São Paulo, quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Rio investiga união de facções para ataques

Polícia obtém gravações em que criminosos combinam atirar contra prédios dos governos estadual e municipal

Onda de incêndios em carros e de arrastões aumenta a sensação de insegurança; polícia fica em estado de alerta

Silvia Izquierdo/AP
Policiais militares fazem ronda na região da favela de Manguinhos, na zona norte do Rio; cidade sofreu novos ataques

PLÍNIO FRAGA
DO RIO

Os serviços de inteligência da Polícia do Rio capturaram conversas entre traficantes de duas facções criminosas articulando eventual mega-ação de confronto para o próximo sábado, dia 27, segundo a Folha apurou.
O policiamento nas ruas foi reforçado, com os agentes colocados em estado de alerta, e operações foram deflagradas para impedir que o confronto se materialize.
Durante a madrugada, dois homens foram presos e dois adolescentes apreendidos com bombas caseiras em Copacabana. A polícia fez incursões em 18 favelas.
Nas conversas entre traficantes interceptadas pela polícia aparecem sugestões de atirar contra as sedes dos governos estadual e municipal e lançar explosivos em áreas de grande aglomeração, como shopping centers na zona sul e pontos de ônibus.
Foram ventiladas por integrantes das facções criminosas o planejamento de ações para atingir diretamente familiares do governador Sérgio Cabral Filho (PMDB).

REUNIÃO DE BANDIDOS
No final de semana, de acordo com informações obtidas pelo serviço de inteligência, um grupo de traficantes da Rocinha, do círculo próximo a Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, chefe do tráfico no morro da zona sul e maior liderança da facção criminosa ADA (Amigo dos Amigos), pernoitou no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio, principal área de atuação do Comando Vermelho.
Esses traficantes acertaram com Luciano Martiniano da Silva, o Pezão, e Fabiano Atanazio da Silva, o FB, lideranças do Complexo do Alemão e da Vila Cruzeiro, uma ação conjunta que visa confrontar o governo e as operações da polícia.
"Temos percebido que pode haver a ligação entre o CV e a ADA", admitiu ontem em entrevista o secretário José Mariano Beltrame.
A Secretaria de Segurança rastreia conversas sobre reações do tráfico às chamadas UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) com mais intensidade desde agosto. Relatos de informantes e escutas detectaram articulações para uma ação orquestrada de criminosos no dia 2 de outubro, nas vésperas do primeiro turno da eleição. Falava-se de um "show de horror" em locais próximos a comunidades com UPPs e em áreas de grande movimentação da zona sul.

REDUÇÃO DE LUCRO
A articulação da operação não prosperou, mas a retomada de ações contra as UPPs era esperada pela polícia. As unidades inibem pontos de venda do tráfico e, por consequência, a arrecadação de dinheiro das facções.
Esquematizadas como "microempresas", as bocas de fumo têm compromissos como pagamentos semanais -do olheiro ao gerente, incluindo propinas a policiais.
Para cumprir essas "obrigações", buscam dinheiro em assaltos e arrastões.
A operação policial feita ontem não atingiu o que se considera o centro das operações de confronto, o Complexo do Alemão e a Vila Cruzeiro. Nesta última, chegou a haver operação nas ruas de acesso, mas sem entrar na favela. São dessas favelas e da Mangueirinha, em Duque de Caxias, que partem os chamados "bondes" para tentar espalhar terror pela cidade, de acordo com investigadores. Por se tratarem dos grupos mais bem armados do Rio, uma ação da polícia nesses lugares pode levar a um número elevado de mortes.


Colaborou FELIPE CARUSO


Próximo Texto: Análise: UPPs são passo importante, mas insuficiente para combater crime
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.