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Lembo aumenta o Metrô para R$ 2,30 e frustra Serra
Equipe do governador eleito teme saturação das linhas e aumento do déficit da empresa
Tarifa entra em vigor dia 30, mesmo dia em que valor do ônibus sobe; técnicos temem migração de mais usuários de ônibus para o Metrô
EVANDRO SPINELLI
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
O governador de São Paulo,
Cláudio Lembo (PFL), anunciou a elevação da tarifa do Metrô e dos trens de R$ 2,10 para
R$ 2,30, valor que será igual ao
dos ônibus e que rompe com a
estratégia adotada ao longo dos
anos de manter preços superiores no sistema sobre trilhos.
O reajuste de 9,5%, a partir
do dia 30, será acima da inflação acumulada desde janeiro
de 2005 -8,2% pelo IPCA e
5,6% pelo IPC-, mas ficará
abaixo do que os técnicos ligados tanto ao Estado como ao
prefeito Gilberto Kassab (PFL)
e ao futuro governador José
Serra (PSDB) reivindicavam.
A decisão surpreendeu assessores de Kassab e Serra, para
quem ela teria que ser de no mínimo R$ 2,40, e motivou uma
troca de ofensas nos bastidores.
O prefeito de São Paulo havia
anunciado na semana passada
um reajuste de 15% nos ônibus,
de R$ 2 para R$ 2,30 (que vai
entrar em vigor no mesmo dia
30, depois da confusão envolvendo a divulgação de outras
datas). O bilhete único integrado entre os dois sistemas salta
16,7%, de R$ 3 para R$ 3,50.
Lembo alegou motivações
sociais para não atender ao
pleito de tucanos e pefelistas.
As justificativas de técnicos
do Estado, de Kassab e de Serra
para a resistência aos R$ 2,30
abrangem questões financeiras, operacionais e políticas.
A equipe do governador tucano eleito queria que o metrô
fosse para R$ 2,40. A solicitação foi feita a Lembo pelo futuro secretário da Fazenda, Mauro Ricardo, com a alegação de
que haveria déficit e que Serra
teria que aumentar os subsídios e prejudicar outras áreas.
Lembo avaliou que seria "extorsão" definir algo muito acima da inflação. Ontem, ele disse que não quis deixar a alta para dezembro porque seria um
"Papai Noel às avessas". "Vamos fazer em novembro, que
tem toda a tristeza de Finados."
Outro argumento pelos R$
2,40 é a situação financeira do
Metrô. A empresa fechará 2006
com um déficit de R$ 18 milhões, contra R$ 8 milhões em
2005. O buraco deve ser de R$
30 milhões no ano que vem
com a passagem a R$ 2,30.
Com a tarifa igual à dos ônibus, os técnicos afirmam haver
a tendência de migração de
passageiros ao Metrô, agravando a superlotação em linhas saturadas e provocando perda de
receita de viações municipais.
Neste ano, por conta do bilhete integrado, já houve aumento de 10% na demanda no
Metrô, contra a previsão de 6%.
O motivo político envolve as
eleições de 2008. Com a nova
passagem, dificilmente Serra
conseguirá segurá-la congelada
por dois anos, conforme pretendia para evitar desgastes.
Estudos
O anúncio da nova tarifa (os
ônibus intermunicipais também vão aumentar 9,5%) ocorreu após semanas de impasse
de Lembo com a prefeitura e
com assessores do Estado.
O objetivo era reajustar os
coletivos municipais e a rede
estadual ao mesmo tempo, até
devido ao bilhete integrado,
mas, insatisfeito com a demora,
Kassab anunciou primeiro.
O secretário dos Transportes
Metropolitanos, Jurandir Fernandes, levou diversas planilhas a Lembo, com valores de
até R$ 2,70. O governador recusava e pedia novos estudos.
"O problema de R$ 2,30 é que
os passageiros do ônibus migram ao Metrô. E não cabe
mais gente no Metrô", declarou
Fernandes anteontem.
Lembo foi ontem irônico em
relação à pressão que vinha sofrendo. "Se você deixasse, eles
aumentavam para R$ 5."
Ao ser questionado sobre um
provável buraco de R$ 30 milhões em 2007, citado por Fernandes, ele disse que haverá
"equilíbrio", sem "gordura", e
respondeu: "Mas ele então reviu esses cálculos dele. Deve ter
ido à Unicamp, de Campinas,
de onde ele veio, reestudou matemática financeira e acertou".
Colaborou CÁTIA SEABRA , da Reportagem Local
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