São Paulo, sexta-feira, 24 de novembro de 2006

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Lembo aumenta o Metrô para R$ 2,30 e frustra Serra

Equipe do governador eleito teme saturação das linhas e aumento do déficit da empresa

Tarifa entra em vigor dia 30, mesmo dia em que valor do ônibus sobe; técnicos temem migração de mais usuários de ônibus para o Metrô

EVANDRO SPINELLI
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

O governador de São Paulo, Cláudio Lembo (PFL), anunciou a elevação da tarifa do Metrô e dos trens de R$ 2,10 para R$ 2,30, valor que será igual ao dos ônibus e que rompe com a estratégia adotada ao longo dos anos de manter preços superiores no sistema sobre trilhos.
O reajuste de 9,5%, a partir do dia 30, será acima da inflação acumulada desde janeiro de 2005 -8,2% pelo IPCA e 5,6% pelo IPC-, mas ficará abaixo do que os técnicos ligados tanto ao Estado como ao prefeito Gilberto Kassab (PFL) e ao futuro governador José Serra (PSDB) reivindicavam.
A decisão surpreendeu assessores de Kassab e Serra, para quem ela teria que ser de no mínimo R$ 2,40, e motivou uma troca de ofensas nos bastidores. O prefeito de São Paulo havia anunciado na semana passada um reajuste de 15% nos ônibus, de R$ 2 para R$ 2,30 (que vai entrar em vigor no mesmo dia 30, depois da confusão envolvendo a divulgação de outras datas). O bilhete único integrado entre os dois sistemas salta 16,7%, de R$ 3 para R$ 3,50.
Lembo alegou motivações sociais para não atender ao pleito de tucanos e pefelistas. As justificativas de técnicos do Estado, de Kassab e de Serra para a resistência aos R$ 2,30 abrangem questões financeiras, operacionais e políticas.
A equipe do governador tucano eleito queria que o metrô fosse para R$ 2,40. A solicitação foi feita a Lembo pelo futuro secretário da Fazenda, Mauro Ricardo, com a alegação de que haveria déficit e que Serra teria que aumentar os subsídios e prejudicar outras áreas.
Lembo avaliou que seria "extorsão" definir algo muito acima da inflação. Ontem, ele disse que não quis deixar a alta para dezembro porque seria um "Papai Noel às avessas". "Vamos fazer em novembro, que tem toda a tristeza de Finados." Outro argumento pelos R$ 2,40 é a situação financeira do Metrô. A empresa fechará 2006 com um déficit de R$ 18 milhões, contra R$ 8 milhões em 2005. O buraco deve ser de R$ 30 milhões no ano que vem com a passagem a R$ 2,30.
Com a tarifa igual à dos ônibus, os técnicos afirmam haver a tendência de migração de passageiros ao Metrô, agravando a superlotação em linhas saturadas e provocando perda de receita de viações municipais.
Neste ano, por conta do bilhete integrado, já houve aumento de 10% na demanda no Metrô, contra a previsão de 6%. O motivo político envolve as eleições de 2008. Com a nova passagem, dificilmente Serra conseguirá segurá-la congelada por dois anos, conforme pretendia para evitar desgastes.

Estudos
O anúncio da nova tarifa (os ônibus intermunicipais também vão aumentar 9,5%) ocorreu após semanas de impasse de Lembo com a prefeitura e com assessores do Estado. O objetivo era reajustar os coletivos municipais e a rede estadual ao mesmo tempo, até devido ao bilhete integrado, mas, insatisfeito com a demora, Kassab anunciou primeiro.
O secretário dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, levou diversas planilhas a Lembo, com valores de até R$ 2,70. O governador recusava e pedia novos estudos. "O problema de R$ 2,30 é que os passageiros do ônibus migram ao Metrô. E não cabe mais gente no Metrô", declarou Fernandes anteontem.
Lembo foi ontem irônico em relação à pressão que vinha sofrendo. "Se você deixasse, eles aumentavam para R$ 5." Ao ser questionado sobre um provável buraco de R$ 30 milhões em 2007, citado por Fernandes, ele disse que haverá "equilíbrio", sem "gordura", e respondeu: "Mas ele então reviu esses cálculos dele. Deve ter ido à Unicamp, de Campinas, de onde ele veio, reestudou matemática financeira e acertou".


Colaborou CÁTIA SEABRA , da Reportagem Local


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