São Paulo, sexta-feira, 24 de outubro de 2008

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PMs podem ter se confundido, diz coronel

Comandante agora põe em dúvida se houve tiro antes da invasão; na véspera, ele disse que Nayara devia ter se confundido

Félix depôs no 6º DP, em Santo André, para esclarecer se Lindemberg atirou antes da invasão e por que Nayara voltou ao apartamento

Danilo Verpa - 17.out.08/Folha Imagem
Escada sem altura suficiente para alcançar o parapeito da janela

DA REPORTAGEM LOCAL
DO "AGORA"

O coronel Eduardo José Félix, comandante do Batalhão de Choque da Polícia Militar, admitiu ontem, pela primeira vez, que os PMs podem ter se confundido sobre o tiro ouvido antes de invadirem o apartamento onde Eloá Pimentel e Nayara Silva eram mantidas reféns. Até então, ele havia afirmado várias vezes que a equipe só invadiu o local após Lindemberg Alves ter dado um disparo.
"Pode ter ouvido um outro barulho e a equipe ter interpretado como tiro? Pode. Não vamos dizer que não", respondeu o coronel à pergunta feita por jornalistas se os cinco PMs que invadiram o apartamento podem ter confundido qualquer outro barulho, inclusive um rojão, com um tiro de revólver.
Na quarta-feira, logo após a polícia revelar que Nayara, em depoimento, afirmara que não houve disparo antes da invasão, Félix disse que a menina poderia ter se confundido.
Ontem, porém, ele recuou. "Da mesma forma que a menina Nayara pode ter se confundido, os policiais também podem", disse.
Ele deu entrevista após ter sido intimado a depor no 6º Distrito Policial, em Santo André. Foi chamado a depor para esclarecer duas coisas: se o tiro que a PM afirma que Lindemberg deu foi mesmo antes da invasão e por que o Gate permitiu que Nayara voltasse ao apartamento de onde havia sido libertada um dia antes.
"Todas as declarações que eu dei foram as mesmas que eu dei até agora. Não tem nada para mudar, nenhuma vírgula", disse o coronel Félix, sem entrar em detalhes sobre o que relatou aos policiais civis.
Para ele, somente os laudos da Polícia Técnico-Científica e, posteriormente, a reconstituição do crime, é que poderão esclarecer o que aconteceu.
"Agora, se esse disparo partiu de dentro ou partiu de fora do apartamento, se foi rojão, o laudo técnico vai dar. A perícia vai dar o laudo conclusivo", disse.
Félix voltou a afirmar que confia em sua equipe. "Confio nos homens, na equipe que invadiu, corroborado por três testemunhas [vizinhos] que ouviram o disparo [antes da invasão]", disse o coronel.
Ontem, Félix voltou a afirmar que a volta de Nayara ao apartamento "partiu dela". Segundo ele, a adolescente estaria segura se tivesse parado onde ficou o irmão da outra refém, Eloá -que teve morte cerebral no final da noite de sábado. "Mas ela [Nayara] continuou andando, e a equipe [do Gate], que estava na lateral, não teve condições de intervir. Uma ação policial ali poderia ter um desfecho ruim porque Lindemberg havia aberto a porta e apontado uma arma para Eloá", disse. Segundo Nayara, ela só entrou porque Lindemberg ameaçou matar Eloá se ela não o obedecesse.
Ele insistiu na tese de que a mãe da adolescente tinha autorizado a ação. Andrea Araújo, porém, afirmou aos jornalistas que só autorizou que a filha ficasse conversando com Lindemberg, pelo telefone, do lado de fora do prédio de Eloá.
A polícia informou que o inquérito do caso deve ser concluído hoje -mesmo sem a reconstituição do crime e o resultado da perícia- e que Lindemberg não será mais ouvido, pois ele se negou a falar.
(KLEBER TOMAZ)



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