São Paulo, sexta-feira, 24 de novembro de 2000

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CHILE
Aduana não registrou saída do país do veículo de turista em viagem anterior; ela foi algemada e levada em camburão
Erro em alfândega causa prisão de brasileira

FLÁVIA DE LEON
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao sair para programadas férias de dez dias com o marido no Taiti, Adriana Davini, 33, redatora da agência de publicidade DPZ, jamais poderia imaginar que faria uma escala na prisão no Chile e sem ter cometido crime algum.
A história começa no dia 2 deste mês. Ela e o marido, o fotógrafo Cássio Vasconcellos, pegaram um avião com destino a Papeete, com conexão em Santiago, capital chilena, onde aguardariam sete horas até seguir viagem.
Foi então que a companhia ofereceu alternativa para o tédio: os passageiros poderiam fazer um tour pela cidade e almoçar no aeroporto ou então visitar o município por conta própria e pagar a taxa de embarque no retorno.
Como já conheciam Santiago, Cássio e Adriana decidiram rever um restaurante do qual gostaram. Na volta, ao entregar o passaporte na polícia internacional, Adriana descobriu que era procurada por fraude aduaneira, com mandado de prisão expedido em 1997.
Adriana foi levada para uma sala no aeroporto. Enquanto isso, Cássio, o marido, tentava falar com o consulado brasileiro. Feriado no Brasil, a funcionária de plantão disse apenas que não poderia ajudar e recomendou a ele que procurasse a repartição no dia seguinte.
Adriana conseguiu, com muito choro e drama, convencer os policiais a deixá-la passar a noite presa no aeroporto. Mas, na manhã seguinte, com a troca da equipe de policiais, foi mandada para a prisão, algemada e em camburão.
Do lado de fora, Cássio tentava descobrir qual era, afinal, o problema. Soube que a denúncia era da aduana de Osorno, exatamente o local por onde haviam entrado no Chile, cinco anos antes, a bordo da camionete de Adriana. Saíram por El Libertadores.
Cássio acionou a família de Adriana, que estava na praia aproveitando o feriado, e começou a coleta de papéis: documentos do carro e o passaporte antigo dela para provar que havia entrado e saído do país com o carro.
Adriana, por sua vez, esperava uma audiência com o juiz que havia sido marcada para o dia seguinte, dia 3. Para sua surpresa, a audiência foi antecipada para a tarde daquele mesmo dia. Mas, ao chegar ao tribunal, foi informada de que continuaria presa, pois a aduana de Osorno não havia encontrado o processo.
Mais choro, e uma funcionária se sensibilizou. Telefonou para a aduana até ser atendida. O processo havia sido localizado, e Adriana pagou o equivalente a US$ 100 como fiança.
Porém a viagem para o Taiti ainda estava ameaçada. Sem pegar o "nada consta" de Osorno, ela não teria o passaporte de volta. Osorno fica a mil quilômetros de Santiago e o último avião para lá já havia decolado.
Enfrentaram uma viagem de ônibus de 12 horas. "Chegamos ao Tribunal de Crimes de Osorno às 11h30. Só então soube que o problema era com o carro, que a aduana não registrou sua saída do país. A escrivã logo entendeu que era tudo um grande erro, anexou os faxes ao processo, entrou na sala do juiz e pegou sua assinatura. Nem precisei falar com o juiz."
Saldo da viagem: a maior parte das noites sem dormir e menos US$ 4.000 no bolso, o preço pago no Chile, entre advogado, fiança e traslado até Osorno, para livrá-la de uma culpa que ela não tinha.
Procurado pela Folha, o Ministério das Relações Exteriores recomendou que Adriana mande uma carta ao ministro Luiz Felipe Lampreia contando sua história para que ele possa tomar as providências cabíveis.


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