|
Próximo Texto | Índice
Governadora admite ser comum mulher em cela de homens
Ana Júlia Carepa, do Pará, diz que casos como o da adolescente presa em cela masculina ocorrem no Estado "há algum tempo"
Em 96, mulher acusada de matar marido ficou 7 meses presa com 35 homens e relatou vários estupros;
ela acabou inocentada
SÍLVIA FREIRE
DA AGÊNCIA FOLHA
A governadora do Pará, Ana
Júlia Carepa (PT), admitiu ontem que casos como o da adolescente que ficou presa por
quase um mês na mesma cela
com 20 homens, na cidade de
Abaetetuba, ocorrem no Estado "há algum tempo".
"Essa é uma prática lamentável, que, infelizmente, já acontece há algum tempo. Mas é
bom tornar tudo isso público,
para que toda a sociedade se
mobilize e possamos acabar
com essas práticas. O sistema
de segurança vai investigar
com rigor todas as denúncias",
disse a governadora, em nota
publicada no site do governo.
Há pelo menos 11 anos o Movimento de Mulheres do Campo e da Cidade (MMCC), entidade de defesa dos direitos da
mulher, denuncia casos semelhantes no interior do Estado.
Em março deste ano, segundo Elisety Maia, coordenadora
do MMCC e integrante do Conselho Estadual da Mulher do
Pará, ocorreu um outro caso de
uma mulher presa na carceragem de Abaetetuba.
"Fizemos um requerimento
colocando a situação ao Conselho Estadual da Mulher e apresentamos como solução a construção de uma delegacia da mulher no município e não houve
providências", disse Maia.
Em 1996, o movimento denunciou o caso da presa Salma
Simas, então com 40 anos, que
dividiu uma cela com outros 35
homens durante sete meses.
Simas, presa sob acusação de
matar o marido, afirmou na
época que foi estuprada diversas vezes na cadeia. Uma primeira sindicância aberta para
apurar o caso foi arquivada. A
justificativa para colocá-la na
cela com os presos foi a mesma
dada agora: a falta de cela para
mulheres na delegacia. Ela foi
inocentada do crime depois.
Eliana Fonseca, representante do MMCC no Conselho
Estadual da Mulher do Pará,
disse que nos últimos dez anos
o movimento já denunciou casos semelhantes ao da menina
de Abaetetuba ocorridos em
Altamira, Tucuruí e até mesmo
em Abaetetuba.
"O problema de mulher presa convivendo com homens no
Pará não é de agora. Infelizmente teve que acontecer este
caso com a adolescente para o
problema vir à tona." Segundo
ela, a participação de mulheres
em crimes cresceu nos últimos
anos, mas o Estado não ampliou as prisões femininas.
Ontem, em entrevista coletiva, a governadora se disse "indignada" com a prisão da adolescente e afirmou que o Estado vai averiguar com rigor as
responsabilidades. Ela disse
que irá investigar todos as denúncias que surgirem.
Menina sairá do Estado
Na madrugada de ontem,
chegou a Belém do Pará missão
da Subsecretaria de Promoção
dos Direitos da Criança e do
Adolescente, ligada à Presidência da República, chefiada pela
advogada Márcia Ustra Soares,
42. Missão: retirar a menina e
seus pais do Pará e colocá-los
no serviço nacional de proteção
a testemunhas, longe de potenciais agressores.
A menina fez também um
teste de gravidez para constatar
se está esperando um filho. É
possível que ela tenha engravidado na prisão. Ela disse ter sido estuprada pelos presos no
período em que esteve detida.
Resultado do exame da arcada dentária atestou que ela tem
em torno de 15 anos. O teste foi
feito para tirar a dúvida sobre a
idade dela. A delegacia em
Abaetetuba informou que, ao
ser presa, ela disse ter 19 anos.
Próximo Texto: ONU classifica prisão de "tortura sistemática'; para Anistia Internacional, caso é "chocante' Índice
|