São Paulo, domingo, 24 de novembro de 2002

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PARENTES DESAPARECIDOS

Victor, 14, foi levado para a Espanha pela mãe quando tinha quatro anos e só reviu o pai em abril

Telefonema encerrou busca de dez anos

Patrícia Santos/Folha Imagem
Toshio Toyota abraça o filho Victor, que ficou dez anos sem ver


DA AGÊNCIA FOLHA

Um espaço vazio que nunca será preenchido. Esse é o sentimento do médico e prefeito de Novo Horizonte, Toshio Toyota (PPS), 52, em relação aos dez anos que ficou afastado do seu filho Victor, 14, levado pela mãe para a Espanha quando tinha quatro anos.
Durante esse período, o pai nunca deixou de procurar o filho. Contratou detetives, foi atrás de pistas falsas e chegou a procurá-lo até na Argentina, em vão.
Toyota e a mulher, Shirlei Tropico, se separaram quando Victor tinha dois anos. Ela se mudou com o filho para São Paulo. Ele passou a visitá-lo nos finais de semana, até conseguir a guarda definitiva do filho na Justiça dois anos depois.
Na época, Toyota exercia a profissão de médico ortopedista e conseguiu provar que tinha melhores condições de criar o garoto. Shirlei se recusou a entregar o filho. Quando Toyota chegou para visitá-lo em um final de semana de 1992, não encontrou ninguém.
"Na última visita que fiz ao meu filho, ele não queria me deixar ir embora. Nunca esqueci isso", relembra Toyota.
Shirlei mudou-se com Victor e a sua mãe, de origem argentina, para La Coruña, na Espanha. O nome de Victor Toshio Tropico Toyota foi alterado para Victor Hugo Tropico. O nome do pai foi suprimido do registro.
Shirlei se casou novamente e teve mais um filho, Victor André, hoje com sete anos -que também veio ao Brasil com o irmão, mas já voltou para a Espanha.
Há dois anos, Shirlei morreu em um acidente de carro. Como o pai de Victor André também já havia morrido, as crianças ficaram com a avó materna.
O fim do pesadelo começou em abril, quando o prefeito recebeu uma ligação de uma pessoa que dizia ter encontrado seu filho.
Essa pessoa, que Toyota prefere não identificar, encontrou o seu nome em uma carteira de vacinação antiga e foi atrás do seu paradeiro até encontrá-lo no Brasil.
Com a ajuda da Interpol, da Polícia Federal, do Ministério das Relações Exteriores e da Polícia Federal espanhola, o prefeito conseguiu localizar Victor.
No dia 15 de abril, pai e filho se reencontraram na escola do menino, na Espanha. "Foi um abraço longo, demorado. Não tenho como descrever esse momento."
Em julho, Victor chegou ao Brasil para passar as férias. Acabou resolvendo ficar por um ano.
"O tempo é curto ainda, falta muito para ter uma relação de amizade muito grande, e essa é a grande perda. O convívio com uma criança de três, quatro anos não volta mais", diz o prefeito. (AK)


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