São Paulo, sexta-feira, 24 de novembro de 2000

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SEGURANÇA
Demissão de Rafik Louzada torna pública crise em secretaria do Rio; policiais civis reclamam de comando militar
Garotinho exonera chefe da Polícia Civil

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

O delegado Rafik Louzada foi exonerado ontem do cargo de chefe de Polícia Civil pelo governador do Estado do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho (sem partido). Com a demissão, o governo tornou pública uma crise que internamente já afetava a Secretaria da Segurança Pública.
Os policiais civis ameaçam fazer uma "operação padrão" (trabalhar de maneira displicente) em protesto contra o que chamam de "militarização da política de segurança", com a predominância de coronéis da Polícia Militar no comando da secretaria.
Garotinho creditou a demissão de Louzada ao fato de a Polícia Civil não estar conseguindo descobrir os autores da maioria dos casos de homicídios, depredações de ônibus e assaltos a residências.
A versão apresentada por policiais civis é outra. Para eles, Louzada foi demitido por levar ao governador a insatisfação da categoria com medidas adotadas pela secretaria, como o uso de uniforme pelos policiais que integrarão a Nova Polícia (nome dado ao trabalho conjunto de militares e civis em um mesmo órgão).
A demissão de Louzada, anunciada cedo pelo governo, estava decidida desde a noite anterior.
Anteontem, Garotinho se reuniu com Louzada, com o secretário da Segurança, coronel Josias Quintal, e com o coordenador de Segurança, coronel Jorge da Silva.
No encontro, o governador cobrou de Louzada mais engajamento da Polícia Civil nos trabalhos do Instituto de Segurança Pública, criado com o objetivo de unificar as polícias. O então chefe de Polícia Civil argumentou que os policiais estavam bastante irritados com o fato de a secretaria ser chefiada por coronéis da PM.
Após a conversa, o governador, sob a alegação de que a Polícia Civil vinha trabalhando com pouca eficiência na elucidação dos crimes, decidiu afastar Louzada. Desconfiado da decisão, ele já alertara assessores diretos, anteontem, de que seria exonerado.
Ontem, Garotinho disse que desconhece a "operação padrão" dos policiais civis. "Nos últimos três meses, venho avaliando as taxas de elucidação de crimes. Venho cobrando medidas para aumentar essa taxa, que, infelizmente, tem sido muito baixa", disse.
Louzada não comentou a exoneração. Em nota, disse estar à disposição do governador e do secretário de Segurança.
As entidades representativas dos policiais civis articulam protestos contra a política de segurança. A Associação dos Delegados de Polícia e o Sindicato dos Delegados pretendem entrar na Justiça contra o uso de uniformes.
Não há uma iniciativa conjunta para a realização de uma "operação padrão", mas policiais civis ouvidos pela Folha disseram que, desde o anúncio do uso de uniformes, os trabalhos estão sendo realizados de maneira mais lenta.
Para o presidente do Sindicato dos Delegados, Pedro Paulo Pinho, "a farda é incoerente com a atividade de investigar".
Diretor do Núcleo de Defesa dos Policiais Civis, Gemerson Dias afirmou que "as alegações do governo chegam a ser indecentes". Para Fernando Bandeira, presidente do Sindicato dos Policiais Civis, "o policial civil não irá, de jeito nenhum, usar farda".
Garotinho não admitiu rever o uso de uniformes, que, segundo ele, "é uma decisão de governo".



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