São Paulo, quinta-feira, 24 de novembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JUVENTUDE ENCARCERADA

Após rebelião que terminou com a morte de interno, tucano atacou excesso de internações e criticou ONGs

Alckmin culpa Justiça por crise na Febem

VICTOR RAMOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), responsabilizou a Justiça e entidades de direitos humanos pela crise enfrentada pela Febem. As declarações foram dadas depois da 34ª rebelião do ano que terminou com a morte de um adolescente e deixou 55 feridos no complexo do Tatuapé (zona leste da capital paulista).
Jhonatan Vieira Anacleto, 17, morreu ontem, após cair do telhado durante a rebelião de anteontem.
Em entrevista anteontem à noite à rádio CBN, o governador atacou o excesso de internações determinadas pela Justiça, cobrou a atuação do Ministério Público e acusou a Amar (associação de mães de internos) e o Movimento Nacional dos Direitos Humanos de só criarem problemas.
Ele citou nominalmente a presidente da Amar, Conceição Paganele, o representante do Movimento Nacional dos Direitos Humanos, o advogado Ariel de Castro Alves, e o procurador-geral de Justiça, Rodrigo Pinho. Os ataques geraram protestos de várias organizações.
"A causa do problema é que há excesso de internação e não se utilizam outros meios, como liberdade assistida e semi-liberdade. O adolescente está sendo mais punido do que o adulto. O ECA [Estatuto da Criança e do Adolescente] está sendo desrespeitado", disse o governador à rádio, acrescentando que cobrou providências do Ministério Público a esse respeito.
Depois, criticou as ONGs. "Algumas dessas organizações não-governamentais trabalham permanentemente contra o governo. Esse Ariel, Conceição, esse pessoal o dia inteiro cria problemas, não faz nada para ajudar."
Ontem à noite o governador voltou às críticas, ao dizer que os episódios não ocorreram por "geração espontânea". "Eles foram incitados, estimulados", afirmou Alckmin, que determinou uma investigação para confirmar se houve estímulo à rebelião.
Anteontem, Alckmin também disparou contra o governo Lula, afirmando que a Febem não recebeu nenhum apoio da União. Em resposta, o subsecretário nacional de Promoção dos Direitos da Criança e Adolescente, Amarildo Baesso, disse ontem que o Estado não submeteu nenhum projeto relativo à Febem para avaliação do governo federal.

Crise
A sucessão de motins em complexos da Febem tem sido um dos principais focos das críticas ao governo de Geraldo Alckmin, um dos presidenciáveis tucanos.
Quinta-feira da semana passada, a Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos) determinou que o governo adote medidas para garantir a integridade física dos internos do Tatuapé, principal foco das revoltas.
Em março, em meio a rebeliões, o governador anunciou um plano de descentralização da Febem, com a construção de 41 unidades no interior paulista. O anúncio previa a conclusão em 150 dias e a desativação do Tatuapé.
O projeto ainda não foi realizado e, até agora, apenas sete dessas unidades tiveram suas obras iniciadas. Segundo a Febem, há muita resistência por parte das prefeituras em receber as unidades da instituição em suas cidades.


Texto Anterior: Há 50 anos: Câmara aprova estado de sítio
Próximo Texto: Até a Anistia Internacional reage às críticas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.