São Paulo, sexta-feira, 24 de outubro de 2008

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Usar menina em negociação "não tem cabimento", diz desembargador

DA REPORTAGEM LOCAL

Para o desembargador Antonio Carlos Malheiros, coordenador da Infância e da Juventude do Tribunal de Justiça de SP, "não tem cabimento" a participação de Nayara nas negociações com Lindemberg.
Malheiros afirmou que, em uma situação de extrema necessidade, na avaliação da equipe de negociadores, ela não deveria nem sequer ter saído de casa -poderia ter tido uma participação por telefone e com acompanhamento da polícia.
"Não seria o ideal. Mas caso isso realmente pudesse ajudar -não consigo imaginar de que forma-, e não fosse trazer nenhum trauma ou dano psicológico, poderia ter essa participação por telefone", afirmou.
A crítica do desembargador se deu um dia após Nayara dar detalhes sobre sua participação nas negociações à Polícia Civil. Ela disse que entrou no prédio por orientação dos policiais.
A mãe da adolescente, Andréia Araújo, porém, afirma ter acordado com a polícia que Nayara participaria da negociação por telefone de uma escola que era usada pela polícia como uma base da operação.
Já a polícia disse que a mãe autorizou que a menina participasse da negociação. E que a garota descumpriu a orientação de não entrar no apartamento -ela deveria ter parado a uma distância "segura" da porta.
"Já acho algo extravagante pedir a participação dela por telefone. Mas não foi só isso o que aconteceu. Deixaram ela ir até a escada e ela não ficou no local mais distante, mas sim na linha de fogo. Não deram alternativa para ela não tomar aquela iniciativa [de voltar ao apartamento]", afirma. A menina alega que Lindemberg ameaçou matar Eloá se ela não entrasse.
Wladimir Nóbrega de Almeida, advogado de família e presidente da Comissão de Direito Civil da OAB, diz que a volta de um refém ao cativeiro "só aconteceu mesmo uma vez no mundo". "E foi nesse caso", diz.
Ele foi taxativo ao dizer que a polícia não deveria ter procurado a garota para que ela participasse da negociação, nem mesmo por telefone. "A polícia deveria ter sido "firme" em não permitir, mesmo com as exigências de Lindemberg. Entendo que a coisa andou errada do começo ao fim. A nossa polícia está precisando passar por bancos de uma academia para formar pessoas capacitadas para um caso como esse", afirma.
Ele diz ainda considerar um fato grave a eventual quebra do acordo entre a polícia e os pais de Nayara, e que ela não teria nenhuma condição psicológica ou treinamento para negociar da escada.


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