São Paulo, sexta-feira, 24 de novembro de 2000

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SAÚDE
Para médicos brasileiros, proposta ainda é "hipótese"
Francês defende nova linha de pesquisa para vacina contra Aids

DA REPORTAGEM LOCAL

Qual é o mecanismo natural que protege os milhares de portadores de HIV que nunca caem doentes? E se tal mecanismo vier a ser identificado, ele poderá ser inoculado em forma de vacina naqueles pacientes que não estão protegidos?
O virologista francês Jean Claude Chermann, que fez parte da equipe de Luc Montagnier na fase de identificação do vírus da Aids, acha que sim. Mais que isso, ele afirma já ter identificado esse mecanismo ao longo dos últimos sete anos de estudos.
Ontem, ele esteve em São Paulo para uma entrevista com jornalistas e uma palestra para médicos.
Um determinado antígeno (uma proteína chamada de R7V) seria o responsável pela produção dos anticorpos que neutralizariam o HIV, mantendo o paciente assintomático. A novidade, segundo o médico, é que em lugar de atacar o HIV -que passa por milhares de mutações-, o antígeno atacaria um pedaço de proteína que é incorporado pelo vírus e que é igual em todo paciente.
No momento, Chermann estaria contatando instituições de pesquisas para uma fase ainda preliminar da possível futura vacina. Nessa fase, com o uso de testes desenvolvidos pelo médico Ricardo Oliveira, seriam identificados pacientes com HIV "protegidos" e "não-protegidos". "Trata-se de uma fase que confirmará as teses do professor Chermann e que antecede ao início de um protocolo científico", diz Oliveira.
Para a Sociedade Brasileira de Infectologia, a proposta do médico francês "é apenas uma hipótese que pode vir a ser interessante". "Não podemos transformar uma hipótese que ainda precisa ser demonstrada em modelo que explique o inexplicável", diz Adauto Castelo, infectologista da Universidade Federal de São Paulo e presidente da SBI.
Castelo observa que em nenhum dos quatro últimos congressos internacionais sobre vacina foi feita qualquer referência à tese de Chermann. "Se fosse importante, a notícia já teria saído nas publicações científicas", afirma. Para ele, o grande desafio da ciência é "reconstituir a capacidade imunológica do organismo de reconhecer o HIV, o que reduziria o uso de remédios".
Para Chermann, sua "vacina é realidade, não uma tese".
(AURELIANO BIANCARELLI)


Texto Anterior: Vestibular: FGV-SP divulga o nome dos 200 aprovados em seu vestibular
Próximo Texto: Panorâmica: Polícia prende dez acusados de roubo a casas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.