficantes estão vindo para a zona sul. No Pavão-Pavãozinho [em Copacabana], Dona Marta, eu estou muito próximo da população."
Para Beltrame, os traficantes usam "inteligência" ao trocar os locais das armas. "Por que eles estão indo para o Pavão-Pavãozinho? Porque (...) uma ação policial em Copacabana tem uma repercussão muito grande, porque as favelas e os comandos estão a metros das janelas da classe média."
O secretário disse que a aproximação entre as favelas e as "janelas da classe média" não vai evitar que a polícia realize operações nesses locais, mas será necessário "ter uma análise de critério muito grande".
"Vamos em frente. Não podemos recuar. (...) O critério que eu vejo é geográfico. Temos prédios muito próximos um do outro. O cidadão que mora na zona sul paga o mesmo imposto de quem paga na zona norte. Isso não tem nada a ver. Uma coisa é atuar em favela plana, outra na favela em morro...".
Segundo o Censo 2000 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a densidade demográfica no complexo do Alemão é de 21.961 pessoas por km2; em Botafogo, 16.584. Em Copacabana (zona sul), onde está a favela do Pavão-Pavãozinho, a densidade é de 35.851 por km2.
De acordo com dados do ISP (Instituto de Segurança Pública), os autos de resistência -mortos em supostos confrontos com a polícia- se concentram nas zona norte e oeste. As duas acumulam 90,6% dos registros na capital.
Na operação realizada no Dona Marta, na zona sul, não houve mortos. Semana passada, 14 supostos criminoso foram mortos em operação na favela da Coréia, na zona oeste.
O comandante-geral da Polícia Militar, coronel Ubiratan Angelo, disse que a reação dos bandidos da zona sul é "menos violenta".
De acordo com ele, o aumento de 19% de mortes de civis em suposto confronto com a polícia neste ano -segundo estatística divulgada anteontem pelo Instituto de Segurança Pública- se deve ao armamento cada vez mais pesado adotado por policiais e criminosos e ao fato de os traficantes não se renderem.
Beltrame reafirmou que a polícia não tem a intenção de matar. "Eu garanto para vocês que eu não quero matar ninguém. Sou católico apostólico romano praticante", disse.


Colaborou RAPHAEL GOMIDE


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