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Para secretário, tiro em Copacabana "é uma coisa" e, no Alemão, "é outra"
Beltrame diz que traficantes estão transferindo armas para a zona sul do Rio
ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO
O secretário de Segurança
Pública do Rio, José Mariano
Beltrame, afirmou ontem que
os traficantes estão transferindo seus armamentos para favelas da zona sul da cidade.
Segundo ele, a mudança faz
parte de uma estratégia dos criminosos para evitar as forças
de segurança do Estado, uma
vez que, para Beltrame, "é difícil a polícia ali entrar, porque
um tiro em Copacabana é uma
coisa. Um tiro na [favela da] Coréia, no complexo do Alemão
[nas zonas oeste e norte, respectivamente], é outra".
Provas dessa mudança seriam as três metralhadoras antiaéreas apreendidas no morro
Dona Marta, em Botafogo (zona sul) no início do mês. "Nós
temos hoje a informação que
muitos traficantes estão vindo
para a zona sul. No Pavão-Pavãozinho [em Copacabana],
Dona Marta, eu estou muito
próximo da população."
Para Beltrame, os traficantes
usam "inteligência" ao trocar
os locais das armas. "Por que
eles estão indo para o Pavão-Pavãozinho? Porque (...) uma
ação policial em Copacabana
tem uma repercussão muito
grande, porque as favelas e os
comandos estão a metros das
janelas da classe média."
O secretário disse que a aproximação entre as favelas e as
"janelas da classe média" não
vai evitar que a polícia realize
operações nesses locais, mas
será necessário "ter uma análise de critério muito grande".
"Vamos em frente. Não podemos recuar. (...) O critério
que eu vejo é geográfico. Temos
prédios muito próximos um do
outro. O cidadão que mora na
zona sul paga o mesmo imposto
de quem paga na zona norte. Isso não tem nada a ver. Uma coisa é atuar em favela plana, outra na favela em morro...".
Segundo o Censo 2000 do
IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística), a densidade demográfica no complexo do Alemão é de 21.961 pessoas por km2; em Botafogo, 16.584. Em Copacabana (zona
sul), onde está a favela do Pavão-Pavãozinho, a densidade é
de 35.851 por km2.
De acordo com dados do ISP
(Instituto de Segurança Pública), os autos de resistência
-mortos em supostos confrontos com a polícia- se concentram nas zona norte e oeste. As duas acumulam 90,6% dos registros na capital.
Na operação realizada no
Dona Marta, na zona sul, não
houve mortos. Semana passada, 14 supostos criminoso foram mortos em operação na favela da Coréia, na zona oeste.
O comandante-geral da Polícia Militar, coronel Ubiratan
Angelo, disse que a reação dos
bandidos da zona sul é "menos
violenta".
De acordo com ele, o aumento de 19% de mortes de civis em
suposto confronto com a polícia neste ano -segundo estatística divulgada anteontem
pelo Instituto de Segurança
Pública- se deve ao armamento cada vez mais pesado adotado por policiais e criminosos e
ao fato de os traficantes não se
renderem.
Beltrame reafirmou que a
polícia não tem a intenção de
matar. "Eu garanto para vocês
que eu não quero matar ninguém. Sou católico apostólico
romano praticante", disse.
Colaborou RAPHAEL GOMIDE
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